Na última terça-feira de maio, dia 27, os apaixonados pela arte da coquetelaria pareciam ter apenas um destino em mente. Falamos do The Royal Cocktail Club, icónico bar portuense que, desde 2017, quando abriu pela primeira vez, ocupa um charmoso edifício com mais de 100 anos no centro da cidade. Queriam assistir à final global da 4ª edição do Concurso de Cocktails Blend Series, um evento organizado pela Graham’s, uma das mais antigas e consagradas marcas de vinho do Porto. Sob os holofotes, a lutar pelo primeiro lugar do pódio, estavam os bartenders Afonso Garcia (Portugal), Roman Mutzner (Suíça) e Seung Hyeon An (Coreia do Sul). Os três foram selecionados de um total de 10 finalistas, que alcançaram esse título ao vencerem as respetivas competições nacionais. Bélgica, Chéquia, Islândia, Lituânia, Países Baixos e Reino Unido foram os outros países envolvidos na iniciativa.
"Apesar de não abdicarmos de honrar o legado e a história da empresa, assim como o caminho que percorremos para nos tornamos na referência que somos, achamos importante trazer o vinho do Porto para o século XXI e estarmos próximos dos novos consumidores. Foi esta vontade que, em 2019, nos levou a bater à porta do Charles [Syminton, master blender e membro da quarta geração da Symington Family Estates, propretária da Graham’s]. Lançamos-lhe o desafio de criar dois vinhos, exclusivamente pensados para a mixologia. Assim nasceram o Blend Nº5 branco e o Blend Nº12 ruby", começou por explicar Charlotte Symington, representante da quinta geração da família e diretora de marketing.
"Os dois novos rótulos vieram mostrar ser possível aliar a tradição à modernidade sem perder a essência. Ao mesmo tempo, provam o quão versátil e ousada pode ser esta bebida. A criação da Blend Series, com a qual convidamos bartenders e mixologistas de todo o mundo a criar cocktails originais e criativos que destaquem o perfil destes produtos, acabou por ser uma das estratégias que encontramos para os dar a conhecer e chegar a quem os pode popularizar junto do grande público", acrescentou.
Roman Mutzner, que veio a Portugal pela primeira vez para participar na final, foi o grande protagonista da noite. Ao fim de frenéticos dez minutos, em que explicou a quem assistia como se deixou inspirar pelos exploradores e descobrimentos portugueses para desenvolver a receita de ‘Trail of the Pine Trees’, o suíço de 27 anos deu a sua criação a provar aos quatro elementos do júri.
Uma combinação inusitada de vinho do Porto branco Blend Nº5, whisky single malt, vermute seco infusionado com tomilho, sumo de maçã, xarope de pinheiro e bitters de chocolate revelou-se vencedora para os jurados: Charlotte Symington, Sandrae Lawrence (editora da The Cocktail Lovers Magazine), Iolanda Lourinha (bartender do Babel Porto) e Paulo Gomes (fundador do Red Frog Bar). Para casa, Mutzner levou um prémio no valor de dois mil euros, a oportunidade de participar como bartender convidado num turno especialmente organizado e stock de Graham’s Blend Nº5 e Blend Nº12. Afonso Garcia e Seung Hyeon An (Coreia do Sul) conquistaram, respetivamente, o segundo e o terceiro lugar.
"Toda esta experiência tem sido como um sonho. Há tanta coisa a acontecer nestas quase 72 horas que antecedem as duas últimas fases do concurso. É surreal. Tivemos a oportunidade de conhecer as caves Graham’s, onde pudemos mergulhar na história da marca e da família, provamos cocktails de um dos finalistas da edição passada e diferentes vinhos de Porto. Foram vários momentos incríveis. Gostei especialmente de ir à Quinta dos Malvedos e explorar as vinhas e a adega da propriedade. Outra coisa especial de toda esta iniciativa tem a ver com a possibilidade de criar conexões com os outros participantes. É verdade que, até certo ponto, somos rivais, mas depois de dias tão intensos de partilha acabamos por criar laços", contou o bartender do Einstein Bar que começou nesta área aos 19 para financiar os estudos.
Para chegar à derradeira batalha, os 10 vencedores de cada competição nacional voltaram a apresentar a mistura que lhes valeu o viagem até ao Porto. Selecionados os três que se destacaram, os responsáveis foram com estes até ao Bolhão. "Antes de virmos para aqui [o Royal Cocktail Club], levaram-nos até este mercado maravilhoso e deram-nos 20€. Com esse dinheiro, tínhamos de comprar, em 30 minutos, os ingredientes que queríamos utilizar. Usei os primeiros cinco minutos para andar pelo espaço e tirar notas do que me poderia interessar para o que tinha pensado fazer caso chegasse a esta etapa. Resolvi ir numa direção ousada, apostando em sabores fortes que se pudessem relacionar com a história da marca e a portuguesa, sobretudo a parte relativa aos Descobrimentos e a colonização. Acho que valeu a pena fazer o trabalho de casa e ter um bom storytelling", concluiu.