Prazeres / Artes

#POPtrait. Os retratos de Maísa Champalimaud

A artista plástica luso-brasileira vai inaugurar a sua nova exposição da Galeria Óriq, no próximo dia 8 de maio. A "Must" esteve no atelier da pintora para uma conversa sobre arte, inspiração e como ultrapassar o terror de tela em branco, e aproveitou para espreitar algumas das suas obras.

Foto: DR
02 de maio de 2025 | Madalena Haderer
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#POPTrait, nome da exposição que a artista plástica Maísa Champalimaud inaugura no dia 8 de maio, na Galeria Óriq, é um jogo de palavras que remete para as hashtags das redes sociais, a pop art, e o universo artístico do retrato. Uma interseção de ideias que não surpreende quem já teve o prazer de conhecer Maísa. A Must esteve com ela há cerca de dois meses, quando a artista organizou o primeiro open day de sempre no seu atelier – uma oportunidade rara para perscrutar paredes e mesas cheias de desenhos e pinturas, com a artista ali ao lado, pronta a responder às perguntas. Ainda que as respostas possam ser perturbadoras, como esta jornalista pôde constatar ao apontar para o quadro de um pássaro que lhe chamou a atenção – sucede que foi o único que sobrou de uma série inteira dedicada aos pássaros e que Maísa rasgou por estar saturada deles. Sobreviveu aquele porque Joana Paraíso, a assistente da artista, o escondeu. Maísa Champalimaud é assim, muito autêntica, repentista e desprendida. Mas tanto é rápida a destruir o que para um olhar exterior não tem defeito, como célere a abraçar o que para uma mente menos artística pode ser uma mácula, como dedadas de tinta feitas pelos filhos. 

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Naquele fim de tarde de fevereiro, dia de verdadeiro dilúvio, já se falava com antecipação e curiosidade da exposição que aí vinha. Curiosidade partilhada pela própria Maísa e ainda mais pela sua assistente – nenhuma das duas fazia ideia de qual seria o tema da exposição. "Se a Maísa não sabe, eu então muito menos...", desabafava, com graça, Joana Paraíso. Mas havia uma coisa, pelo menos, que Maísa Champalimaud sabia: a exposição havia de ter retratos, num regresso às origens da sua formação.

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E, de facto, a artista não desiludiu. #POPtrait dá a conhecer mais de 60 obras, todas retratos de personalidades icónicas das mais diversas áreas: música, literatura, moda, desporto. De pequenos desenhos aos seus grandes formatos que preenchem uma parede. Algumas destas pinturas nascem como exercícios, outras atingem o estatuto de obra final, mas todas fazem parte de uma busca persistente: desenhar, experimentar, errar e voltar a repetir.

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À conversa com a Must, naquela tarde invernosa em que ainda pouco se notava a sua gravidez, Maísa Champalimaud falou sobre o seu trabalho com a leveza refrescante de quem não se leva demasiado a sério: "Ai, eu não tenho, assim, grandes ideias. Grandes, pequenas. Cada vez mais, aquilo que eu pinto é exatamente aquilo que eu sou. É muito espontâneo e faz tudo parte da minha vida. Ou as minhas viagens, ou os meus filhos, ou as minhas emoções. Mas nunca penso em nada, assim, de grandes eloquências. É muito, muito a minha vida e os meus pensamentos. E coisas de há dez anos que ainda continuam aqui. E eu ainda continuo à volta destes pensamentos e volto a pintá-los e a repintá-los. Mas depois, quando eu olho, consigo ver uma unificação de tudo. Porque é tudo muito meu, muito casa." Conclui abrindo os braços para abarcar tudo o que podemos ver em redor: "Isto não é pintura, isto não é nada. Isto são os meus desenhos. E estou aqui a mostrar o meu atelier, a minha casa, o meu espaço." A modéstia de Maísa é aconchegante, mas há que dizer que o que vimos é de facto pintura, e é muito.

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Num registo quase confessional, questionada sobre o único pássaro que "sobreviveu", Maísa explica que começou a fazer aquela série de pinturas num momento particularmente difícil da sua vida, em que tinha acabado de ter um bebé e, pouco depois, o seu então marido foi vítima de um acidente aparatoso que o deixou hospitalizado e em recuperação durante um longo período. "Estive muito tempo sem pintar e precisava de saber que ainda tinha mão para a pintura. E depois há um grande medo da tela vazia. Medo de falhar. Então, para não ter esse medo, decidi fazer só pássaros. Enchi a minha casa de pássaros. Mas, depois, os pássaros levavam-me muito àquele lugar de tristeza onde eu estava. E, a determinada altura, quis fugir daquela dor, daquele sítio, mas não sabia como refazer a minha vida. E já não podia ver os pássaros, então rasguei tudo. Pronto. Sou muito impulsiva", conta a artista, com uma sinceridade desarmante.

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Joana Paraíso, a assistente, é direta e eficiente na explicação e defesa do trabalho da artista, ou não fosse exatamente esse o seu papel: "O trabalho da Maísa é cor, é vibração, é energia, é emoção. Acho que o fio condutor de todas as pinturas da Maísa é mesmo o despertar de emoções. Ela extravasa tudo na pintura. E a forma como o recetor recebe a mensagem é mesmo com emoção. E se a emoção for diferente, não interessa. Aliás, ela não gosta de explicar uma pintura, porque não faz muito sentido para ela tolher [a interpretação de quem vê] colocando rótulos. Não interessa tanto o que ela quis dizer com a pintura, mas o que a pessoa vai sentir."

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Para Joana, o elemento essencial e diferenciador do trabalho de Maísa Champalimaud é a liberdade: "Ela não se vê como uma artista rigorosa. Ela usa as cores e de repente, por algum motivo, rasgou. Ela aceita, ela abraça o erro de uma forma tão carinhosa, que aquilo se torna parte da pintura. Todos somos um eterno rascunho. E ela, como todos, mostra que é imperfeita e que é a sua própria arte."

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#POPtrait é uma exposição imperdível tanto para quem conhece como para quem não conhece esta artista plástica. E, já sabe, se gostar muito de uma pintura compre-a antes que Maísa decida dar-lhe o mesmo destino que deu aos pássaros.

Onde? Galeria Óriq – Rua Pereira e Sousa 13A, Campo de Ourique Quando? De 8 a 24 de maio Horário? Inauguração dia 8 de maio, das 17h às 22h30; terças e quartas-feiras, das 13h às 17h; quintas e sextas-feiras, das 17h às 20h; e sábados, das 10h às 20h.

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