#POPtrait. Os retratos de Maísa Champalimaud
A artista plástica luso-brasileira vai inaugurar a sua nova exposição da Galeria Óriq, no próximo dia 8 de maio. A "Must" esteve no atelier da pintora para uma conversa sobre arte, inspiração e como ultrapassar o terror de tela em branco, e aproveitou para espreitar algumas das suas obras.

#POPTrait, nome da exposição que a artista plástica Maísa Champalimaud inaugura no dia 8 de maio, na Galeria Óriq, é um jogo de palavras que remete para as hashtags das redes sociais, a pop art, e o universo artístico do retrato. Uma interseção de ideias que não surpreende quem já teve o prazer de conhecer Maísa. A Must esteve com ela há cerca de dois meses, quando a artista organizou o primeiro open day de sempre no seu atelier – uma oportunidade rara para perscrutar paredes e mesas cheias de desenhos e pinturas, com a artista ali ao lado, pronta a responder às perguntas. Ainda que as respostas possam ser perturbadoras, como esta jornalista pôde constatar ao apontar para o quadro de um pássaro que lhe chamou a atenção – sucede que foi o único que sobrou de uma série inteira dedicada aos pássaros e que Maísa rasgou por estar saturada deles. Sobreviveu aquele porque Joana Paraíso, a assistente da artista, o escondeu. Maísa Champalimaud é assim, muito autêntica, repentista e desprendida. Mas tanto é rápida a destruir o que para um olhar exterior não tem defeito, como célere a abraçar o que para uma mente menos artística pode ser uma mácula, como dedadas de tinta feitas pelos filhos.

Naquele fim de tarde de fevereiro, dia de verdadeiro dilúvio, já se falava com antecipação e curiosidade da exposição que aí vinha. Curiosidade partilhada pela própria Maísa e ainda mais pela sua assistente – nenhuma das duas fazia ideia de qual seria o tema da exposição. "Se a Maísa não sabe, eu então muito menos...", desabafava, com graça, Joana Paraíso. Mas havia uma coisa, pelo menos, que Maísa Champalimaud sabia: a exposição havia de ter retratos, num regresso às origens da sua formação.

E, de facto, a artista não desiludiu. #POPtrait dá a conhecer mais de 60 obras, todas retratos de personalidades icónicas das mais diversas áreas: música, literatura, moda, desporto. De pequenos desenhos aos seus grandes formatos que preenchem uma parede. Algumas destas pinturas nascem como exercícios, outras atingem o estatuto de obra final, mas todas fazem parte de uma busca persistente: desenhar, experimentar, errar e voltar a repetir.

À conversa com a Must, naquela tarde invernosa em que ainda pouco se notava a sua gravidez, Maísa Champalimaud falou sobre o seu trabalho com a leveza refrescante de quem não se leva demasiado a sério: "Ai, eu não tenho, assim, grandes ideias. Grandes, pequenas. Cada vez mais, aquilo que eu pinto é exatamente aquilo que eu sou. É muito espontâneo e faz tudo parte da minha vida. Ou as minhas viagens, ou os meus filhos, ou as minhas emoções. Mas nunca penso em nada, assim, de grandes eloquências. É muito, muito a minha vida e os meus pensamentos. E coisas de há dez anos que ainda continuam aqui. E eu ainda continuo à volta destes pensamentos e volto a pintá-los e a repintá-los. Mas depois, quando eu olho, consigo ver uma unificação de tudo. Porque é tudo muito meu, muito casa." Conclui abrindo os braços para abarcar tudo o que podemos ver em redor: "Isto não é pintura, isto não é nada. Isto são os meus desenhos. E estou aqui a mostrar o meu atelier, a minha casa, o meu espaço." A modéstia de Maísa é aconchegante, mas há que dizer que o que vimos é de facto pintura, e é muito.

Num registo quase confessional, questionada sobre o único pássaro que "sobreviveu", Maísa explica que começou a fazer aquela série de pinturas num momento particularmente difícil da sua vida, em que tinha acabado de ter um bebé e, pouco depois, o seu então marido foi vítima de um acidente aparatoso que o deixou hospitalizado e em recuperação durante um longo período. "Estive muito tempo sem pintar e precisava de saber que ainda tinha mão para a pintura. E depois há um grande medo da tela vazia. Medo de falhar. Então, para não ter esse medo, decidi fazer só pássaros. Enchi a minha casa de pássaros. Mas, depois, os pássaros levavam-me muito àquele lugar de tristeza onde eu estava. E, a determinada altura, quis fugir daquela dor, daquele sítio, mas não sabia como refazer a minha vida. E já não podia ver os pássaros, então rasguei tudo. Pronto. Sou muito impulsiva", conta a artista, com uma sinceridade desarmante.

Joana Paraíso, a assistente, é direta e eficiente na explicação e defesa do trabalho da artista, ou não fosse exatamente esse o seu papel: "O trabalho da Maísa é cor, é vibração, é energia, é emoção. Acho que o fio condutor de todas as pinturas da Maísa é mesmo o despertar de emoções. Ela extravasa tudo na pintura. E a forma como o recetor recebe a mensagem é mesmo com emoção. E se a emoção for diferente, não interessa. Aliás, ela não gosta de explicar uma pintura, porque não faz muito sentido para ela tolher [a interpretação de quem vê] colocando rótulos. Não interessa tanto o que ela quis dizer com a pintura, mas o que a pessoa vai sentir."

Para Joana, o elemento essencial e diferenciador do trabalho de Maísa Champalimaud é a liberdade: "Ela não se vê como uma artista rigorosa. Ela usa as cores e de repente, por algum motivo, rasgou. Ela aceita, ela abraça o erro de uma forma tão carinhosa, que aquilo se torna parte da pintura. Todos somos um eterno rascunho. E ela, como todos, mostra que é imperfeita e que é a sua própria arte."

#POPtrait é uma exposição imperdível tanto para quem conhece como para quem não conhece esta artista plástica. E, já sabe, se gostar muito de uma pintura compre-a antes que Maísa decida dar-lhe o mesmo destino que deu aos pássaros.
Onde? Galeria Óriq – Rua Pereira e Sousa 13A, Campo de Ourique Quando? De 8 a 24 de maio Horário? Inauguração dia 8 de maio, das 17h às 22h30; terças e quartas-feiras, das 13h às 17h; quintas e sextas-feiras, das 17h às 20h; e sábados, das 10h às 20h.
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