Estilo / Moda

Pharrell Williams e Louis Vuitton. Quanto vale a inesperada e lucrativa parceria de Moda

A nomeação de Pharrell Williams como diretor criativo masculino da Louis Vuitton tomou a indústria de assalto. O legado de Virgil Abloh é recordado e a próxima Semana de Moda de Homem, ansiada. O que significa esta mudança? O grupo de luxo LVMH volta a arriscar num universo onde já é poderio.

Pharrell Williams é o novo diretor criativo da Louis Vuitton.
Pharrell Williams é o novo diretor criativo da Louis Vuitton. Foto: REUTERS/Caitlin Ochs
15 de fevereiro de 2023

O anúncio foi feito a 14 de fevereiro, mas a história de amor entre o músico e a marca de Moda francesa há muito que fervilhava. A Louis Vuitton anunciou Pharrell Williams, 49 anos, como o novo diretor criativo das coleções para homem, com efeito imediato. Mais de um ano após o falecimento abrupto de Virgil Abloh, depois de uma luta privada contra um cancro, a maison de luxo, pertencente ao grupo francês LVMH, encontrou um novo sucessor. Aos devotos ou mais interessados, pouco de imediato houve no processo. Muita especulação depois, vários nomes foram apontados nos quinze meses que se seguiram, como Jonathan Anderson (Loewe), Nigo (Kenzo) e mais recentemente Colm Dillane (KidSuper), que foi convidado a desenhar para o departamento masculino durante algumas estações – o francês Nicolas Ghesquière continua a desenhar as coleções femininas. Em 2022, o então CEO da Louis Vuitton, Michael Burke havia referido ao site de Moda WWD: "é preciso dar o tempo certo [para tomar esta decisão]. Não pode ser feito sob pressão. Esta não é uma casa que dependa de um indivíduo singular", aludindo a uma narrativa de paciência e firmando que "a Louis Vuitton é demasiado grande para qualquer indivíduo singular". Será?

Virgil Abloh no desfile da coleção Primavera/Verão 2019 da Off-white na semana da Moda de Paris de homem, junho de 2018.  
Virgil Abloh no desfile da coleção Primavera/Verão 2019 da Off-white na semana da Moda de Paris de homem, junho de 2018.   Foto: REUTERS/Charles Platiau

Agora, as palavras de Pietro Beccari, chairman e CEO da Louis Vuitton desde o início de 2023, ecoam de forma diferente: "fico feliz por receber Pharrell de volta a casa, após as nossas colaborações em 2004 e 2008 para a Louis Vuitton, como o nosso novo diretor criativo masculino". O músico, compositor e produtor é presado como um visionário cujo universo criativo se alonga desde a música à arte, passando pela Moda, tornando-o "um ícone cultural universal ao longo dos últimos 20 anos", como se pode ler em comunicado na página e redes oficiais da marca. "A sua capacidade de esbater as fronteiras entre os diferentes universos que explora, encaixa na dimensão cultural da Louis Vuitton", continua Beccari.

De facto, a relação entre as duas powerhouses – podemos referir-nos a Pharrell assim? – foi firmada bem lá atrás. Pharrell, de certa forma, é um investimento seguro. Com um percurso iniciado e distinguido na música desde o começo com The Neptunes e N.E.R.D, passando pelos 13 Grammy Awards e nomeações para Emmys e Golden Globes, o músico, empresário, designer e filantropo é acima de tudo um visionário e está em todo o lado, arriscando em múltiplos campos criativos. 

O artista lançou em 2020 a sua marca de skincare Humanrace, com um propósito de bem-estar e equilíbrio, é proprietário de hotéis em Miami e de uma fundação, a YELLOW sem fins lucrativos, com objetivo de ajudar jovens a atingir o seu potencial por meio da educação. Com a Black Ambition, outra iniciativa humanitária, pretende fazer a ligação entre empreendedores das comunidades negra e latina, de diversas áreas de trabalho. Advoga sempre pela justiça racial.

O seu património total é impreciso – a última atualização Forbes remonta a 2015 – mas estima-se que atinja os 250 milhões de dólares, muito pela aposta e influência que tem na Moda. Podemos falar das linhas de roupa Billionaire Boys Club e Ice Cream, mas o protagonismo é assumido sempre que é lançada uma nova colaboração. Contam-se mais de 20. Parcerias de peso com carimbo de luxo, entre as mais rentáveis: Moncler, Tiffany & Co e Chanel, mas também Uniqlo, Adidas e claro, Louis Vuitton.

Pharrell Williams num evento da Tiffany & Co. para celebrar a Blue Book Collection de 2022, Botânica, na Florida, abril de 2022.
Pharrell Williams num evento da Tiffany & Co. para celebrar a Blue Book Collection de 2022, Botânica, na Florida, abril de 2022. Foto: Getty Images

Por sua vez, o grupo LVMH continua forte, como confirmam todos os indicadores económicos, especialmente com a Louis Vuitton como sua aposta principal, especialista a bater recordes de receitas em 2022, e com Bernard Arnault a prolongar a idade da reforma na empresa e os filhos a ocuparem os principais cargos nas várias marcas do grupo – detentor de etiquetas de peso como Christian Dior, Bulgari, Moët & Chandon, Tiffany & Co. Depois da pandemia, os lucros líquidos ascenderam os 14 mil milhões de euros, mais 17% face ao ano anterior e os mais altos da história do grupo, colocando o seu diretor executivo no top dos homens mais ricos de sempre, a par com Elon Musk.

Bernard Arnault e Pharrell Williams num evento da Louis Vuitton em Nova Iorque, 2006.
Bernard Arnault e Pharrell Williams num evento da Louis Vuitton em Nova Iorque, 2006. Foto: Getty Images

Com este movimento, Pharrell Williams torna-se o segundo músico de renome a trabalhar com o grupo LVMH, depois de Rihanna com a Fenty, em 2019, e o segundo afro americano a ser nomeado para liderar uma casa europeia de Moda de luxo, depois de Virgil Abloh. O falecido designer deteve a posição desde 2018 até à sua morte em novembro de 2021. A ligação entre os dois era conhecida, eram amigos. Virgil nunca escondeu a admiração e influência que o trabalho de Pharrell Williams teve em si, desde o início do novo milénio, como aliás reportou em entrevista ao The New York Times, em 2020. No podcast OHTERtone no ano seguinte, há uma conversa entre os dois (com mais intervenientes) sobre passado e ego, ambição e influência, criatividade e posicionamento, que vale muito a pena rebuscar agora. Estará o novo diretor criativo da Louis Vuitton prestes a retomar um trilho já iniciado? A continuação de um legado plantado e perpetuado, ainda que por pouco tempo, pelo criador da Off-White?

Virgil Abloh e Pharrell Williams na abertura da loja G-Star Raw em Nova Iorque, junho de 2016. 
Virgil Abloh e Pharrell Williams na abertura da loja G-Star Raw em Nova Iorque, junho de 2016.  Foto: Getty Images

Com múltiplas replicações pela internet, este anúncio tem sido recebido sobretudo com vozes de apreço, mas sobretudo curiosidade. Alguma dissonância também se faz sentir – como, aliás, é comum na Moda – com a principal crítica a residir no facto de Pharrell não ter uma formação específica em design. Mas talvez seja esse mesmo o ímpeto de mudança da Louis Vuitton, agora game changer de uma indústria cujas matrizes originais ajudou a solidificar. A busca por um posicionamento de marca de cultura, a interseção entre mestrias e disciplinas várias não óbvias e mais fluidez na criatividade. Especulam-se, acima de tudo (e agora em específico, sobre Pharrell) sobre essa mesma orientação criativa, com alguns traços de estilo já em prognóstico: uma estética streetwear associada ao luxo, ousadia na visão, fluidez de género, destaque aos acessórios, cor e poucas regras, no fundo, possibilidade. Para já, há uma data a fixar: a semana de Moda de Homem, em Paris, já este verão, onde Pharrell apresentará a sua primeira coleção. Aguardemos, pois.

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