Estilo / Beleza & Bem-Estar

Pelas minhas barbas!

As barbas estão na moda há tantos anos que já deixaram de estar na moda e, no entanto, vêem-se cada vez mais homens com a cara coberta de pelo. Porque será que a nossa geração gosta tanto delas? E o que fazer para deixar crescer uma da qual nos possamos orgulhar?

Foto: Getty Images
03 de agosto de 2020 | Bruno Lobo
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"As notícias da minha morte foram manifestamente exageradas." Mark Twain

Foi mais um caso de percepções erradas, provavelmente, mas quando Christopher John Millington publicou um tweet a declarar a morte das barbas, muitas revistas, como a norte-americana Esquire, e influencers em blogues por esse mundo fora apressaram-se a declarar o fim de uma "era". Millington é um modelo escocês, famoso pela enorme barba, e, por isso, pensou-se que ele devia saber do que falava. Ou, pelo menos, se o dizia era porque a sua barba já não atraía tantos contratos, como anteriormente.  Mas isto aconteceu em 2015 e, dois anos depois, aquela frase de Mark Twain (que podia não ter barba, mas que tinha um bigode farfalhudo) provou, uma vez mais, a sua pertinência.

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Aos Golden Globe Awards, em 8 de Janeiro de 2017, em Beverly Hills, compareceram tantos homens de barba que o actor Jon Hamm, da série Mad Men, chamou-lhes The Beard Parade 2017. Ou seja, o cortejo das barbas do ano. Os BAFTA, os Brit Awards, os Grammy e os Óscares não fizeram mais do que provar que as barbas estão para ficar.  Mas Millington tinha razão num ponto: a sua barba, uma hipster beard – aquela que se vê na cara de todos os barmen do país como se fosse um acessório tão indispensável à profissão como um shaker –, está realmente a sair de cena. E isto são boas notícias para todos os homens que nem são barmen, nem pescadores islandeses. A nossa masculinidade (basicamente a razão principal pela qual os homens usam barba, como pode ler na caixa com o título "Esta história já tem barbas") não precisa de ser exibida tão ostensivamente para ser afirmada. E nem é preciso olhar para muito longe até encontrar um exemplo perfeito: mesmo aqui ao lado, Filipe VI tem desempenhado, irrepreensivelmente, os seus deveres oficiais e sempre de barba. Uma barba cheia, mas de tamanho médio, muito adequada quer a um bom fato, quer a uma farda de cerimónia. Em suma, as barbas atingiram a maturidade e podem ser usadas independentemente da profissão, do cargo que se ocupa e do dress code em vigor na empresa. Parece óbvio que deixar crescer uma barba é fácil e, seguramente, poupa minutos preciosos todas as manhãs. Mas isso não significa que possa ser deixada à vontade: uma boa barba precisa de ser bem tratada. Não será por acaso que, o ano passado, as duas palavras mais pesquisadas na Internet, segundo a Google, foram precisamente cremes e óleos para a barba (isto, na área de cuidados masculinos). Portanto, se está a pensar deixar crescer a barba, a primeira decisão passa por decidir de que tipo. Afinal, as barbas são como os chapéus: há muitas e nem todas servem a todos. Uma cara redonda ou quadrada não requer o mesmo tipo de barba de um rosto oval ou rectangular. No primeiro caso, deve deixá-la crescer um pouco mais comprida e, no segundo, um pouco mais para os lados, por forma a equilibrar. Depois, deve levar em conta o cabelo. A ligação entre os dois será óbvia, mas pode optar por criar um contraste, um mais pequeno, o outro maior, ou pela uniformização. Num e no outro caso, não exagere. Ter o cabelo e a barba tão perfeitamente alinhados que mal se distinguem é tão de evitar como um cabelo rapado seguido de uma barba gigante. Até para não dar aquela impressão de se ter a cara ao contrário. E nunca se esqueça da regra número 1: a barba deve estar cuidada, mas sem dar a impressão de que ocupou uma hora nessa tarefa.

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Foto: IMDb

Esta história já tem barbas

Se tem barba ou está a pensar deixar crescer uma, saiba que está em boa companhia. D. Afonso Henriques tinha barba, assim como o segundo rei, o terceiro, o quarto... Na verdade, toda a Primeira Dinastia tinha barba. D. João foi também o "I" barbeado, mas não passou de um mero intervalo.  Todas as grandes civilizações da Antiguidade foram adeptas da barba. No Egipto, na Babilónia ou na Pérsia, os homens – a nobreza masculina, melhor dizendo – dedicavam grandes esforços a cuidar das respectivas barbas, tratadas religiosamente com óleos essenciais. Alexandre, o Grande, foi o primeiro com uma política contrária, tendo proibido os seus soldados de usarem barba, por medo que as mesmas fossem agarradas pelo inimigo. A primeira civilização a assumir uma cara limpa foi a Romana, mas quando os bárbaros bateram à porta já o Imperador Adriano usava barba. Foi apenas a partir do século XV que o seu uso se tornou cíclico: uma era de barbas, uma outra seguida por uma cara rapada e assim sucessivamente. Em 1860, conta-nos Christopher Oldstone-Moore no livro Of Beards and Men: The Revealing History of Facial Hair, uma menina de 11 anos chamada Grace Bedell escreveu uma carta a Abraham Lincoln encorajando-o a deixar crescer a barba "porque a sua cara é tão magra. Todas as senhoras adoram barbas e convenceriam os seus maridos a votar por si, e então chegaria a Presidente". Um ano mais tarde, Lincoln percorreu o país celebrando a vitória e conheceu a jovem Grace, tendo-lhe dito: "Olhe para a minha barba. Deixei-a crescer por sua causa." As fotografias dos muitos governos da I República portuguesa contam-nos como também era grande o afecto dos homens pelos seus pelos faciais, embora estivéssemos já no fim de uma era. A partir dos anos 1920, o ideal de virilidade masculina encontrava-se numa cara escanhoada, até porque era essa a imagem vendida pela cada vez mais influente indústria de Hollywood – diz-se que muito por causa das operações de marketing de uma tal Gillete Safe Razor Company… A Biologia ensina-nos que a barba "é uma característica sexual secundária, já que é única a um dos sexos, mas não tem qualquer papel importante na reprodução". O primeiro a debruçar-se sobre o papel das barbas foi o pai da Teoria da Evolução. Darwin defendeu que os homens com barba seriam ou pareceriam ser mais dominantes e sabedores, logo mais atraentes ao sexo oposto, característica que passavam às gerações seguintes. É claro que Darwin tinha uma bela barba, o que pode justificar esta sua preferência, mas não estava sozinho: Da Vinci, Einstein, Confúcio, Nietzsche, Marx (e Engels), Hemingway, Che Guevara, (o agora famoso) Frederik Douglas e Alan Ginsberg são apenas alguns nomes de uma lista peluda que tem tanto de longa como de impressionante. Aliás, pense bem: alguma vez viu uma representação de Deus, de Jesus ou de Maomé sem barbas?

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Cuidar da barba

Cá dentro. Nos últimos anos, assistimos à chegada de uma série de barbearias novas orgulhosamente dedicadas ao homem e aos cortes à moda antiga, de navalha e toalha quente. Quase uns clubes de cavalheiros. Em muitas até pode jogar uma partida de snooker ou beber uma cerveja, antes de cortar o cabelo e tratar da barba. Para quem está a deixar crescer a barba (ou pretende fazê-lo), visitar um destes salões é altamente recomendável. Enquanto especialistas, podem aconselhá-lo sobre o tipo de barba que melhor assenta no seu rosto ou se enquadra naquilo que pretende. Mesmo sem tornar este ritual um hábito semanal, deixe-se ir, de quando em vez, e aprenda as regras para tratar da barba, a que áreas dar atenção redobrada ou quais os produtos que mais necessita. Entre as principais ofertas, é impossível não referir a Figaro’s Barbershop Lisboa (Rua do Alecrim, 39), a O Purista-Barbière (Rua Nova da Trindade, 16-A, em Lisboa) e a Barbearia Porto (Rua Dr. Artur Magalhães Basto, 6, no Porto) que recuperou uma antiga barbearia tradicional, fundada em 1946. Também com obras recentes que mantiveram o traço antigo, mas sempre nas mãos dos mesmos donos, está a Barbearia Campos - Cabelleireiro (Largo do Chiado, 4, em Lisboa), casa fundada em 1886. Na nova loja da Claus Porto (Rua da Misericórdia, 135, em Lisboa), há um andar reservado ao homem onde, além de venderem os produtos Musgo Real (linha masculina quase centenária), realizam tratamentos de uma hora exclusivamente dedicados à barba. Um serviço que, este ano, se vai estender também à Cidade Invicta, com a abertura, em Maio, da flagship store da marca portuense (Rua das Flores, 22).

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Lá fora. Se costuma deslocar-se em viagens de negócios ou de turismo, guarde também estas moradas. Em Londres, dirija-se a Mayfair, pois é lá que encontra The Refinery (18, Grosvernor St.) e os espaços da Gentlemen’s Tonic (31-A, Bruton Place) e Murdock London (várias moradas em murdocklondon.com), duas marcas com barbearia e produtos próprios. Numa cidade como Paris, também não faltam barbeiros de renome mundial, como Alain Maître Barbier (8, Rue Saint Claude) ou La Barbière de Paris (moradas em labarbieredeparis.com), o primeiro representando o melhor do corte tradicional e a segunda exemplo maior de muitas inovações técnicas, não fosse comandada por Sarah, a única barbeira… de Paris. Em Madrid, adorávamos indicar o local onde o rei se cuida, mas, na realidade, é visitado no palácio por um barbeiro da Guardia Civil, pelo que o melhor será dirigir-se até à Blackstone (Calle de Velazquez, 76) ou à La Barbería de San Bernardo (Calle de Carranza, 21), uma das mais tradicionais da capital espanhola. 

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