São Salvador da Torre: como o Loureiro se está a transformar na nova casta estrela dos vinhos verdes
“O que mais importa nestes projetos são as pessoas que reunimos”, dizem, à vez, Jorge Dias e Anselmo Mendes, dois grandes senhores do vinho, unidos por uma longa amizade e juntos num dos projetos mais inovadores da região dos Verdes.

São Salvador da Torre é um velho Paço, de charme minhoto e com mais de 400 anos de história. Uma quinta totalmente murada, com 37 hectares de área, 30 dos quais de vinha – naquela que será uma das maiores manchas de vinhedo na região dos Verdes. A quinta foi recentemente adquirida pela Granvinho, juntando-se a marcas como Porto Cruz, Dalva ou Ventozelo, no Douro, e Justino’s, na Madeira.
Nas vinhas encontramos duas castas bem típicas da região, Alvarinho e Loureiro, e apesar da primeira ser normalmente considerada a rainha dos Vinhos Verdes, é o Loureiro que aqui mais brilha — numa tendência que parece ter vindo para ficar, sobretudo neste vale do Lima.

Jorge Dias, CEO do grupo, explica a aposta com a convicção "no futuro do Vinho Verde e, em particular, das castas Alvarinho e Loureiro — um produto muito bem-adaptado aos novos tempos e hábitos de consumo".
A propriedade acompanha o rio e dista 10 quilómetros do mar, em linha reta — o que permite à brisa atlântica invadir calmamente as vinhas e deixar um coberto vegetal com espécies típicas da zona costeira. Essa influência marítima será uma das características mais marcantes destes vinhos, que oferecem uma salinidade vincada, embora não tão evidente ou seca como nas ilhas.
Outro elemento distintivo é a água, com várias fontes e minas espalhadas pela propriedade. Anselmo Mendes, enólogo do projeto, sublinha a sua importância: "Embora o Minho seja mais ‘verde’, sofre também com stress hídrico, como outras regiões, pelo que estas minas são fundamentais para manter a humidade do solo." Uma dessas fontes, em particular, destaca-se por um bonito edifício barroco, cujo desenho serviu de inspiração para os rótulos dos vinhos.

Um paço abençoado
As origens da propriedade remetem para os domínios do mosteiro beneditino de São Salvador da Torre, que recebeu carta de couto de D. Afonso Henriques em 1129. Mais tarde, já no século XVII, e por bula papal de Júlio III, foi autorizada a construção de uma capela em honra de Santo Isidoro (ou Isidro), e a quinta passou também a ser conhecida por esse nome. A casa senhorial será contemporânea da capela, tendo sofrido importantes alterações na década de 1850, como a adição de uma nova ala. É dessa época também o painel de azulejos na fachada em honra de São José — o que parece garantir tripla proteção divina.

A recuperação do paço, conduzida pelo arquiteto Luís Pedro Silva, está concluída e permite sonhar com um projeto de enoturismo perfeitamente integrado na região, semelhante ao que o grupo fez em Ventozelo – um dos mais bonitos e completos projetos de recuperação do Douro.
Será o próprio Jorge Dias — que antes de liderar a empresa foi um dos dois responsáveis pela candidatura do Douro a Património da Humanidade — o primeiro a citar os Cabeçudos e os Gigantones, a cerâmica de Iva Viana e a falar da dieta atlântica, "muito diferente da mediterrânica".
"O Douro era um projeto mais simples, no sentido em que éramos todos do Douro", explica. "Aqui ainda andamos um pouco à pesca. Mas isso é positivo, porque abre espaço a um discurso diferente. Estamos a descobrir todas as valências sociais e culturais da região, e gostávamos muito que o projeto absorvesse tudo isso."
À semelhança de Ventozelo, também aqui a ideia é crescer aproveitando e respeitando o que já existe — sem construir nada de novo. Para isso, diz o CEO, "é preciso vender muito vinho para pagar as contas".
Do senhor Alvarinho ao senhor Loureiro
O interesse da Granvinho em investir nos Vinhos Verdes era antigo, e a ligação de Anselmo Mendes ao projeto foi decisiva para a compra da propriedade, que se concretizou em 2023. Mendes esteve na génese da plantação destas vinhas há mais de uma década e, desde então, tem vindo a explorá-las — o que era, por si só, um selo de qualidade difícil de superar.
Poucos enólogos estarão tão associados a uma região como ele. Há mais de 20 anos que o "Senhor Alvarinho" promove e desenvolve esta casta e os Vinhos Verdes, mas a verdade é que não estamos entre Monção e Melgaço, e neste vale do Lima é o Loureiro quem merece o trono.
"Nos novos encepamentos, o Loureiro representa cerca de 95%", explica Mendes, que destaca algumas das vantagens: "Em termos aromáticos, é mais intenso e tem uma acidez vibrante. O Alvarinho é talvez mais provocador, mas ambos envelhecem muito bem."
A amizade entre estes dois grandes senhores do vinho remonta ao tempo em que trabalharam juntos na Quinta da Gaivosa, de Alves de Sousa — e desde então que mantinham acesa essa vontade de voltar a colaborar.
Alvarinho Loureiro 2024
Embora os monocastas tenham cada vez mais protagonismo na região, aqui aposta-se num lote perfeitamente equilibrado: 50% Alvarinho, 50% Loureiro. O casamento funciona bem — a complexidade e estrutura do Alvarinho encontram frescura e intensidade no Loureiro. É um vinho descomplicado, muito agradável de beber, e com um preço igualmente acessível: 5,90 euros.

Loureiro 2024
Rico nos aromas — laranjeira, menta —, tem uma estrutura de boca firme, com notas salinas e mineralidade marcante. Super fresco, promete evoluir de forma muito positiva na próxima década. Uma boa aposta para comprar várias garrafas e guardar algumas. Preço: 9,50 euros.

Loureiro Vinha dos Castanheiros
A Vinha dos Castanheiros ocupa a parte mais elevada da quinta — que, apesar de não ultrapassar os 30 metros de altitude, é a zona mais bem drenada. A seleção dos cachos é feita na vinha, colhendo-se apenas os que se encontram na base das varas, mais concentrados. Na adega, os bagos são prensados inteiros, sem engaço. A fermentação e o estágio decorrem durante 9 meses sobre borras finas, o que confere mais textura, maciez e volume de boca, além de potenciar a evolução.
Não há madeira neste vinho, mas o Vinha dos Castanheiros é lançado sempre com mais um ano de estágio em garrafa. Uma edição limitada a apenas 3000 garrafas. Preço: 19,95 euros.

Neptuno: saiu mais um "vinho do Outro Mundo", de Cláudio Martins. Este vem de Itália e custa 1.100 euros
Depois do Alentejo, Priorat e Mosel, chegou a vez da Toscânia se juntar à constelação vínica criada por Cláudio Martins. O novo vinho chama-se Neptune Code 0.6 e nasceu nas vinhas muito velhas do carismático produtor Bibi Graetz, colheita de 2015. Custa 1.100 euros e 25% da produção já estava alocada antes da apresentação.
Aeternus, o vinho que Américo Amorim sonhou (e a filha criou)
A primeira vindima do Aeternus foi em 2017, ano da morte de Américo Amorim – e desde então apenas foram lançadas as colheitas de 2019 e, já este ano, de 2022. É um vinho raro, o mais especial da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, e promete continuar a dar prazer por muitos e muitos anos.
A nova carta do Tenro by Digby é uma fusão de história, criatividade e sabores portugueses
O leitão com gnocchi fritos e cogumelos, finalizado com molho de queijo, é um dos destaques do menu, que pode acompanhar com um dos sete cocktails de assinatura disponíveis. Estes foram pensados para homenagear os grandes artistas de vanguarda, de Aurélia de Sousa a Nina Simone e de Alfred Hitchcock a Charles Chaplin.
Um colheita tardia de Favaios calha bem à sobremesa e não só. O rosé do Alentejo ou o “verde” de Portugal Ramos, e ainda os dois tintos do Alentejo e do Douro, completam o ramalhete.
Duzentas gramas de carne dry aged, com pelo menos 60 dias de maturação, cheddar inglês e melaço de bacon são os ingredientes que dão forma à receita vencedora do Holy Sandwich Shop.
“O que mais importa nestes projetos são as pessoas que reunimos”, dizem, à vez, Jorge Dias e Anselmo Mendes, dois grandes senhores do vinho, unidos por uma longa amizade e juntos num dos projetos mais inovadores da região dos Verdes.
Panquecas, bowls, sandes club, bagels e burritos à beira-mar? Sim, agora é possível. Abriu um novo espaço na praia da Duquesa que rivaliza com... Sítio nenhum, porque não havia nada do género por aquelas partes.