Prazeres / Sabores

Matriarca. Uma casa de família em que a boa comida e o bom vinho são protagonistas

O The Dining Room, um salão acolhedor e elegante que reúne a cozinha tradicional britânica e portuguesa, é um dos destaques deste espaço multifacetado, cuja abertura assinala a chegada da Symington ao Porto.

Foto: DR
Ontem às 11:47 | Patrícia Santos

Uma incrível metamorfose teve lugar no interior do nobre e imponente edifício de três andares que há várias décadas se destaca entre os ocupantes da Praça de Carlos Alberto, no Porto. A construção azul pastel, que data do século XVII e já serviu de morada ao pintor Júlio Resende, é agora uma autêntica meca gastronómica e vínica, à qual os devotos de bons momentos à volta da mesa se dirigem para viver as mais diversas experiências sensoriais. Por estes dias, há um wine bar, um restaurante e uma garrafeira para explorar, mas a Must sabe que, em setembro, também um bar de cocktails e uma wine academy se vão abrir aos visitantes do Matriarca. O espaço assinala a estreia da Symington, emblemática produtora de vinhos com presença em Vila Nova de Gaia desde 1882, na margem norte do rio Douro. 

A figura de Beatriz Leitão Carvalhosa Atkinson, que nasceu na Invicta em 1870 e já tinha laços familiares com o comércio portuário antes de conhecer e casar com Andrew James Symington – o primeiro do clã a chegar à cidade –, é a grande inspiração para o concretizar deste sonho antigo, que a marca acredita ser um "novo e audacioso capítulo" no universo da enogastronomia.

"A vontade de fazer alguma coisa no Porto não é recente. Foi um processo longo, conduzido sem pressas, até para assegurar a qualidade que nos caracteriza. Vimos outros edifícios, mas acabamos por nos encantar com este", começa por contar Vicky Symington, gestora de marketing de enoturismo do grupo. O negócio foi fechado em 2019, contudo, imprevistos como a pandemia de Covid-19 atiraram a inauguração para seis anos depois, especificamente para o último 20 de junho.

A construção azul pastel, que data do século XVII e já serviu de morada ao pintor Júlio Resende, é agora uma autêntica meca gastronómica e vínica, à qual os devotos de bons momentos à volta da mesa se dirigem para viver as mais diversas experiências sensoriais
A construção azul pastel, que data do século XVII e já serviu de morada ao pintor Júlio Resende, é agora uma autêntica meca gastronómica e vínica, à qual os devotos de bons momentos à volta da mesa se dirigem para viver as mais diversas experiências sensoriais Foto: DR

"Em Gaia, temos as caves, com uma vertente muito educacional e técnica, centrada em provas e visitas. Aqui, queríamos algo diferente, que nos permitisse apresentar o vinho do Porto, tanto a turistas como a locais, num estilo mais descontraído e de lifestyle. Para isso, desenvolvemos conceitos distintos em torno deste produto, de modo a demonstrar a versatilidade do mesmo e as suas várias fases", acrescenta.

Na base de tudo, a memória de uma mulher pioneira. "A história da nossa família começou com a Beatriz, que é luso-britânica. Apesar de estarmos em Portugal há cinco gerações, ainda temos essa dualidade. Continuamos ligados por duas culturas. Quisemos uni-las num só espaço, que espelhasse o espírito dos animados convívios organizados pela nossa matriarca. Ela adorava juntar amigos e familiares em torno de boa comida e bons vinhos, fazendo-os sentir em casa. É essa sensação que desejamos causar a quem nos visita", conclui Vicky.

Do copo ao fim do dia aos eventos especiais 

No piso térreo, encontra o The Wine Bar, um sítio descontraído e acolhedor, cuidadosamente pensado para os que gostam de "experimentar coisas às quais nem sempre têm acesso". Entre espumantes, tintos, rosés, brancos e fortificados, há dezenas de rótulos nacionais e internacionais, que estão disponíveis a copo e chegam de diferentes produtores e regiões, para provar. As referências podem ser acompanhadas por pratos, ideias para partilhar, como croquetes de pato (€8), berbigão com molho de limão e ervas (€12/200g), polvo na brasa com saladinha de pimentos (€14) e mousse de chocolate com amêndoas do Douro (€4). Também no rés-do-chão, fica a The Cellar Shop, preenchida apenas com elementos do portfólio do grupo, onde é possível fazer provas sem necessidade de reserva prévia.

Ao subir um andar, depara-se com o The Dining Room, um ambiente clássico e elegante sob a orientação de Pedro Lencastre Monteiro. "Acho que, atualmente, os restaurantes tendem a apostar numa cozinha de autor e vanguardista. Aqui, pela ligação ao edifício e à família, preferimos uma abordagem mais clássica, que refletisse a história familiar, com raízes no Reino Unido e no Douro. Fizemos então um híbrido entre as duas gastronomias, construído com ingredientes locais e sazonais, a partir do que, no nosso imaginário, eles comeriam em casa. "Claro que não é algo 100% fiel. Trata-se de uma reinterpretação desses sabores", explica o chef portuense que, aos 34 anos, já passou por espaços como o The Yeatman (Gaia), o Belcanto (Lisboa) e o Ocean (Porches). 

O chef Pedro Lencastre Monteiro
O chef Pedro Lencastre Monteiro Foto: DR

Aberto apenas aos jantares, o The Dining Room funciona com duas opções de menu. Enquanto o primeiro inclui entrada e prato principal (50 euros), o segundo, por mais 10 euros, acrescenta-lhe sobremesa. Ambos incluem couvert e água. O cozinheiro fala-nos de "uma carta bastante simples, direta e homogénea, sem grandes experimentalismos", na qual brilham sugestões como o bife Wellington, servido com queijo de couve-flor. "Sendo um dos melhores exemplares da gastronomia clássica e um best-seller da cozinha moderna inglesa, que todos têm como exemplo, acaba por ser um dos melhores representantes do nosso conceito", indica Pedro.

Creme de sapateira com scones e creme fraîche; tártaro de novilho, caviar e enguia fumada (entradas); cordeiro de leite com favinhas, hortelã e batata fondant; arroz de forno com queijo da ilha, avelã e alho francês assado (principais); entremet de citrinos e maracujá, e Paris-Brest de avelã e chocolate (sobremesas) estão entre as possibilidades na hora de fazer o pedido. Para já, não há pairings vínicos definidos, mas, caso precise de ajuda na hora de eleger a referência que melhor combina com as suas escolhas, pode sempre aconselhar-se com os sommeliers de serviço.

No último piso, ganha forma o The Attic Bar, focado em cocktails com vinho do Porto, e a wine academy, que vai realizar cursos, masterclasses e workshops criativos. Já em funcionamento está o clube de enófilos (a partir de 350 euros por ano), com cerca de 80 membros. Estes, além de receberem, duas vezes por ano, uma caixa com garrafas selecionadas pela Symington, têm acesso à loja online privada, a descontos e a um programa especial de eventos que inclui visitas a vinhas. 

No The Attic Bar está em funcionamento o clube de enófilos (a partir de 350€ por ano), com cerca de 80 membros
No The Attic Bar está em funcionamento o clube de enófilos (a partir de 350€ por ano), com cerca de 80 membros Foto: DR

Ainda que concebido pelos designers londrinos do estúdio Thurstan, liderado por James Thurstan Waterworth, antigo diretor de design europeu da Soho House, o Matriarca foi decorado por artistas e artesãos locais

Onde? Rua Actor João Guedes, 14 (Porto). Quando? Segunda a domingo, das 12h00 às 24h00 (The Wine Bar). Quarta a domingo, das 19h30 às 22h30 (The Dining Room). Segunda a domingo, das 10h00 às 20h00 (The Cellar Shop). Reservas? 910 886 628

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