Povos antípodas em diálogo artístico no Palácio Cadaval
No Palácio Duques de Cadaval, em Évora, há uma exposição que cruza as mundividências artísticas de artistas marroquinos e aborígenes da Austrália. Intitula-se Insiders/Outsiders, pode ser visitada ate 26 de Outubro, e demonstra como a arte é uma linguagem com o poder de encurtar distâncias.

São dois os oceanos que separam Marrocos da Austrália, o que, desde logo, pressupõe todo um mundo de diferenças culturais e históricas. E, no entanto, há muitos pontos em comum, transformando o que parece um abismo em diálogo, se a linguagem utilizada forem as artes visuais. Este é o pressuposto da nova exposição patente ao público no Palácio Duques de Cadaval, em Évora, Insiders/Outsiders?, que pode ser vista até 26 de Outubro.

Organizada em parceria com a Fondation Jardin Majorelle (Marraquexe) e o Museu Sa Bassa Blanca (Maiorca), esta mostra dá visibilidade a dois movimentos artísticos nascidos das margens da cultura institucional (a chamada resistência criativa) e estabelece, pela primeira vez, um diálogo estético entre artistas aborígenes australianos e artistas marroquinos, da escola de Essaouira, todos representados na coleção da Fundação Yannick e Ben Jakober. A curadoria é assinada pelo espanhol Enrique Juncosa, nome maior da cena artística internacional, e propõe, antes de mais, um questionamento sobre o que significa ser "de fora" — na arte, na cultura e no mundo.

É justamente o curador que nos chama a atenção para a antiguidade da arte aborígene, sobre a qual tão pouco sabemos: "A cultura aborígene tem mais de 60 mil anos, um período incrivelmente longo durante o qual os seus membros pintavam em superfícies tão diversas como pedaços de casca de árvores, rochas ou nos seus próprios corpos. Quando os navegadores britânicos chegaram à Austrália no século XVIII, os aborígenes dedicavam-se à caça e a recoleção, mas tinham muitos séculos de expressão artística."
O curioso, como destaca ainda Enrique Juncosa, é que estes trabalhos tinham um carácter essencialmente ritual e muito comunitário: "Cada grupo tinha as suas próprias representações, que eram mantidas em segredo relativamente aos outros." Estas práticas mantiveram-se no tempo, apesar das crescentes dificuldades sentidas pelos aborígenes com a chegada dos europeus e a instalação do sistema colonial britânico. Transformaram-se então numa cultura de resistência.

A passagem destes trabalhos a tela (e consequentemente a peças susceptíveis de serem apresentadas em museus) é recente. Em 1971, o professor australiano Geoffrey Bardon encorajou alguns artistas aborígenes a pintar em tela ou em tábuas, o que se revelaria muito produtivo nas décadas seguintes. Mais tarde, coleccionadores internacionais, como Ben Jakober e Yannick Vu interessaram-se por este movimento e adquiriram algumas dezenas de obras.
Por ironia do destino, o processo de descoberta da chamada arte de Essaouira não foi muito diferente. Na década de 1980, o comerciante de arte dinamarquês Frederic Damgaard mudou-se para esta cidade da costa atlântica de Marrocos e começou a aperceber-se da riqueza da tradição artística na comunidade local. Ali conheceu Boujema Lakhdar, o primeiro artista com quem trabalhou, que o apresentou a alguns dos seus amigos. Eram pescadores, carpinteiros ou comerciantes, que viviam na cidade ou nos seus arredores e pintavam nos tempos livres.

Os laços de união entre os dois os movimentos são evidentes. Ambos foram "descobertos" mais ou menos na mesma época e resultam de iniciativas que podem ser descritas como ativismo social. Mas as relações formais também são significativas, como a construção de espaços pictóricos densamente estratificados e pulsantes, sempre figurativos (mesmo quando não o parecem), o uso de cores intensas e pinceladas expressivas. Em ambos os casos, a paisagem circundante também desempenha um papel crucial, sendo transformada em imagens complexas que expressam emoções interiores, em vez de uma simples representação objetiva da realidade. Mais do que uma exposição, "Insiders / Outsiders?" é uma celebração da diversidade estética e emocional e um convite a revisitar o conceito de pertença e a reavaliar o nosso lugar no mundo através da arte. "Em ambas, encontramos uma forte componente espiritual e simbólica.", realça ainda Enrique Juncosa, que se esconde o seu fascínio pelas cosmogonias aborígenes.

"Insiders/Outsiders" reafirma o interesse do Palácio Duques de Cadaval, expresso nos últimos anos, em abrir os horizontes dos seus visitantes a paisagens artísticas menos conhecidas em Portugal. Alexandra Cadaval admite que já está a pensar em 2027, capital europeia da Cultura. Para já, prepara a reactivação do Festival de Música Évora Clássica, previsto para setembro deste ano.
Refira-se ainda que o próprio Palácio, ainda hoje residência dos Duques de Cadaval, merece visita atenta. Situado frente ao Templo Romano de Évora, o Palácio é um exemplo singular no património arquitetónico do país, que funde os estilos mudéjar, gótico e manuelino. O corpo do edifício integra uma vasta área residencial de vários pisos, dois jardins interiores e uma igreja que é também panteão de todas as gerações da família dos Duques de Cadaval. A igreja constitui, de resto, uma referência nacional pelos seus grandiosos interiores, com destaque para os painéis de azulejos assinados e datados do início do século XVIII. Foi residência temporária de monarcas como D. João II, Dom João IV e D. João V.
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