Já preparou a garrafeira para a mesa de Natal?

Passámos os últimos meses a provar vinhos para fazer esta seleção de 15 magníficos para a quadra natalícia e final de ano. Mais alguns suplentes à altura, que vai ser um longo campeonato à mesa. E lembre-se: oferecer um bom vinho é como oferecer um livro, fica sempre bem. 

Casa da Passarella Fugitivo Tinta Carvalha 2021 

Os vinhos da Casa da Passarella são sempre uma aposta segura e este Tinta Carvalha é a grande novidade, pelo menos nos tintos, tendo começado a ser preparado há já 12 anos, quando selecionaram, nas vinhas velhas, os melhores clones da casta (para fazerem uma plantação a solo). A Tinta Carvalha é hoje quase uma desconhecida, mas na década de 1970 e 80 chegou a ser a segunda e terceira mais plantada na região do Dão. Os motivos para o abandono, presume o enólogo Paulo Nunes, devem-se à baixa produção de açúcar e à cor pouco carregada – quando tudo o que se queria na altura eram vinhos potentes. Hoje, pelo contrário, procura-se mais leveza e elegância no copo e a casta volta a fazer todo o sentido. Estamos a falar de um tinto com um grau alcoólico que pouco ultrapassa os 12º, com a fruta mais contida e o lado vegetal mais evidente. Uma grande surpresa à mesa. Preço: 32 euros

Quinta dos Loivos Sul, Nascente e Poente 2021 

Nasceu um novo produtor no Douro, determinado em apostar tudo em zonas de maior altitude. Tem, aliás, o famoso miradouro, onde se prepara para abrir um restaurante muito em breve. Para já, são 12 hectares de vinhas velhas, plantadas antes de 1930 e todas acima dos 450 metros. Deram origem a três vinhos de parcela que, como um relógio solar, marcam o movimento do astro. Temos assim o Quinta dos Loivos Sul, com exposição plena e, por isso, maior concentração e volume. Temos o Quinta dos Loivos Nascente, que recebe o sol pela manhã e maior amplitude térmica, com temperaturas noturnas mais baixas. Oferece mais frescura e tensão mineral. E temos o Quinta dos Loivos Poente, com um sol tardio a dar origem a um vinho muito suculento, com estrutura profunda e camadas aromáticas complexas. Três perfis, o mesmo ano de colheita (2021) e uma matéria-prima sabiamente gerida por quem sabe muito da poda: Ana Mota, na viticultura, e Jorge Alves, na enologia. Só podia dar grandes vinhos. Preço: 255 euros (o pack com o trio)

Malhadinha Nova Viosinho 2024 

Os vinhos da Malhadinha foram sempre conhecidos pela qualidade - excelentes representantes do Baixo Alentejo - e pelos rótulos, desenhados pelas gerações mais novas da família. Para esta colheita de 2024 renovaram esses rótulos, agora inspirados na flora e na biodiversidade da herdade, como é o caso do Dente-de-leão, desenhado pela Benedita. Ilustra muito bem o Viosinho, que chega à segunda colheita marcado por um bom volume de boca e uma acidez fina que o tornam especialmente apelativo à mesa. Nos tintos, destaque para a Touriga Nacional, com os taninos bem domados e muita estrutura, para acompanhar assados e pratos mais ricos e gordurosos. Preço: 22 euros (35 euros) 

Quinta de Azevedo, Torre Grande Escolha 2022 

Para quem ainda torce o nariz a um Verde, saibam que os brancos da região do Minho estão cada vez mais surpreendentes e melhores – ao nível de um grande branco mundial, especialmente se pensarmos na relação qualidade-preço. É claramente o caso deste Torre Grande Escolha da Quinta de Azevedo, um vinho altamente gastronómico, com textura, untuoso e fruta madura (alperce e pêssego sobretudo), fruto das castas que fazem o blend: Alvarinho (70%) e Loureiro (30%). Foi elaborado apenas com as melhores parcelas da quinta e estagiou oito meses em madeira, em tonéis de 1200 ou 2000 litros, com enologia de Diogo Spúlveda, chefe de enologia na Sogrape. Outra boa opção será o Loureiro, mais em conta, mas igualmente sério, com a acidez natural da casta bem equilibrada pelo estágio em tonel, o que ajuda a puxar pelo lado mais gastronómico. Notável. Preço: 30 euros (12 euros) 

Quinta do Adorigo Tinto 2023 

A Quinta do Adorigo é mais um grande projeto a nascer no Douro, e já com adega premiada. Os vinhos seguem pelo mesmo caminho, com enologia de Luís Seabra e muita vinha velha, de 1955, a dar origem a um branco e um tinto incríveis. O branco, com densidade, profundidade e muita energia; o tinto, com perto de 38 castas diferentes nas vinhas velhas, mais uns toques de Touriga Francesa e um pouco de Roriz. Tem mais volume de boca do que acidez, e consegue transmitir frescura e calor ao mesmo tempo. Douro puro, engarrafado. Em alternativa, tem os Trama, branco e tinto, especialmente o branco, que continua a ir à madeira (foudres) de 2500 litros e tem um perfil pouco floral, muito seco. Segunda linha, o mesmo cuidado. Preço: 30 euros (17 euros)

São Luiz, Winemakers Collection, Grande Reserva Branco 2021 

A produção de vinho em Portugal tem algumas idiossincrasias - e uma delas são estas classificações como Grande Reserva. Noutros países obedecem a critérios muito específicos, mas aqui não: são um selo de qualidade, uma vez que é um painel de provadores a decidir que aquele vinho é mesmo especial – e por isso merece o título. Um branco de Folgazão (60%) e Rabigato (40%) que estagiou quatro anos em barricas usadas, floral e vegetal q.b., com notas de casca de laranja e até salinidade, vá-se lá saber porquê. Terá a ver com a composição mineral do microterroir, provavelmente. Do mar não é, certamente, porque estamos em pleno Douro. Boa cremosidade. Do lado dos tintos, a sugestão será outro Grande Reserva, de 2021, de vinhas centenárias e com um lado exuberante de fruta preta. Preço: 30 euros (45 euros) 

Pista Wines Tapada da Fonte Rosé 2024 

Mais um jovem produtor, desta vez de Alter do Chão, Portalegre, e em altitude (400 m). Um projeto nascido do zero em 2020, mas que, apesar da juventude das vinhas, consegue apresentar bastante qualidade - incluindo ótimas pontuações junto da crítica. Bem evidente no Reserva Branco, um 50/50 Alvarinho Arinto, super fresco na boca e no nariz, mas complexo, a revelar potencial de harmonização. Dito isto, o Tapada da Fonte Rosé 2024 é surpreendente, com doses certas de fruta do bosque, morangos e groselha e temperado por uma boa acidez. Provavelmente não estava a pensar num rosé para a mesa de Natal, mas este vai acompanhar muito bem as carnes brancas. Preço: 9,80 euros (35 euros) 

Materramenta D.O. Biscoitos 2024 

Os vinhos dos Açores ganharam nova vida nos últimos anos, mas as atenções voltam-se sobretudo para o Pico quando, na verdade, há muito mais vinho merecedor da nossa atenção. É o caso deste Materramenta da Ilha Terceira. Um 60% Verdelho, 40% Arinto, de uvas que nascem naqueles solos pobres, negros, vulcânicos e fustigados pelo mar. É um vinho de uma pureza incrível, que chega a ser rigoroso como o clima, mas revela uma elegância que nos faz viajar. Muito mineral, de acidez crocante e aquele perfil salino típico dos vinhos açorianos. Ótimo para acompanhar queijos e tudo o que vem do mar. Preço: 37 euros 

No Rules Wines, Código Selvagem Branco 2024 

Tal como o nome indica, é um vinho que expressa bem a natureza única da Serra da Estrela - nascido em duas vinhas velhas, de muitas castas misturadas, e com fermentação espontânea. É vibrante na acidez, cheira a pedra molhada e a maçãs verdes, tem estrutura e complexidade. Um excelente exemplo de intervenção mínima da parte do enólogo -Tiago Macena, que está a um passo de se tornar no primeiro Master of Wine português. Excelente para acompanhar tudo o que é ave na mesa de Natal. Já o Encruzado Cru é ligeiramente menos complexo e surpreendente, mas igualmente sedutor. Nenhum dos dois passa por madeira e o preço é o mesmo, mas o Encruzado tem muito mais garrafas disponíveis. Preço: 20 euros 

Quinta da Romeyra Espumante 2023 

Bem sabemos que muitos portugueses (ainda) são avessos ao espumante à mesa, mas é seguramente o vinho mais versátil em termos gastronómicos. Vai bem com tudo, graças à sua acidez, frescura e às bolhas, perfeitas para limpar o palato. E como as bolhas deste Romeyra são elegantes… É o primeiro espumante da histórica Quinta de Bucelas, por onde Wellington ficava enquanto combatia os invasores franceses — e de onde nunca saía sem levar várias caixas de Arinto para Inglaterra. A mesma casta que está na origem deste espumante, que deixou o enólogo Luís Cabral de Almeida, compreensivelmente, orgulhoso. Preço: 12 euros 

Adega Mãe Terroir Tinto 2016 

Tem notas de frutos pretos e um lado vegetal que lhe confere carácter. É vigoroso, com taninos bem maduros e muito harmonioso - é preciso tempo para atingir este estado de graça e, como se percebe pela data, este tinto teve-o. Por isso venceu o Melhor Vinho Tinto de Lisboa 2025. Perfeito para pratos de carne mais intensos. Para acompanhar bacalhau e polvo, a Adega Mãe tem uma novidade muito interessante: um Gouveio, que se revelou muito cremoso e equilibrado. Parece-nos muito versátil à mesa, para peixes mais gordos e assados. Preço: 55 euros (10,45 euros) 

Quinta da Taboadella Unoaked branco 2024 

O antigo Villae ganhou novo nome, chamando a atenção para o facto de não ter madeira – nunca teve. Uma expressão muito viva e pura de um dos mais magníficos microterroirs do Dão. A Taboadella, aliás, é uma das quintas que melhor trata a casta Encruzado, que lhe dá esse lado mais puro, e que aqui surge acompanhada pelo Bical e Cerceal Branco (40%, 40% e 20%). A primeira acrescenta-lhe aromas mais florais e ricos; a segunda, um toque de austeridade muito bem-vindo, que melhora a dimensão gastronómica. Temos também um Unoaked Tinto, um blend único da robustez da Tinta Roriz, da energia da Jaen, da mineralidade refrescante do Alfrocheiro e dos aromas a bosque da Tinta Pinheira. Enologia de Rodrigo Costa. Preço: 12 euros 

Adega Mayor Caiado Tinto 2023 

Um alentejano bastante fresco e com muita aptidão para a mesa. Não viu madeira e, na boca (assim como no nariz), apresenta notas de cereja e groselha. Muito agradável, percebe-se que é um vinho de entrada de gama feito com cuidado. A gama, aliás, está no top 3 dos vinhos mais vendidos do Alentejo, e com justiça. Preço: 6 euros 

Herdade do Rocim Sommelier Edition Branco 

Este Rocim Sommelier Edition Branco nasceu da longa amizade que une Pedro Ribeiro ao sommelier luso-francês Thomas Domingues - o convidado para dar vida a mais um capítulo desta interessante edição que junta escanções ao produtor. Temos aqui um vinho extremamente moderno, elegante, fresco e mineral, apesar do nome das castas: Arinto, Perrum e Rabo de Ovelha, num blend de vinhas velhas. Foi vinificado em barricas usadas e em ânfora, o que explica ser tão especial. Preço: 31 euros. 

São Domingos Lopo de Freitas Magnum 2016 

Mais um vinho feito com tempo. Desta vez, um espumante que nasceu nas históricas Caves do Solar de São Domingos, na Bairrada - a fazer espumantes segundo o método clássico desde 1937. Produzido a partir de Cerceal e Chardonnay, estagiou mais de 100 meses em cave sur lies. Tem um toque cítrico e uma estrutura bastante cremosa e acidez viva… e em formato magnum. Preço: 25 euros