Artes / Prazeres

David Hockney. A maior exposição de sempre

Com 87 anos, o famoso artista plástico britânico esteve pessoalmente envolvido na escolha das cerca de 400 obras e na forma como foram dispostas. Uma mostra histórica para ver na Fundação Louis Vuitton, em Paris, até 31 de agosto.

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15 de abril de 2025 | Madalena Haderer

Se há coisa que não faz falta, são desculpas para visitar a capital francesa. E, no entanto, elas vão sempre aparecendo. Desta vez é a primavera. Não aquela que começou a 21 de março e que nos empurrará até ao verão – como se precisássemos de ser empurrados –, mas a primavera ao estilo de David Hockney, que está já a desabrochar, em todo o seu esplendor, na Fundação Louis Vuitton, em Paris, naquela que será a maior exposição de sempre do artista plástico britânico. Até 31 de agosto, Hockney toma conta de todo o edifício da fundação com mais de 400 das suas obras, que acompanham o período entre 1955 e 2025, ou seja, desde o início da sua carreira até aos dias de hoje, embora com maior enfoque nos últimos 25 anos, razão pela qual dá pelo nome de David Hockney 25.

Entrada para a exposição "David Hockney 25", em Paris
Entrada para a exposição "David Hockney 25", em Paris Foto: Getty Images

"Lembrem-se que eles não podem cancelar a primavera", alerta um enorme néon cor-de-rosa por cima da entrada da exposição – a mensagem esperançosa que o artista britânico enviou aos seus amigos durante a pandemia, junto com um desenho de narcisos. Mensagem tão ou mais relevante no momento atual, ainda que por outros motivos – embora, enfim, para o caso talvez fosse mais adequado qualquer coisa como "lembrem-se que ele não pode tarifar a primavera". Mas, regressemos ao que aqui nos traz: a retrospectiva do prolífico trabalho de Hockney. Com 87 anos, o artista britânico esteve pessoalmente envolvido em todos os aspectos da exposição, desde a escolha das obras à composição de cada sequência e à disposição de cada espaço. Para isso, contou com a ajuda de Jonathan Wilkinson, seu assistente, e de Jean-Pierre Gonçalves de Lima, seu companheiro e gestor de estúdio.

David Hockney na inauguração da exposição "David Hockney 25"
David Hockney na inauguração da exposição "David Hockney 25" Foto: Getty Images

O resultado final foi um conjunto de obras tão eclético quanto o próprio artista e o seu percurso, e inclui pinturas provenientes de coleções institucionais, internacionais e privadas, bem como obras do próprio estúdio do artista e da sua Fundação. Estão representados trabalhos em diversos suportes, incluindo pintura a óleo e acrílico, desenho a tinta, lápis e carvão, arte digital (obras feitas no iPhone, iPad, desenhos fotográficos, etc.) e instalações de vídeo imersivas.

Exposição "David Hockney 25"
Exposição "David Hockney 25" Foto: Getty Images

A exposição começa com uma seleção de obras emblemáticas dos anos 1950 aos anos 1970, incluindo os primeiros trabalhos de Hockney, como Portrait of My Father, de 1955, que o então jovem artista, nascido em 1937, fez em Bradford, no norte de Inglaterra, onde nasceu e cresceu. Inclui também os quadros que pintou em Londres, quando estava a estudar, na Royal College of Art, e depois na Califórnia, para onde havia de se mudar e onde viveu mais de 30 anos. Logo à chegada mergulhamos de cabeça na piscina – não numa piscina literal, mas na piscina enquanto tema de assinatura do artista. A Bigger Splash, de 1967, é um dos seus quadros mais famosos e imediatamente reconhecíveis. Destaque também para Portrait of An Artist (Pool with Two Figures), de 1972. 

Exposição "David Hockney 25", quadros "A Bigger Splash", 1967, e "Portrait of An Artist (Pool with Two Figures)", 1972
Exposição "David Hockney 25", quadros "A Bigger Splash", 1967, e "Portrait of An Artist (Pool with Two Figures)", 1972 Foto: Getty Images

Já a sua série de retratos duplos está representada por duas obras principais e também amplamente conhecidas: Mr. and Mrs. Clark and Percy, 1970-1971, um dos retratos mais famosos da arte britânica moderna, e Christopher Isherwood and Don Bachardy, 1968. Há, de resto, toda uma ala dedicada aos seus retratos, onde é possível ver cerca de 60. Hockney é um dos artistas mais prolíficos e consistentes no que toca a retratos e autorretratos, tendo feito centenas. Só entre 2013 e 2016, criou uma série de 82 retratos e uma natureza morta, todos pintados em poucos dias e expostos juntos na Royal Academy em Londres. Já os auto-retratos são na casa das dezenas, criados com maior frequência nas últimas décadas.

Exposição "David Hockney 25", quadro "Christopher Isherwood and Don Bachardy", 1968
Exposição "David Hockney 25", quadro "Christopher Isherwood and Don Bachardy", 1968 Foto: Getty Images

A natureza torna-se cada vez mais importante no trabalho de David Hockney entre 1980 e 1990 – como ilustra A Bigger Grand Canyon, 1998, um quadro com quase sete metros de comprimento e 60 telas unidas entre si. 

Exposição "David Hockney 25", quadro "A Bigger Grand Canyon", 1998
Exposição "David Hockney 25", quadro "A Bigger Grand Canyon", 1998 Foto: Getty Images

Na viragem do século, o artista regressa à Europa para continuar a explorar paisagens familiares. E é, precisamente, nessa fase que o núcleo da exposição se concentra: os últimos 25 anos, passados principalmente em Yorkshire, na Normandia e em Londres. Este período abre com uma celebração da paisagem de Yorkshire, com May Blossom on the Roman Road, 2009. Outro exemplo da inspiração que retira da natureza e da mudança das estações é Bigger Trees Near Warter or/ou Peinture sur le Motif pour le Nouvel Âge Post-Photographique, 2007, uma pintura a óleo em tamanho real que cobre 50 telas, dividida em dois painéis gigantescos, que faz com que o visitante se sinta, literalmente, no meio das árvores.

Exposição "David Hockney 25", quadro "Bigger Trees near Warter or/ou Peinture sur le Motif pour le Nouvel Âge Post-Photographique", 2007
Exposição "David Hockney 25", quadro "Bigger Trees near Warter or/ou Peinture sur le Motif pour le Nouvel Âge Post-Photographique", 2007 Foto: Getty Images

De acordo com a Vogue espanhola, Donatien Grau, académico e chefe da programação contemporânea do Museu do Louvre, que escreveu o catálogo da exposição (publicado pela Thames & Hudson), disse o seguinte sobre o artista britânico: "David é um dos melhores desenhadores em atividade atualmente, com habilidades semelhantes às de Degas ou Picasso." Referindo ainda que o pintor é obcecado, acima de tudo, com cores. E isso é a primeira coisa que atrai na sua obra. Isso e uma visão alegre e optimista do mundo, com um olho atento na natureza e na condição humana.

Exposição "David Hockney 25"
Exposição "David Hockney 25" Foto: Getty Images

David Hockney é uma das figuras mais importantes da arte contemporânea e um dos artistas britânicos do século XX e XXI mais reconhecidos. Foi dos primeiros a ser associado ao movimento Pop Art dos anos 1960, com as suas obras dessa fase a explorar temas pessoais, retratos de amigos, amor e desejo homoerótico. Hockney é homossexual, algo que assumiu publicamente aos 23 anos, sete anos antes de a homossexualidade ser descriminalizada no Reino Unido, em 1967.

Exposição "David Hockney 25", retratos
Exposição "David Hockney 25", retratos Foto: Getty Images

Em novembro de 2018, o seu quadro Portrait of an Artist (Pool with Two Figures) foi vendido por 90 milhões de dólares (quase 80 milhões de euros), tornando-se a obra de arte mais cara de um artista vivo alguma vez vendida em leilão. Superou o recorde anterior, estabelecido em 2013 com a venda de Balloon Dog (Orange), de Jeff Koons, por 58,4 milhões de dólares (51,5 milhões de euros). Hockney manteve esse recorde até maio de 2019, quando Koons recuperou o título ao vender a sua escultura Rabbit por mais de 91 milhões de dólares.

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