Este é, possivelmente, o melhor restaurante que abriu no último ano
No Ryoshi serve-se tradição a preços democráticos. E podem começar por esquecer o sushi, porque Lucas Azevedo quer trazer toda a riqueza da gastronomia japonesa ao seu novo restaurante. E já foi eleito como o melhor restaurante inaugurado em 2024.

A música mais alta, a decoração, os bartenders a servirem cocktails em uniforme de equipa de basebol japonesa… não há dúvida de que o Ryoshi tem um ambiente descontraído e divertido.
Lá dentro, um enorme balcão domina a entrada e na parede oposta um néon anuncia, em letras garrafais: Omakase is Dead. A frase encerra toda uma declaração de intenções, e não sem um toque de ironia, uma vez que foi precisamente nesse género mais solene da gastronomia japonesa – em que os clientes se colocam inteiramente nas mãos do chef − que Lucas Azevedo ganhou fama, ao balcão do Praia no Parque.

Um dos motivos pelos quais embirra agora com a Omakase deve-se à proliferação de restaurantes do género, que na sua maioria acabam por servir menus de degustação que só não estão afixados, sem aquele toque de originalidade e espontaneidade que deveria estar subjacente à experiência. Isso, e a constatação de que "os clientes são perfeitamente capazes de decidir o que querem comer, se tiverem uma carta".
Mais ao fundo, há outro quadro que nos prende a atenção. Este mais discreto, mas pela localização percebe-se imediatamente que deve ser importante. Descobrimos que se trata de um velho provérbio japonês, "Ichi-go ichi-e", que simboliza a natureza irrepetível de um momento. A ideia subjacente é que mesmo repetindo a experiência, pedindo os mesmos pratos, com as mesmas pessoas, a vivência nunca será a mesma, porque as circunstâncias também não o são. Daqui retira-se uma conclusão para a qual nós, ocidentais, temos uma boa expressão: carpe diem. Aproveita e vive cada momento como se fosse único porque, de facto, é. Como filosofia para um restaurante, confesse-se, não está nada mal. O quadro, desenhado por um monge, foi presente de um velho amigo, cliente já dos tempos do saudoso Bonsai, onde deu os primeiros passos, e que continuou na Barra do Praia no Parque. Foi oferecido de propósito para o Ryoshi.

Ora bem, o que fizemos na hora e meia seguinte foi precisamente aproveitar cada momento, começando por um cocktail de whisky (japonês) preparado pelo Zé Maria, e um snack à base de lula seca prensada, como se fosse uma tosta, ou uma bolacha, acompanhada por maionese de Kimchi. Um prato cheio de sabor e muito popular nas ruas de Tóquio, mas cada vez mais popular nesta rua de Lisboa também. A comida será maioritariamente de conforto, tradicional e até caseira, mas elaborada com uma boa dose de criatividade, alguns piscar de olhos à gastronomia portuguesa, e uma qualidade técnica irrepreensível. Com ênfase no preço: "justos e acessíveis, como encontramos nas casas e nos pequenos restaurantes de província", acrescenta o chef. De facto, a maioria das propostas ficam num intervalo de preços entre os 12 e os 16 euros o que, para a qualidade do que é oferecido, é genial. Com dois ou três pratos faz-se uma refeição. A exceção são os oshizushi com peixe do dia e a enguia com arroz branco e gema de ovo, ambos a 24 euros, mas que valem bem o esforço adicional. A enguia é uma bomba de umami e os oshizushi são niguiris feitos arroz é prensado, uma das formas mais antigas de preparar sushi e que lhe confere uma consistência e até sabor surpreendente. É também a única opção de sushi na carta, se excluirmos a Nigiri Fest, nas últimas quartas-feiras do mês.

Em contraponto, temos o milho grelhado com manteiga de miso e a alface com molho pirikara, estes a 10 euros cada. O primeiro é mais uma bomba de sabor e o segundo uma deliciosa combinação de suavidade com um toque picante. O chef avisou, no entanto, que não sabe por quanto tempo mais conseguirá manter a enguia e o milho na carta, porque começa a não ser fácil encontrá-los.
Sem qualquer obrigação de alterar a ementa, esta vai se adaptando ao sabor das estações, com Lucas Azevedo a preferir mudar pratos ou ingredientes do que tentar forçar produtos fora de época. Em nome da sustentabilidade, também não servem peixes de pesca intensiva e a carta procura ser bastante equilibrada entre pratos vegetarianos e de origem animal.

De volta ao balcão, provámos ainda um prato de lingueirão com umeshu, um molho de ameixa que lhe deu um sabor acre que não foi de todo a nossa opção preferida. Já o porco preto foi um dos melhores que já experimentamos. Marinado em miso e grelhado, tinha um toque fumado e quase se desfazia na boca. Veio, ainda, uma box de fast food, com pedaços de frango frito lá dentro. Estavam crocantes e suculentos e se o KFC os fizesse assim, não saíamos da sua porta. Para terminar, a Lucas San K-Sandwich, a famosa reinterpretação da tradicional Katsu Sando. Em vez de porco panado, Lucas Azevedo prepara-a com língua de vaca – que era suposto ser um ingrediente "secreto", mas já toda a gente espalhou a notícia. É uma sandes deliciosa e gulosa − e isto dito por gente que se recusa a comer língua de vaca. Tornou-se rapidamente no prato estrela do Ryoshi e o chef está perfeitamente consciente de que nunca a vai conseguir tirar da carta.
Estes pratos foram partilhados por três pessoas, e mesmo assim, no final já não havia forças para experimentar o cachorro-quente japonês, com maionese de kimchi picante, apesar do aspeto tentador. Ficará para uma próxima visita…

Às duas sobremesas, no entanto, ninguém conseguiu resistir. Tivemos o pudim da Mio, uma das mais icónicas do Bonsai, em mais uma grande homenagem de Lucas ao primeiro japonês de Lisboa. E tivemos um tiramisu de matcha. Impossível largar a colher em qualquer uma das duas.
Não nos surpreende que tenha sido eleito, por um júri dos seus pares, como o Melhor Restaurante de Cozinha Contemporânea que abriu em 2024, nos prémios The Fork.
Onde? Ryoshi Rua da Boavista 108, 1200-262 Lisboa. Quando? Está aberto todos os dias ao jantar. Reserva? +351 963 488 779. Preço? Mais de 50 euros.
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