Prazeres / Sabores

James Martin’s. Os altos e baixos de um whisky com um segredo e uma história bem portuguesa

De whisky de reis ao rei dos whiskies, esta é a história de um grande blend da escócia.

Foto: D.R
02 de junho de 2022 | Bruno Lobo

James Martin’s é um daqueles nomes que ao serem lançados numa roda de apreciadores de whisky provocam invariavelmente acenos de aprovação e sorrisos. Ao longo da sua história centenária venceu prémios internacionais e foi o whisky de eleição a bordo dos transatlânticos que ligavam Inglaterra aos Estados Unidos em épocas douradas. Foi escolhido pela casa real britânica e é um dos whiskies mais queridos pelos portugueses até 2013, ano em que se engarrafaram os últimos blends da marca. Aos poucos, a James Martin’s foi desaparecendo das lojas e, como bem diz o provérbio, "longe da vista, longe do coração". Mas o que levou a Glenmorangie, a casa mãe de James Martin’s, a tomar tal decisão? E por que razão a reverteram, passada menos de uma década após terem decretado a sua morte? É o que vamos descobrir, mas para isso temos de começar pelo início.

Em 1878, James "Sparry" Martin (alcunha que vinha dos tempos de pugilista na juventude) montou um pequeno comércio de vinhos e bebidas espirituosas em Edimburgo. As suas ambições passavam, no entanto por criar um grande whisky escocês e a isso se dedicou nos anos seguintes, com evidente e (quase) imediato sucesso. Em 1888 venceu a sua primeira medalha de ouro, no Concurso Mundial em Bruxelas. Dez anos era o tempo de estágio mínimo, para se conseguir criar um whisky de qualidade, como defendia. Repetiu a proeza em Paris (1890) e Antuérpia, em 1899, mas já não viria a assistir à passagem do século, tendo falecido nesse ano.

Foto: D.R

Felizmente que o seu legado perdurou nas mãos de um amigo, Edward MacDonald, da MacDonald & Muir, e foi já sob a sua liderança que o Rei Eduardo VII de Inglaterra escolheu o James Martin’s como o whisky oficial da sua Casa Real. Quem sabe, aliás, se não terá sido por aqui que começou a história de amor entre Portugal e a marca James Martin’s? Por influência de um rei, que deu o nome a um parque…
O certo é a que a fama do blend continuou a crescer nos dois lados do Atlântico, tal como a sorte da MacDonald & Muir, que acrescentava ao portefólio a destilaria Glenmorangie, com uma longa tradição na produção de single malts notáveis. Seria já oficialmente sob esse nome que atrairiam o apetite do grupo Louis Vuitton Möet Hennessy, que em 2004 juntou a marca ao seu portfólio riquíssimo.

Nesse mesmo ano, sob a liderança do Dr. Bill Lumsden, a JM volta a vencer uma medalha de ouro no International Wine and Spirits Competition, cimentando o seu papel de whisky premium, só que desta vez a ditadura do mercado tinha outras ideias e como os Glenmorangie eram os single malt mais vendidos no mundo, a LVMH não quis desperdiçar uma gota num blended, ditando assim o fim da James Martin’s. Mas será mesmo assim?

Foto: D.R

Uisce Beatha
Aparentemente há uma boa razão para a palavra whisky em gaélico significar água da vida, pois o Dr. Bill Lumsden tinha uma pequena surpresa reservada aos fãs: um conjunto de cascos guardados quase em segredo nas caves da Glenmorangie, evoluindo até atingirem o ponto de maturação ideal. Um lote em que o whisky mais novo completa já 32 anos, pleno de vigor, cremosidade e suavidade.
Um lote que deixaria certamente o próprio Mr. Martin orgulhoso, e é um lote de destino único: Portugal! Como país pequeno, não estamos habituados a tanta generosidade por parte de uma grande marca. Não ao ponto de reservar um whisky tão precioso só para o nosso país.

James Martin’s 32 Years Old, uma edição em garrafa Art Deco, remetendo para um tempo em que paquetes cruzavam os oceanos. Uma edição de cor forte, rica, aveludada e exclusiva para Portugal, à venda por 389 euros

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