Prazeres / Sabores

Há um neo-bistro na Ericeira que vai revolucionar esta vila piscatória

A cozinha é de experimentação, as cores são do Oeste e os produtos locais, o café é de especialidade e vinho natural, a estética clean joga com a arte em volta. Por fim, Alex Horbenko, 31, é o chef responsável pelo The Capsule Cafe.

The Capsule Cafe, na Ericeira.
The Capsule Cafe, na Ericeira. Foto: Francisco Nogueira
22 de fevereiro de 2023

Saímos do The Capsule Cafe por volta das 15 horas numa quinta-feira de fevereiro. A sensação? Uma caixa de pandora aberta que não mais pode – ou sequer se deseja – fechar. Torna-se difícil regressar à Ericeira e não pensar em voltar a fazer uma paragem aqui. 

No centro da vila, um prédio de dois andares branco e azul índigo, como aliás os demais naquela zona do Oeste, não denuncia nada de extraordinário. Lá dentro, contudo, sobressai o que parece ser uma estética pensada, muito clean e com ares nórdicos. Em 2021 começou em low start como um projeto dedicado ao café de especialidade, algum tempo depois chegou a cozinha e agora apresenta-se como um restaurante em total funcionamento, inclusivamente com pop-ups a cada mês – lá iremos. 

A proposta de snacks é singular e muito curiosa.
A proposta de snacks é singular e muito curiosa. Foto: Tanya Nikitina

A ideia partiu de um casal ucraniano que em 2018 veio passar férias a Portugal. Tanya trabalhou sempre em marketing e publicidade e Sacha no universo das startups. Decidiram ficar, firmar-se na restauração e trazer uma equipa consigo. Muito atentos, inclusive David Silva, o general manager que nos acompanhou, compõem um grupo sólido de nacionalidades várias: ucraniana, portuguesa e italiana. Também a cozinha acompanha esta multiculturalidade, numa proposta gastronómica inusitada, cuja denominação neo-bistro melhor se aplica, e que recria pratos tradicionais de vários países, sobre uma base de fusão e experimentação.

A preparação dos pratos é feita com todo o rigor e cuidado.
A preparação dos pratos é feita com todo o rigor e cuidado. Foto: Tanya Nikitina

Na mesa jaz um Uivo Pet Nat Branco, um espumante natural da região de Aleijó de bolhas delicadas e que, de resto, nos acompanha até ao fim da refeição. De acidez tolerável, tem um toque tropical. Enquadra-se e deixa o protagonismo para os sólidos. Juntam-se as entradas que arrebatam logo um prato preferido. Há pão de massa mãe e focaccia com kimchi caseiro que emparelham com azeitonas aromatizadas, azeite picante e manteiga de miso, um paté de cogumelos surpreendentemente fresco e um riet de atum com castanha salgada no topo. O respeito pelos produtos de época revela-se nas repetições várias, em diferentes tipologias de pratos. A castanha da estação fria, por exemplo, encontramo-la mais tarde na base de uma sopa com língua de vaca e cogumelos marinados (€16) ou no brownie glúten free com miso de castanha e caramelo (€7,5). A fechar as entradas, uma surpresa, duplo tártaro de carne e peixe: o tartar de carne maturada e atum seco (€14) com chutney de manga e maionese de miso e ainda iogurte e wasabi, a dar um punch final. É um dos pratos mais pedidos. 

Sopa de castanha com língua de vaca e cogumelhos marinados.
Sopa de castanha com língua de vaca e cogumelhos marinados. Foto: Tanya Nikitina

A meio da refeição ocorre-nos que efetivamente não sabíamos ao que vínhamos e imaginamos que aconteça com os demais da vila. Há pessoas vindas do surf com areia nos pés ou cães debaixo da mesa, num ambiente afável e muitíssimo descontraído que não denuncia à partida a complexidade da proposta gastronómica. Uma combinação improvável, deliciosa por sinal. "Oitenta por cento dos nossos clientes ainda são estrangeiros. Há uma certa desconfiança do português, mas queremos mudar isso. Entram aqui numa lógica de carne e peixe grelhado [em semelhança à oferta circundante] e sentimos que saem realmente surpreendidos", conta-nos David entre risos a propósito da nossa constatação. 

A decoração conta com detalhes minimalistas.
A decoração conta com detalhes minimalistas. Foto: Francisco Nogueira

A área não é grande, mas o Atelier Réalité encontrou espaço para uma cozinha aberta, um balcão com lugares rápidos, mesas e sofás com materiais reciclados do produtor inglês Smile Plastic e uma zona de venda, onde se podem encontrar algumas das dez referências nacionais de vinhos naturais presentes na carta. Em redor, arte plástica e pintura, de artistas internacionais. 

Todos os vinhos do The Capsule Cafe são portugueses e naturais.
Todos os vinhos do The Capsule Cafe são portugueses e naturais. Foto: Tanya Nikitina

Como chef executivo, temos Alex Horbenko, que com apenas 31 anos já conta com uma década de experiência em cozinha, sobretudo na Ucrânia. É da cidade de Kherson, mostra-se humilde, quase sem se aperceber do poderio que a sua cozinha pode alcançar. Desconfiamos que não só vamos ouvir falar mais do The Capule Cafe, como do próprio Alex, mais à frente. Depois, continuamos com um prato que é também uma ilusão ótica. Um atum barbecue (€19), confeccionado com caldos de peixe e carne, em consonância com a política zero waste da casa, com um molho de alho negro de base, ketchup de espinafres e um mil folhas de gratin com taro e rabanete branco À primeira vista confunde-se com entrecosto, perceberá a provocação quando pedir. Já no fim, sobressai o cheesecake basco (€9) com tinta de choco, crumble de trigo sarraceno e um crunchy de algas várias no topo. É seguro adivinhar que nunca provou algo igual. 

Alex Horbenko, chef executivo do The Capsule Cafe.
Alex Horbenko, chef executivo do The Capsule Cafe. Foto: Tanya Nikitina

No primeiro mês de 2023, o The Capsule Cafe começou com os pop-ups, uma série de eventos que se querem mensais no futuro e em que a equipa pode dar assas à criatividade e arrojar em propostas fora da carta. Janeiro começou com um primeiro evento vínico e para o São Valentim pensou com um inusitado menu de degustação. É aguar (e aguardar) por mais. 

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