Prazeres / Drive

BYD Atto 3 – Sim, é nome de carro... e é elétrico

Comecemos pelo fim, pelas conclusões: aquela imagem preconceituosa contra as marcas chinesas? Esqueçam. Esta, tal como uma outra (de outro país), veio para ficar.

Foto: D.R
26 de junho de 2023 | Luís Merca
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BYD? Que marca é esta?

Fundada em 2003, a BYD Auto Co. Ltd é um dos maiores fabricantes mundiais de viaturas elétricas. Assim, tout court. A sigla significa Build Your Dreams, "Constrói os Teus Sonhos", em português. Convenhamos que "CTS" seria uma sigla algo estranha para um automóvel – enfim, não é que BYD seja muito habitual...

O grupo BYD é, por sua vez, um dos maiores fabricantes de baterias para eletrónica de consumo, e decidiu lançar-se no mercado automóvel para fabricar veículos elétricos, dando atualmente cartas no Império do Meio como bestseller de VE [Veículos Elétricos]. Ser líder na China significa que se é, necessariamente, um dos maiores do mundo. Além de automóveis, fabrica também autocarros, bicicletas elétricas, camiões, empilhadores e pilhas recarregáveis. Tudo elétrico e, no mercado interno, complementado por modelos híbridos plug-in (PHEV para os amigos). Não é difícil, por isso, imaginar que a BYD fabrique também as suas próprias baterias, o que é uma vantagem de peso, aproveitando o know-how e a economia de escala. Chips, semicondutores? Também são fabricados "em casa", obrigadinho, o que colocou a marca chinesa ao abrigo dos prejuízos que a falta global destes equipamentos causou à economia mundial. 

Foto: D.R
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Modelo Atto 3

Trata-se de um SUV compacto, aquilo a que na Europa ainda se chama o segmento C. Concorrente do VW ID.3, do KIA e-Niro e do Hyundai Kauai electric, o Atto 3 baseia-se na e-Platform 3.0, uma plataforma criada de raiz pela BYD para modelos 100% elétricos. A bateria é quase perfeitamente plana, pesa 420 kg e está colocada sob o habitáculo, contribuindo para um bom centro de gravidade. A sua capacidade é de 60.5 kWh e alimenta um motor elétrico colocado sobre o eixo dianteiro – trata-se, portanto, de um tração à frente. Os 204 cavalos que debita, e o binário de 310 Nm, permitem uma velocidade máxima anunciada de 160 km/h e uma aceleração dos 0-100 km/h em 7.3 segundos. A autonomia é de 420 km em ciclo combinado e de 565 km em cidade (ambos WLTP). Num posto de alto débito, a bateria demora 29 minutos para ir dos 30 aos 80%, enquanto a carga completa demora 80 minutos. Já numa tomada doméstica, demora quase 10 horas a carregar dos 0 aos 100%. 

Foto: D.R

No exterior, sobressaem as linhas modernas, sem adornos nem exageros estilísticos – aqui o supérfluo não tem lugar e isso permite ao Atto 3 viver bem na atual paisagem estilística europeia. O design interior, esse é mais ousado: três cordas (elásticos) em cada porta evocam uma guitarra, enquanto que as saídas de ar apresentam talvez o menos conseguido pormenor de estilo, mais parecendo um alinhamento de argolas saídas de um número de circo – mas são gostos e estes, até prova em contrário, não se discutem. Já as manetes de abrir as portas – e não alavancas – funcionam na horizontal e as ditas portas abrem-se puxando para trás uma pequena plataforma arredondada. Engraçado, original, adiante. 

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Foto: D.R

A eletrónica é perfeitamente omnipresente, há comandos para quase tudo e mais não sei quê – e até o ecrã táctil de 15.6", no centro do tablier, pode ser rodado 90 graus, a partir do volante, alternando entre uma disposição horizontal ou vertical. 

Espaço nos lugares traseiros é coisa que não falta e a bagageira também é de destacar: 555 litros é um valor muito bom para o tamanho do Atto 3 e para o segmento em que ele se insere.

Último ponto antes de nos sentarmos ao volante: o Atto 3 conseguiu a classificação de cinco estrelas EuroNCAP, o que a marca não se esquece de sublinhar, um pouco para aqueles que ainda pudessem ollhar de soslaio para a segurança de uma marca chinesa. 

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Foto: D.R

Ao volante

Existem três modos de condução: Eco / Normal / Sport. Botão start/stop premido, caixa em D, acelerador... e a baixa velocidade há um som perfeitamente audível – obrigatório por lei – quer do exterior, quer também no interior. Não é a coisa mais agradável, mas enfim, dura lex, sed lex, a lei é dura mas é lei – e é para todos. Tirando isso, a marcha em cidade é silenciosa q.b., valha-nos isso.

Algo que se nota logo aos primeiros metros de condução: a regeneração de energia ao levantar o pé do acelerador traz "pouco travão", o que, aliado à ausência da posição B na caixa de velocidades, impede a condução com um só pedal. Em andamento, o Atto 3 é confortável, cortesia da suspensão independente às quatro rodas e dos pneus de perfil um pouco mais alto. No que respeita ao consumo, a BYD anuncia 15.6 kWh/100 km, que não conseguimos atingir, seja devido a "pé pesado", seja devido ao otimismo da marca. Em termos dinâmicos, desenvencilha-se bem de algumas "maldades" que lhe tentámos infligir, mas nota-se perfeitamente que a afinação geral visa mais o conforto do que as prestações desportivas. 

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Foto: D.R

Conclusões

Um tiro certeiro de uma marca que entrou muito recentemente no nosso mercado e que até ao final do ano oferecerá uma gama bastante alargada, com um sedan de dois motores que pretende rivalizar com o Tesla Model S (viram? é para que saibam), mais um SUV de sete lugares, mais um citadino que poderá vir ter um preço de "combate" para se implantar no mercado. Para já, este Atto 3 custa entre os €41,990 e os €43,490, consoante as versões Comfort e Design, respetivamente. A BYD não pretende impor-se pelo preço baixo; privilegia, isso sim, a tecnologia. E nesse departamento, a primeira prova foi (largamente) superada. Venham os próximos modelos!

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