Textura Wines: o sonho comanda a vinha
Marcelo Araújo e Patrícia Berardi tinham o sonho de produzir grandes vinhos no Dão. E fizeram como na Borgonha, aproveitando pequenas diferenças de terroir para conseguir um resultado ora mais estruturado e intenso, ora mais elegante e fresco. Não há nada como ver um sonho realizado.

Lembram-se de como a Fundação Eugénio de Almeida apresentou o último Pêra Manca no Brasil, antes sequer de o lançar por cá? Os brasileiros são grandes consumidores de vinho português, mas são também, cada vez mais, produtores de referência. Nomes como Lima & Smith (Quinta da Covela), Menin Douro Estates, ManzWine ou Fernanda Zucarro (da Quinta Alta) são alguns dos exemplos aos quais se juntou a Textura Wines, no Dão. Uma história que começou como tantas outras: com um sonho.
Patrícia Berardi é formada em engenharia ambiental, com especialização em economia circular, e veio para Portugal como professora convidada pela Universidade do Porto — mas também com o desejo secreto de encontrar uma vinha onde ela e o marido pudessem produzir vinho.
Marcelo Villela de Araújo trabalhou quase 30 anos em bancos de investimento e hedge funds no Brasil, mas quando veio para Portugal já tinha tomado uma decisão: o mundo financeiro ficaria do lado de lá do Atlântico e o futuro passava por descobrir uma vinha no Dão, mais especificamente na sub-região da Serra da Estrela, de onde vinham "muitos dos vinhos frescos e elegantes que mais admirávamos".

"O vinho era uma paixão antiga", continua Marcelo, "mas nunca tinha tido formação na área e precisava de entender o negócio a sério, antes de avançarmos." Assim, enquanto a mulher orientava o Mestrado de Economia e Gestão do Ambiente na UP, Marcelo inscreveu-se numa pós-graduação em Enologia na Universidade Católica do Porto e, em seguida, num curso de Gestão Vitivinícola em Espanha.
Ao mesmo tempo, começaram a procurar vinhas, "o mais perto possível da Serra da Estrela" e, enquanto o faziam, "começámos a perceber que havia muitas fábricas de têxteis abandonadas pela crise dos anos 1980 e 1990", recorda-se. Nessa altura pensaram: "e se transformássemos uma destas fábricas no nosso centro de produção e enoturismo?"
Assim nasceu a Textura Wines em 2018, "numa dessas antigas fábricas, bem junto ao Parque Natural da Serra da Estrela" — e o nome é tanto uma homenagem à estrutura dos vinhos do Dão como à própria indústria têxtil da região.
Hoje, a Textura tem cerca de 28 hectares de vinha (e 40 de terra), distribuídos entre as zonas de Gouveia e Penalva do Castelo. A maioria no concelho de Gouveia, "perto da Casa da Passarella e da MOB", conta Marcelo. Em Penalva do Castelo têm duas quintas: uma a 600 metros de altitude, outra a 500. Solos de granito com argila — "o que dá um pouco mais de estrutura ao vinho", diz.
São terroirs muito distintos, apesar da proximidade, e "daí nasceu a ideia de fazer como na Borgonha. A Côte de Nuits e a Côte de Beaune, por exemplo, fazem vinhos muito diferentes apesar da curta distância". É o que acontece no Dão — e isso deve ser explorado.
Um Dão, vários terroirs
Assim se explica a estrutura do portefólio da Textura Wines. Começando pela gama Pretexto, com vinhos frescos e elegantes, mas em jeito de introdução ao Dão e à sua diversidade. São vinhos na casa dos 14 euros, com um branco de Encruzado e Bical, e muito pouca madeira; um tinto de taninos muito suaves; e um rosé de Jaen, com alguma cor e um toque gastronómico. Temos ainda um Palhete com o melhor: 70% de Jaen e Alfrocheiro e 30% de Encruzado e Bical.

Os Textura da Estrela já representam as vinhas de Gouveia — algumas mais novas, outras com uma certa idade (60 anos). Os preços variam entre os 18 euros (do rosé 100% Tinta Roriz) e os 28 euros do Tinta Pinheira (ou Rufete). O tinto (Jaen, Touriga Nacional, Alfrocheiro) é um vinho muito equilibrado, fresco, fruto de uma maturação lenta das uvas e dos solos graníticos. Um excelente exemplo do tal terroir da Serra da Estrela de que falava Marcelo.

Encoberta e Constructo são dois exemplos das parcelas de Penalva, marcadas ainda pelos solos graníticos, mas já com presença de argila. Estas condições conferem aos vinhos outra estrutura e complexidade, mantendo a frescura. O Encoberta será mais acessível e direto: um tinto elegante, feito com Alfrocheiro (50%), Touriga Nacional (20%), Jaen (20%) e Tinta Roriz (10%). O Constructo é um passo acima: um vinho mais ambicioso, com estágio prolongado, fruta vermelha profunda, mais densidade e uma vocação gastronómica evidente. Isso reflete-se nos preços: 22 e 42 euros, respetivamente.

A linha Pura é dedicada às vinhas velhas da Serra da Estrela — e o objetivo é respeitar essa herança. São vinhos muito autênticos, com aquele toque de rusticidade refinada que só as vinhas velhas conseguem dar. Disponíveis em branco e tinto, por 37 e 39 euros, são dos ex-líbris do portefólio.

Já o Vinha Negrosa (53 euros) e o Dona Áurea (59 euros) são os topos de gama, feitos a partir das melhores parcelas de vinha. O Vinha Negrosa é um tinto poderoso, com fruta escura, notas balsâmicas e uma frescura muito bem integrada. O Dona Áurea, por sua vez, tem um perfil muito sedutor, mas igualmente sério e sofisticado. São vinhos de guarda e que ajudam a contar a história do Dão contemporâneo.

Do mundo para Portugal
O primeiro engarrafamento da Textura Wines aconteceu em 2020 — em plena pandemia, o que atrasou o arranque do projeto em cerca de um ano —, mas o reconhecimento não tardou. Em 2022, um dos brancos entrou no Top 100 da Wine Enthusiast e o Vinha Negrosa foi eleito Vinho do Ano pela Revista de Vinhos. No ano seguinte, o Dona Áurea terminava em segundo lugar.
Nos primeiros tempos, a Textura chegou a exportar quase 80% da produção, mas estas distinções têm ajudado à conquista no mercado nacional, feita sobretudo através da restauração e das garrafeiras. Os Estados Unidos também já foram o principal destino de exportação, mas têm vindo a perder peso para o Reino Unido e países escandinavos. A produção ronda atualmente as 90 mil garrafas por ano, metade das quais na gama Pretexto. O Dona Áurea é o mais exclusivo, com uma produção limitada a 700 garrafas. Do Vinha Negrosa são cerca de 2000.

A Textura Wines distingue-se igualmente pela aposta na sustentabilidade. As vinhas estão certificadas como biológicas e, já este ano, também os vinhos passarão a estar. A empresa pratica uma viticultura de baixa intervenção e é um exemplo de economia circular: tratam e reutilizam a água, fazem compostagem, triagem de resíduos e reaproveitamento de materiais, utilizam garrafas leves e caixas recicláveis, evitam o uso de madeira no embalamento e produzem energia limpa e renovável na propriedade. Patrícia Berardi, com a sua experiência, é obviamente a peça-chave neste compromisso com a sustentabilidade.

Com a marca a consolidar-se, o próximo passo é o enoturismo. "O Dão precisa disso", diz Marcelo. "Por vezes as pessoas não vão simplesmente porque não existe oferta — e nós queremos mudar isso. Queremos que as pessoas venham até aqui, provem os vinhos na origem, conheçam o projeto, a história…" Quem sabe se não ficam contagiadas pelo sonho deste casal?
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