Prazeres / Lugares

As 7 pistas de esqui mais loucas do mundo

São as mais íngremes, alucinantes, aterradoras (e, por vezes, fatais) “rampas de lançamento” para os esquiadores mais temerários. E bem piores do que qualquer rebuscada “montanha-russa” para os inexperientes.

Sochi, Russia
Sochi, Russia Foto: Getty Images
04 de fevereiro de 2022 | Eduardo Câmara

Se só um surfista louco gosta de "cavalgar" as ondas titânicas da Nazaré, imagine o que é sair "disparado" de uma das pistas mais inclinadas (e perigosas) que existem, classificadas como "pretas". Pense nestes nomes: Harakiri, Delirium Dive e Kill the Banker! Só a famosa Streif, com um nome bem mais animador, tem uma inclinação de 85º. Estão localizadas na Áustria, no Canadá e nos Estados Unidos, em cenários idílicos, ainda que o declive natural das montanhas seja aproveitado para o transformar e criar circuitos cada vez mais difíceis e apavorantes. Mas há pistas vertiginosas, em grande número, situadas no Alasca, em França, na Suíça ou no Chile. É um desporto ao qual as mulheres não aderem e que, em alguns casos, é mesmo para homens de "barba rija!". Embora não recomendem isto por lá, avisamo-lo que se nunca esquiou nelas e se não for um campeão, o melhor é "descer" com o estômago completamente vazio; não mostrar a cara de pânico que os outros desgraçadamente exibem; despedir-se da família e dos amigos por uns tempos; escolher a enfermeira mais sexy da enfermaria do hospital; preparar-se para chorar quando olhar para a conta final do mesmo; e na pista deve usar uma daquelas fraldas para a incontinência que estejam bem apertadas. Depois, é deixar-se ir (pela pista, claro…) e que seja o que Deus quiser!

Streif, na Áustria

A terrível

Prepara-se (emocionalmente). Esta é uma pista lendária, a tal que tem uma inclinação de 85º. Repito: oitenta-e-cinco-graus! É a mais espectacular e está para durar, apesar das desgraças, em Kitzbühel, que é considerada a estância de esqui mais bela da Europa. É pena que quem deslize pela pista, à média de 140 km/hora, não tenha tempo para apreciar as vistas. Procurada pelos melhores profissionais do esqui que nela disputam ferrenhamente o Hahnenkamm World Cup, a pista abre antes e depois da competição para os comuns esquiadores. Preparada com neve natural, a Streif tem tudo o que se pode deparar numa descida de montanha, desde os saltos de tirar o fôlego até às colisões surpreendentes, o que também é proporcionado pelas mudanças bruscas de inclinação que provocam grandes saltos. Com 3312 metros de comprimento e a uma elevação de 1665 metros (partida), permite atingir velocidades entre 103 km/hora (média) e os 145 km/hora (máxima). O recorde dos 1:58:51 minutos foi atingido por Fritz Strobl, em 1997, a uma velocidade média de 106,9 km/hora. Se tentar esta pista, não tente imitá-lo. Não tem estômago para isso…

Harakiri, na Áustria

A infame

O nome diz tudo. Foi escolhido por a pista ter uma inclinação de 78º e 1500 metros de comprimento o que, aliado ao facto de ser a segunda mais íngreme da Áustria, permite a analogia com o ritual suicida dos samurais, o harakiri. Aterradora. Aqueles que a percorrem e chegam ao fim sãos e salvos têm sido apelidados de "sobreviventes". A inclinação e a sinuosidade propositada do percurso, com as bruscas mudanças de inclinação, até provocam insónias aos esquiadores mais incautos. É certo e sabido que se alguém tem o azar de cair – e cai-se com a maior facilidade se não se for um profissional – só vai parar mesmo no chão, após ter sido violentamente "cuspido" para fora da pista. É aquela situação do "sem mãos, sem esquis… sem dentes!" Situada na estância de esqui de Mayrhofen, uma das estâncias de topo, no Tirol. Apesar de um grande parque natural contíguo, a pista é a grande atracção de Mayrhofen, no vale Zillertal. Quem a admirar bem no cimo, a pista tornar-se-á mais intimidante do que tudo aquilo que se possa ter ouvido ou lido sobre ela.

Delirium Drive, no Canadá

A sinistra

Se ainda não desistiu de descer, a toda a velocidade, uma pista de extrema inclinação depois de ter lido sobre as duas anteriores, então sente-se e leia isto com toda a concentração: se for a Delirium Drive, saiba que está num dos domínios dos ditos hardcore skiers e que, por isso, vai ter de levar consigo uma pá grande, uma sonda para localizar esquiadores soterrados e um dispositivo electrónico de rastreamento para poder ser detectado. É o que lhe irá ser vivamente exigido para "desfrutar" esta íngreme pista, situada na Goat’s Eye Mountain, no parque natural de Banff. Um transceptor para salvação em caso de avalanche é mesmo fundamental, tal como dever estar acompanhado. Sem isso, as patrulhas responsáveis pela segurança não o deixam entrar nos teleféricos ou, na pior das hipóteses, recambiam-no. Os capacetes são altamente recomendados, bem como a experiência necessária em caminhar em terrenos montanhosos íngremes. Ali, as avalanches são previsíveis e a pista é encerrada à mínima suspeita de risco. As exigências têm como intenção dissuadir os esquiadores amadores e permitir o acesso apenas aos que têm experiência e estão munidos do equipamento de salvação. No topo da pista não se vislumbra coisa alguma. Peter Hardy, o especialista em esqui, conta: "Na primeira vez que eu esquiei a pista, a visibilidade era mínima e eu apenas tinha como orientação as instruções que me gritavam, em baixo. Mas na segunda vez, demorei-me um pouco mais no topo só para pensar como raio é que eu tinha conseguido fazer aquilo." Como anima Hardy, o pior é ganhar coragem para saltar para a pista. As avalanches, pelos vistos, são o menos…

Kill the Banker, no Canadá

A ameaçadora

Esta até não é das pistas mais inclinadas e perigosas para esquiadores não experientes, como é caso do nosso caro leitor, e na qual se pode ir lançado, cantando "Ah, ah, ah, ah, staying alive, staying alive!" quase até ao final… Isto, porque estas pistas, que são aproveitadas dos melhores declives montanhosos, têm intervenção humana que altera a dádiva da Mãe-Natureza para tornar as descidas mais empolgantes (e isto é um eufemismo…). O percurso vai-se tornando mais acidentado à medida que se avança na neve. Na Kill the Banker, situada na estância montanhosa de Revelstoke, a 641 km de Vancouver, a descida atinge uma velocidade tal que já não se consegue abrandar e, muito menos, voltar para trás. É então que a canção dos Bee Gees, que ecoa na cabeça, começa a ser substituída pelos cânticos celestiais dos anjos no Paraíso e que surge a parte mais divertida (para alguns)… uma cascata!  Pois é, há uma cascata, a meio do percurso, que tem de ser sobrevoada até se atingir novamente terra firme. O que é muito divertido para certos esquiadores, torna-se um pesadelo para outros e é isso que a distingue e que a faz ser falada e temida. Daí aquela teoria de que as pistas mais inclinadas e excitantes causam insónias. No mínimo.

Corbet’s Couloir, nos EUA

A pavorosa

Quando pensamos que, perante o que já foi descrito, o melhor é ficarmos em casa, desponta aquela ponta de desafio que nos leva a querer comprovar que somos maiores do que aquilo que julgamos ser. Nesse caso, não há nada melhor do que experimentar a pista Corbet’s Couloir, situada em Jackson’s Hole (não, não é isso que está pensar…), um vale no estado do Wyoming. A pista foi baptizada com o nome do instrutor de esqui e conquistador do Evereste, Barry Corbet. Tem 40º de inclinação e 15 metros de comprimento, o que parece ser fácil, só que o pior é o salto inicial. O "melhor" modo de entrar em beleza é dar-se um salto vertical inclinado para o lado esquerdo e, logo que os esquis tocam na neve, arremessar imediatamente todo o peso do corpo para a frente, de modo a adquirir controlo, e logo a seguir guinar para evitar chocar com a parte montanhosa. Se isto falhar é uma carga de trabalhos. Corbet’s Couloir é uma daquelas pistas em que, quando vemos uns quantos valentes a escorregarem montanha abaixo em snowboard, esqui, mono-esqui ou "scu" (desculpem a expressão, mas é assim que muitos terminam a descida), pensamos: "Coitados…" Voltamos a pensar isso de nós quando, no cocuruto da montanha, temos de dar o salto para atingir a neve. Chegados a esse ponto assustador, uma coisa é certa: uma vez lançados já não paramos, seja qual for a maneira como iremos terminar. Há sempre uma longa fila de homens à espera de vez para saltar e o silêncio impera, como se presume… Não é em vão que a inclinação proporcionada pelo declive montanhoso tenha atribuído à pista o cognome de "A mais apavorante pista de esqui da América". Há americanos que dizem que o seu grande sonho até não é esquiá-la, mas sim ver Donald Trump saltar dela sem esquis e sem capacete que lhe arruíne o tal penteado.

La Grave, França

A fatídica

Se a Delirium Drive, no Canadá, é sinistra, imagine o quanto pode ser fatal esta zona montanhosa francesa situada na pequena estância com o mesmo nome, acessível através de Les Deux Alpes. O nome diz tudo: A Sepultura. Apesar de uma designação tão medonha é o paraíso dos hardcore skiers, amantes de tudo o que é radical e que implique "toneladas" de adrenalina e muito, muito risco. Perigo é coisa que não falta em La Grave. Após uma viagem de 40 minutos por teleférico até ao cume da imponente La Meije, a montanha com 3200 metros de altura, é que ficamos confrontados com a real idade: estamos mesmo por conta própria. Aí, quem não é crente pode tornar-se religioso: a majestosidade do cenário natural, o silêncio, a sensação de abandono e a consciência da insignificância e da impotência humana perante a Natureza. Viajar até La Grave sem companhia pode ser um acto suicida, mas para os esquiadores mais extremistas, a solidão é fundamental. Naquele lugar não há pistas, não há apoios e não há patrulhamento. Em poucas palavras, não existe a mínima segurança. Aí, um dispositivo electrónico de rastreamento pode ser um salva-vidas. Muitos dos esquiadores optam por contratar um guia. Mas para quem gosta do hardcore é avançar sozinho e seja o que Deus quiser. Os especialistas deixam sucessivos recados aos irresponsáveis porque muita gente tem morrido por aqueles lados e a sua frequência é aconselhada apenas a esquiadores experientes. Mesmo assim, os riscos surgem a cada momento devido à ausência de sinalização e à inexistência de um sistema de detecção de avalanches. Qualquer esquiador terá de ir a La Grave por conta própria e risco. Os sobreviventes terão muito para contar. Se conseguirem falar…

El Colorado, no Chile

A Entontecedora

Chegámos à última das mais loucas e perigosas pistas do mundo. Esta, apesar de tudo, reúne condições de segurança no caso de o Diabo tecê-las. El Colorado é uma estância de esqui, considerada a melhor da América do Sul, localizada a 39 quilómetros da capital, Santiago. Se partir uma perna, tem condições de socorro. Se partir ambas, também. Está a uma altitude de 3300 metros (nível do mar) e possui 112 pistas e uma área para esquiar de 110 hectares. Não lhe faltam hotéis e apartamentos para alugar, lojas, uma discoteca e restaurantes que servem a gastronomia local e também junk food, porque há gente para tudo. Tudo isto soa a música para os ouvidos, mas, pensando melhor, é um longo bocejo. O que atrai verdadeiramente em El Colorado é o risco. Chegados ao cume montanhoso, os esquiadores experientes e aqueles que o são medianamente vão ter, além de uma paisagem de cortar a respiração, a hipótese de ficar mesmo "sufocados" com a descida íngreme de quase mil metros. A verticalidade é elevada e impulsiona o corpo como se estivessem mil demónios a empurrar. E a altitude e a vastidão da neve podem ser mesmo um inferno. Como confiou o campeão de esqui, Dave Valenti: "A imensidão das montanhas é tal que mexe com as nossas cabeças. Não conseguimos ter a mínima percepção de onde estamos e para onde estamos a ir." Isto passa-se na cabeça de um recordista. Imagine, então, o que se deve passar na cabeça de um mortal esquiador que em qualquer das pistas enunciadas só lhe restará a coragem, ao saltar nas pistas e montanhas mais íngremes, para gritar, a plenos pulmões enregelados, à medida que o chão nevado lhe vai passando por debaixo dos esquis: "JERÓNIMOOOOO!!!!"

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