Prazeres / Lugares

48 horas no Douro, entre paisagens de cortar a respiração

Em linhas paralelas e outras em diferentes posições, as vinhas moldaram o cenário idílico do Douro, que se tornou um destino muito apetecível para os turistas. Conheça algumas das paragens obrigatórias para um fim de semana a norte do país.

Foto: Quinta do Panascal
24 de maio de 2023 | Inês Aparício
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Há uma década, o Douro estava mais isolado do que nos dias de hoje. Contudo, desde maio de 2016 que o Túnel do Marão veio encurtar distâncias, facilitando o transporte de mercadorias para os hotéis, restaurantes e quintas aí instalados e atraindo mais empresas e trabalhadores.

Com cerca de seis quilómetros de extensão, esta passagem inserida na A4, entre Amarante e Vila Real, tem sido o percurso escolhido por Paulo Santos, atual diretor do The Vintage House Hotel, no Pinhão. "Abriu poucas semanas depois de cá estar", lembra, acrescentando: "Ainda fiz algumas viagens pela IP4, mas, entretanto, o túnel abriu".

O homem do leme deste hotel de cinco estrelas, que mantém ainda muitas das características do edifício original - uma cave de vinho do Porto - pertencente a uma distinta família desde o século XIX, viu o espaço evoluir ao longo dos anos e apercebeu-se do boom de turismo na zona. 

Foto: The Vintage House
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Quando chegou ao The Vintage House, dizia-se que os meses posteriores ao verão eram bastante calmos. Nos primeiros dois meses do ano, chegavam mesmo a fechar, aproveitando a época baixa para manutenção. Porém, este cenário não reflete, de todo, a realidade atual.

"Foi interessante ver, de 2018 para 2019, a grande volta que o Douro levou", comenta e adiciona: "Se a pandemia não tivesse chegado, acredito que 2020 teria sido um dos melhores anos de turismo", continuando, posteriormente, em sentido "crescente".

Paulo Santos garante que os valores pré-pandemia já foram, nestes primeiros meses de 2023, ultrapassados. Os turistas procuram as margens do rio Douro, com paisagens que parecem tiradas de um filme, para as férias. E é, assim, que o hotel vai ficando repleto, essencialmente de americanos, ingleses e portugueses. E entende-se porquê.

Ao abrir as janelas, nos quartos, os hóspedes têm uma panorâmica de cortar a respiração sobre uma imensidão de água, onde pequenas embarcações navegam, de quando a quando, e várias montanhas verdejantes, ziguezagueadas por vinhas e outras plantas. 

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Foto: The Vintage House

Há também uma piscina, à qual os hóspedes têm acesso, em alguns casos, diretamente por uma das portas do quarto. No verão, quem aí pensar refrescar-se, poderá pedir as várias propostas inseridas no menu exclusivo para essa área. Pode também subir até à zona do bar "library" para desfrutar de uma tábua de queijos tradicionais ou de uma tosta em pão rústico, enquanto lê um livro junto à lareira ou aprecia a paisagem na esplanada. 

Por uma passagem (quase) secreta, tem acesso à icónica estação ferroviária do Pinhão. Conhecida pelos seus azulejos representativos de todo o processo de produção do vinho - desde as vindimas ao transporte em barcos rabelo até às caves em Vila Nova de Gaia -, é um ponto de paragem obrigatório. Especialmente, dada a sua proximidade. Afinal, tem apenas de subir umas escadas, passar um portão e atravessar as linhas já inutilizadas para o lado do edifício histórico.

Um novo ciclo

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Recentemente, o hotel virou mais uma página da história. Depois do antigo chef do seu restaurante, o Rabelo, ter saído para outro projeto, chegou o chef Carlos Marques para assumir a cozinha. Esta mudança aconteceu há cerca de três meses, altura em que a carta sofreu também alterações. 

Foto: The Vintage House

Aberto ao almoço e jantar, o espaço recebe quer quem está aqui hospedado ou não. Todos podem provar a nova ementa do chef de Espinho, com um conceito mais formal à noite e, a meio do dia, com um menu diário.

Da carta, que reflete "muitas nuances do que é o Douro Superior", faz parte uma sopa da vindima, um creme de feijão com enchidos e couves (€9), um frango assado com batata e salada (€22), um dos pratos preferidos de Carlos Marques ou ainda um polvo cozinhado numa redução de Vale Bragão (€28).

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À mesa, chegam também, num primeiro momento, diferentes tipos de pão, acompanhados por um azeite vindo ora da Quinta do Vallado ora da Quinta da Roêda. Esta última, a menos de dois quilómetros do hotel, também merece uma visita. 

Visitas e piqueniques por entre vinhas

Entre vinhas de diferentes castas e sempre com o rio Douro no olhar, é possível conhecer melhor o universo vínico, na visita "À Descoberta da Quinta da Roêda". Com a ajuda de uma aplicação criada propositadamente para o percurso, os turistas conseguem, de forma autónoma, aprender mais sobre toda a produção de vinho do Porto. 

Disponível em português, espanhol, francês e inglês, a aplicação é descarregada antes de iniciar o trilho por 11 paragens, durante cerca de 1h30 - tempo que varia de pessoa para pessoa, claro. É aconselhável que inicie o passeio da parte da manhã, para evitar o calor habitual da hora de almoço. (A visita tem um custo de €8 e as reservas podem ser realizadas no site da Quinta da Roêda ou através do contacto 220 133 102).

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No final, pode aproveitar para degustar diversos vinhos, na Sala de Provas, ou por fazer um piquenique numa das mesas disponíveis junto às vinhas. Quem prepara a refeição ao ar livre é a própria quinta, consoante reserva prévia, na mesma plataforma online, com pelo menos 48 horas de antecedência. Dentro de uma clássica cesta de piquenique surge uma seleção de pão, queijos e enchidos, azeitonas, doces tradicionais, uma garrafa de vinho e outras opções. Existem duas alternativas à escolha - o clássico e o premium -, que custam €38 (para uma pessoa) e €60 (para duas), respetivamente. 

Foto: Quinta da Roêda

Mais tradicional, com sabor a casa

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Também detida pela The Fladgate Partnership, tal como o The Vintage House e a Quinta da Roêda, existe uma outra quinta mais caseira e familiar, a do Panascal. Contudo, esta fica mais afastada destes dois pontos.

Em Valença do Douro, a cerca de 15 minutos de carro desde a Roêda, encontra a principal propriedade da Fonseca, que tem sido um "importante contributo para os lotes dos vinhos do Porto vintage". Daí, têm-se uma vista magnífica para um dos afluentes mais importantes do Douro, assim como para as árvores de fruto que depois se traduzem em pratos que chegam ao prato. 

Foto: Quinta do Panascal

Há uma procura por levar para as várias salas onde é possível almoçar (por norma, grupos de mais de dez pessoas) os produtos mais frescos e locais.

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É assim que, pelas mãos de duas mulheres da região, Mila e Lúcia, são levados para a mesa um creme de abóbora, muito aromático, com um toque de hortelã, o cabrito assado, que se desfaz ao cortar, com cenoura, feijão verde e batatas, e, para terminar, o leite de creme caseiro, extremamente suave. 

Foto: Quinta do Panascal

Além disso, existem visitas ao espaço, todos os dias, entre as 10h e as 18h30 (a última entrada ocorre, idealmente, às 17h30), que terminam nos lagares. Aí, Miguel Campos, responsável de enoturismo das quintas da Roêda e do Panascal, conta que fazem a pisa das uvas, sem recurso a máquinas.

Os trabalhadores, descalços, são guiados por um marcador, como é designado, que marca o ritmo. "Um, dois, esquerdo, direito, um, dois,…", diz, enquanto os restantes permanecem em silêncio, sempre a marchar sincronizados.

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Foto: Quinta do Panascal

Durante a vindima é possível ver não só este processo, como a própria apanha da uva. 

As visitas, que começam num miradouro onde é possível conhecer as principais castas do vinho do Porto, demoram cerca de 40 minutos, consoante o passo e tempo durante as paragens, e devem ser marcadas com antecedência, através do email visit.panascal@fonseca.pt ou do contacto 220 133 102.

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