Viver

O Cinema Português revolucionário chega a Nova Iorque

"The Ongoing Revolution of Portuguese Cinema": de 17 de outubro a 19 de novembro, o Museu de Arte Moderna (MoMa) junta-se à Cinemateca Portuguesa numa série composta por 40 filmes portugueses inspirados na liberdade.

Foto: @Museum of Modern Art
21 de outubro de 2024 | Lara Duarte / Com Rita Silva Avelar

O cinema como meio de revolução: a premissa é, no fundo, essa. A revolução pode ser artística, social, científica, religiosa, entre outras, mas, no caso de Portugal, há uma particularmente importante: a Revolução dos Cravos. Há 50 anos, a 25 de abril, a revolução que destronou o estado ditatorial culminou numa série de outras revoluções e expôs a cultura que tinha vindo a ser feita em segredo.

Scenes from the Class Struggle in Portugal, 1977, Portugal, realizado por Robert Kramer.
Scenes from the Class Struggle in Portugal, 1977, Portugal, realizado por Robert Kramer. Foto: @Museum of Modern Art

A Arte é uma reflexão dos seus tempos e a 7ª Arte não é exceção. Segundo o MoMa, o cinema português fazia "cinema híbrido" quando este ainda não era habitual, através de ferramentas de documentário para criar ficção (e vice-versa). Assim, relacionava a vida quotidiana com as condições políticas que limitavam o dia-a-dia. Ainda durante o Estado Novo, já Manoel Oliveira explorava o Cinema Novo feito no estrangeiro. Depois do 25 de abril, este movimento passou a centrar-se nas comunidades operárias e as suas novas condições de vida, atraindo até cineastas estrangeiros, como é o caso de Robert Kramer e Thomas Harlan. O MoMa acrescenta que "esta série traz à luz uma tradição estética em que fazer filmes - e vê-los - se torna um gesto político e existencial e cria um espaço de resistência às forças homogéneas e opressivas que nos constrangem nas nossas vidas". Além do espírito da revolução, nos seguintes 50 anos e até à atualidade, realizadores como João César Monteiro, António Reis e Margarida Cordeiro através dos seus filmes e documentários influenciaram cineastas como Manuela Serra e António Campos que, por sua vez, influenciaram realizadores como João Pedro Rodrigues, Pedro Costa e Miguel Gomes e assim continuarão. Através da riqueza da sua história, este ciclo mostra aos novos talentos que têm muito por onde se inspirar e manter esta arte viva, quiçá um dia serão também exibidos no MoMa.

Os Verdes Anos, 1963, Portugal, realizado por Paulo Rocha.
Os Verdes Anos, 1963, Portugal, realizado por Paulo Rocha. Foto: @Museum of Modern Art

Partindo do pré e pós-revolução, esta série conta a história do cinema português através de obras cinemáticas ilustrativas, por vezes com sessões introduzidas por críticos, cineastas e jornalistas. O curador desta série é o curador assistente do Departamento de Cinema do MoMa, o português Francisco Valente. Também membro da Federação Internacional dos Arquivos de Filmes (FIAF), o museu colabora com a Cinemateca Portuguesa, os filmes exibidos contarão com novas cópias digitalizadas, como é o caso do filme Xavier realizado por Manuel Mozos, em 1991, e cópias nos seus suportes originais, do arquivo da Cinemateca. O diretor da Cinemateca Portuguesa foi convidado pelo museu para a abertura do ciclo.

Num programa constituído por 40 filmes, em que muitos não tiveram a visibilidade merecida na época, quanto mais internacional, esta mostra abre as portas a novos espectadores a fim de revisitarem obras históricas do cinema português.

Saiba mais Viver, Cinema, Cinema Português, Festival, Cinemateca Portuguesa, Museu de Arte Moderna, Nova Iorque, MoMa, Francisco Valente
Relacionadas

E se Lisboa fosse uma cadeira?

O designer japonês Keiji Takeuchi criou uma cadeira reclinada, pensada para aproveitar o verão da melhor forma, e decidiu chamar-lhe Lisboa. E embora o sossego, por estes lados, não seja muito, varandas soalheiras, mesmo a pedir uma "lounge chair", é o que não falta.

Mais Lidas