Prazeres / Sabores

Comer leitão e beber um copo com Bruno Aleixo

O Rocim apresentou em Lisboa, no Mercado da Ribeira, a mais recente edição de Dr. Bruno, um clarete da Bairrada. A marca aproveitou para apresentar novidades e o próprio Bruno Aleixo não faltou ao evento.

Foto: @Herdade do Rocim
01 de outubro de 2024 | Diego Armés

Quem conhece os ensinamentos de Bruno Aleixo, sabe perfeitamente que leitão é para se comer em tronco nu. E, no entanto, durante "Um lanche com o Bruno Aleixo", quando a cabidela de leitão chegou à mesa, nem um dos presentes despiu a parte de cima - e entre os presentes encontrava-se o próprio Bruno, embora na sua versão humana, a que chamam João Moreira. 

O lanche, que teve como pretexto o lançamento do novo vinho Dr. Bruno, reuniu, no Pigmeu da Ribeira, no Mercado da Ribeira, uma série de pessoas ligadas aos vinhos, ao jornalismo, ao próprio Bruno Aleixo e até pessoas ligadas a mais do que um destes elementos, quando não mesmo relacionadas com todos eles. Foi um momento de boa disposição, de muita conversa e de petiscos tradicionais acompanhados pelos vinhos mais recentes que o Rocim decidiu destacar na ocasião. 

A presença do Rocim neste lanche com Bruno Aleixo tem uma explicação muito lógica. É que o vinho Dr. Bruno resulta de uma parceria entre o Rocim e a Quinta da Lagoa Velha, da Bairrada. Recentemente, a marca Rocim tem-se expandido desde a Herdade que é o seu quartel-general, no Baixo Alentejo, junto à Vidigueira, para outras nobres regiões vinícolas do País, como são os casos do Algarve e da Bairrada, por exemplo.  

O vinho Dr. Bruno resulta de uma parceria entre o Rocim e a Quinta da Lagoa Velha, da Bairrada.
O vinho Dr. Bruno resulta de uma parceria entre o Rocim e a Quinta da Lagoa Velha, da Bairrada. Foto: DR

Pois é precisamente da Bairrada que chega esta segunda edição do Dr. Bruno, um vinho clarete (semelhante ao palhete em praticamente tudo, mas principalmente na cor, no grau alcoólico e na curtimenta parcial; difere deste na medida em que não são nunca usadas uvas brancas na sua composição, ao passo que o palhete tolera uma integração de até 15% de extração de vinho branco), ótimo para ser bebido depois de refrescado e que é, segundo as palavras do próprio Bruno, "um vinho mais para garotos". É brincadeira, pois claro, até porque se trata de um clarete com teor alcoólico superior a 12%. No entanto, pode ser um néctar perigoso - leve, doce, com uma muito subtil presença de álcool, pode facilmente ser confundido com uma bebida inofensiva, coisa que não é. 

 Bruno Aleixo é, sem exageros, um dos ex-líbris da Bairrada, a par da citada casta Baga e do também já mencionado leitão.
Bruno Aleixo é, sem exageros, um dos ex-líbris da Bairrada, a par da citada casta Baga e do também já mencionado leitão. Foto: DR

O projeto do Rocim de fazer um vinho da Bairrada - e a partir da Baga, a casta tradicional da região - foi, desde o início, pensado para uma parceria com Bruno Aleixo. Porquê? Porque Bruno Aleixo é, sem exageros, um dos ex-líbris da Bairrada, a par da citada casta Baga e do também já mencionado leitão. Além disso, João Moreira é, ele próprio, um cidadão da Bairrada, com origem familiar em Anadia. "E a minha família também faz lá vinho", acrescenta o homem que dá voz a Bruno Aleixo e que é também co-autor, juntamente com Pedro Santo, da célebre e carismática personagem de humor que começou por ser um intimidante Ewok e se transformou, quando transitou para o formato televisivo, num cão de raça indefinida, resultado da mistura entre um peluche e outro animal qualquer. 

"O Dr. Bruno é um clarete que reflete precisamente o perfil do Bruno Aleixo", explica o representante do Rocim enquanto apresenta o vinho. "É, ao mesmo tempo, jovem e irreverente, mas também é um clássico, porque o clarete é um vinho que se bebia há 40 e há 50 anos, e que entretanto caiu um pouco em desuso." Já agora, o nome do vinho é Dr. Bruno, mas era para se chamar Bruno Aleixo, mesmo. Só que, aparentemente, já existia na Bairrada um vinho com Aleixo no nome, pelo que o Rocim preferiu não correr riscos e evitar processos relacionados com as designações. Isto é tudo verdade. 

O Rocim aproveitou a ocasião, que tantas pessoas juntou no Pigmeu da Ribeira num fim de tarde de setembro, para mostrar e dar a provar novas colheitas de referência da marca.
O Rocim aproveitou a ocasião, que tantas pessoas juntou no Pigmeu da Ribeira num fim de tarde de setembro, para mostrar e dar a provar novas colheitas de referência da marca. Foto: DR

O Rocim aproveitou a ocasião, que tantas pessoas juntou no Pigmeu da Ribeira num fim de tarde de setembro, para mostrar e dar a provar novas colheitas de referência da marca. Primeiro, provou-se o Quinta da Pedragosa, um rosé leve e de acidez equilibrada com origem no Sul de Portugal, "num terroir pedregoso", elucidam, o que explica o nome da quinta, que fica ao pé de Lagos. O Quinta da Pedragosa Inspired by Rocim é produzido a partir da tradicional casta algarvia Negra Mole, com uma ligeira presença de Aragonez. 

Pouco depois, chegou à mesa a mais recente edição do Grande Rocim Reserva Branco, um vinho sedoso e encorpado, cuja complexidade pedia mais demora na degustação. Porém, o tempo era pouco e os vinhos ainda eram muitos, pelo que se avançou para mais um, mas não para um qualquer: o Herdade do Rocim Âmphora Tinto é um vinho de talha, feito segundo os preceitos ancestrais que os romanos levaram e implantaram na região da Vidigueira, fazendo com que os vinhos da zona se distingam dos demais até hoje. O novo Âmphora traz com ele tudo o que se espera de um tinto de talha bem feito: uma cor translúcida, uma leveza muito jovial e uma acidez moderada. O primeiro copo pede um segundo. 

O novo Âmphora traz com ele tudo o que se espera de um tinto de talha bem feito: uma cor translúcida, uma leveza muito jovial e uma acidez moderada.
O novo Âmphora traz com ele tudo o que se espera de um tinto de talha bem feito: uma cor translúcida, uma leveza muito jovial e uma acidez moderada. Foto: DR

O mais especial dos vinhos em apresentação ficou para o fim, o que se compreende. Falamos do Vinha da Micaela 2021, a segunda edição do vinho do Rocim com este rótulo - antes, com uvas da mesmíssima vinha, foi produzido o Júpiter, vinho capaz de dividir opiniões de apreciadores e de leigos que, até hoje, não conseguiram chegar a um consenso: seria extraordinário ou apenas uma extravagância? Pouco importa. Agora, chega-nos à mesa o Vinha da Micaela, também ele fermentado nas talhas, como manda a tradição da região onde lhe nascem as uvas. E são poucas uvas as que lhe dão origem, pois brotam de cepas velhas - mas verdadeiramente velhas, com 80 ou 90 anos, ou até mais - de uma parcela com exatamente 3600 m2. O que daí resulta são, no máximo, três talhas cheias, ou seja, 2400 litros, se tudo correr bem. É um vinho raro sob todas as perspetivas e definições e que, até por isso, merece uma degustação cuidada, atenta e prazerosa. O próprio Bruno Aleixo bebeu e gostou. Gostámos todos. 

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