Aeternus, o vinho que Américo Amorim sonhou (e a filha criou)
A primeira vindima do Aeternus foi em 2017, ano da morte de Américo Amorim – e desde então apenas foram lançadas as colheitas de 2019 e, já este ano, de 2022. É um vinho raro, o mais especial da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, e promete continuar a dar prazer por muitos e muitos anos.

"Acho que nunca fizemos tantas provas de um vinho como neste caso", estima Luísa Amorim, a propósito da colheita de 2022 do Aeternus. "Não porque não gostássemos do resultado, mas porque sentíamos sempre que havia mais qualquer coisa que ainda podíamos ir buscar."
A filha de Américo Amorim usa o plural – "achávamos" – incluindo a equipa de enologia na decisão, mas a persistência parece ter sido muito dela. Como mais tarde admite: "Demorou tanto tempo que os enólogos já começavam a ficar zangados comigo."
Luísa gere os negócios vínicos da família Amorim – que incluem, além da Quinta Nova (QN), no Douro, a Quinta da Taboadella, no Dão – e sente que tinha boas razões para essa atenção redobrada: "O Aeternus é o nosso melhor vinho. Não sai todos os anos, apenas nos excecionais, e por isso é preciso ter a certeza absoluta antes de avançarmos." É, além disso, uma homenagem ao seu pai e, também por isso, "temos uma responsabilidade acrescida com este vinho, que precisa de ser extraordinário."
O nome remete diretamente para a dedicatória: A de Aeternus, de Américo, de Amorim... "O meu pai dizia sempre que ia durar até aos 100, e muitas das coisas que fazia – como plantar sobreiros – eram a pensar nas gerações seguintes. Havia sempre essa noção de longevidade, de eternidade."

Américo Amorim será, provavelmente, o maior empresário português do pós-25 de Abril, e tinha um faro notável para os negócios, mas o vinho ocupou sempre um lugar especial na sua vida – em parte pela ligação à cortiça. "O Douro é uma história de resiliência, de trabalho árduo, e ele admirava muito esse lado", recorda Luísa, a mais nova das três filhas – e herdeira direta neste setor.
Admirava, sobretudo, a pequena parcela de 2,5 hectares contígua à casa da Quinta. Virada a nascente – com menor exposição solar e temperaturas mais frescas ao final da tarde e à noite – de muros ainda pré-filoxéricos, vinhas centenárias e uma diversidade enorme de castas. Sempre um negociador, Luísa lembra-se de o ouvir fechar o contrato com as videiras:
"Vou cuidar de vocês e garantir que nada vos falte", dizia. "E vocês vão retribuir com uvas de muita qualidade."
É dessa parcela – hoje rebatizada com o seu nome – que nasce este vinho especial. Um vinho de memória. Um vinho que fica na memória. Sente-se a pureza das uvas em cada gole, e isso dá um prazer enorme.
Cortiça, da garrafa para a vinha
A Quinta Nova está a desenvolver um trabalho muito interessante de preservação das vinhas velhas, através da aplicação de um aglomerado de cortiça no solo. Esse "tapete" tem três objetivos: isolamento térmico – protegendo a base da videira dos escaldões cada vez mais frequentes –, retenção de água, mantendo os solos mais húmidos, e, à medida que envelhece, transformação em matéria orgânica que alimenta a terra.
Uma solução natural, inteligente e perfeitamente adequada ao maior grupo corticeiro do mundo.
25 anos de enoturismo
A Quinta Nova celebra este ano um quarto de século de enoturismo, agora com a chancela Relais & Châteaux. Foi o primeiro projeto do género com dimensão no Douro e nasceu num lugar histórico. Já vinha referenciada desde a primeira demarcação pombalina, em 1756. Em 1764 ergueu-se a tradicional adega – ainda em uso – e no ano seguinte construíram-se a capela e os edifícios onde agora funcionam o hotel e o restaurante Terraçu’s.

Ao longo do tempo, passou por várias remodelações – as mais importantes provavelmente nos últimos dois anos, com a construção de uma nova adega no mesmo local da antiga e preservando o edifício. "A velha já estava com as barricas a sair pelas janelas", brinca Luísa. A nova é quase uma escultura dedicada ao Douro, pensada para responder às inevitáveis alterações climáticas. "É uma adega do passado, projetada para o futuro", termina.
Este ano foi ainda inaugurada uma nova zona de provas – mais exclusiva e dedicada aos topos de gama, como o Aeternus, Vinhas Centenárias e Mirabilis. Será um espaço para clientes mais exigentes, reservado a hóspedes da Quinta ou operadores turísticos selecionados. Todas as provas serão acompanhadas por enólogos ou especialistas certificados – e até os copos são escolhidos especificamente para cada vinho. Em termos de design, o espaço inclui peças de destaque, como o grande painel dedicado a Baco, criado pela Oficina Marques.
Há mais vinhos icónicos para além do Aeternus
A Quinta Nova tem 120 hectares, dos quais 80 são vinha – incluindo sete de centenária. As vinhas estão divididas em 41 parcelas identificadas por número (exceto a P24, agora rebatizada Parcela Américo Amorim). Entre as restantes, destacam-se a P21 (também centenária) e as três primeiras parcelas de monovarietais em todo o Douro.

Na transição dos anos 1970 para 80, o Ministério da Agricultura fez os primeiros estudos vitícolas na região no pós-25 de abril, e a Quinta Nova foi uma das escolhidas para testar vinhas de uma só casta – Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Francesa – com vários clones de cada, como se fosse ainda um field blend, mas da mesma variedade. São parcelas que fazem parte da história do Douro e que, desde 2005 (também), saem em edição especial: os famosos P28/P21 e P29/P21 – o 28 refere-se à Roriz e o 29 à Nacional; o 21, à vinha centenária que contribui com 20% a 25%. Nunca houve uma versão apenas com Touriga Francesa.

Os vinhos são feitos da mesma forma, para expressar o carácter específico de cada casta e parcela. E se a Touriga Nacional é a mais nobre em Portugal, a Roriz (ou Aragonez, no sul) tem uma projeção ibérica − em Espanha é sobretudo conhecida como Tempranillo (mas pode ser Tinta del País, Tinta de Toro e Cencibel, na Mancha). É mais escura e rústica do que a Nacional, que é mais elegante e aromática. Essa rusticidade nem sempre é valorizada, mas pode originar vinhos de grande estrutura, sobretudo com o contributo das vinhas velhas, que lhe dão sofisticação. É um vinho super gastronómico, ao ponto de o Chef Avillez o ter escolhido para acompanhar um peixe branco, durante o jantar de apresentação.

O Mirabilis branco é outro ex-líbris da Quinta Nova – mesmo não havendo uvas brancas plantadas na propriedade. As uvas vêm então de 12 microparcelas nos concelhos de Murça, Alijó e Sabrosa. Plantadas acima dos 500 metros de altitude. São vinhas muito velhas, algumas centenárias em field blend, outras de Gouveio e Viosinho. É um branco complexo, com aromas de chá verde e lichias, mas muito equilibrado. A estrutura é mais pronunciada do que em edições anteriores, e a acidez mais viva – resultado, provavelmente, da introdução das novas cubas de cimento na adega.
Apesar de não ser o Aeternus, Luísa também não facilita no Mirabilis: "Se temos dúvidas num lote, não usamos. Vai para o Grainha Reserva, e está muito bem". O Grainha, seguramente, agradece.
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