Henrique Sá Pessoa revisita receituário português para novo livro
O chef recordou algumas das mais afamadas receitas tradicionais portuguesas para o seu novo livro, Comtradição, onde sugere pratos como sopa de cação, favas com entrecosto ou feijoada de lulas.
Em Comtradição, editado pela Casa das Letras, todas as receitas são precedidas por uma pequena introdução onde se explica a origem do prato, e se revelam curiosidades como a de que o ensopado de borrego, tal como hoje é confecionado, existe desde o século VII, com provável origem árabe. Ou que a sericaia terá provavelmente origem indiana (terá surgido em Malaca e sido trazida para Portugal pelo sétimo vice-rei da Índia) e foi implementada pelas freiras dos conventos de Elvas e Vila Viçosa.
Este é um livro que revisita o receituário português. Foi fascinante mergulhar neste nosso legado?
Para mim foi um grande desafio e algo que já queria fazer há uns anos. É sempre difícil reinterpretar receitas tradicionais porque somos muito protecionistas da nossa gastronomia mas o feedback tem sido muito positivo.
Descobriu receitas de que nunca tinha ouvido falar, ou que nunca tinha experimentado fazer?
Sem dúvida! Algumas ou mesmo a grande maioria nunca tinha feito antes. Daí o desafio ser ainda maior.

Há muito que se perdeu desta gastronomia "antiga", ou continua bem presente aqui e ali na nossa cozinha?
Sinceramente acho que nunca se perdeu mas acredito que as gerações mais jovens tenham perdido um pouco essa ligação. É sempre bom poder partilhar e relembrar a nossa herança gastronómica.
Como chef de alta gastronomia, foi um exercício interessante voltar às origens, por assim dizer, da nossa gastronomia?
Sem dúvida! Foi uma oportunidade também de aprender um pouco mais sobre as nossas tradições e costumes apesar do livro também ter o objetivo de dar um toque pessoal e “mexer” no passado, sabendo que nem todos vão gostar. Mas mais uma vez o feedback tem sido incrível.
Viajou pelo país em busca das tradições perdidas? As pessoas estão intrisecamente ligadas à comida? Ou seja, a comunidade, a herança e riqueza da região...
As receitas são sempre feitas de pessoas e costumes e o nosso país tem uma riqueza muito especial no que toca à gastronomia. Poder viajar um pouco pelo receituário através de um programa é uma ótima experiência para quem cozinha e para quem vê. É bom poder inspirar as pessoas a aventurarem-se pela nossa cozinha.
Que receita escolheria do livro, e porquê?
Seria impossível eleger uma, são tantas as de que gosto! Mas diria que o bacalhau à Brás é um clássico incontornável.

Há muitas variações das receitas portuguesas autênticas, no geral, ou estão mais ou menos "conservadas"?
No no programa só fizemos variações, algumas quase ficaram irreconhecíveis e a piada era essa mesmo. A “conservação” das tradicionais está imortalizada com muitas obras, talvez a mais conhecida através do Cozinha tradicional Portuguesa da Maria de Lurdes Modesto que já vendeu mais de 90 edições.
Descobrir as histórias por detrás de algumas receitas foi um desafio? Quais são as que mais curiosidade suscitaram em si?
As que têm histórias mais antigas por trás são incríveis como a doçaria conventual com influências das nossas viagens, a canela, o açúcar os pontos do açúcar, os ovos nas sobremesas. Incrível! E depois temos também o choco frito, tão simples como um pescador montar um negócio de fritar choco e ficar conhecido ao ponto de em Setúbal ser hoje feito em muitos restaurantes.
Chef Pedro Almeida: "Houve muitos negócios a desaparecer, muitos restaurantes que fecharam"
Entrevistámos vários chefs que se deparam, mais uma vez, com as portas dos seus estabelecimentos fechados. Pedro Almeida, do Midori, no Penha Longa Resort, não baixa os braços e fala com otimismo dos desafios do momento.
Chef Miguel Castro e Silva: “Tenho esperança na restauração tradicional”
Entrevistámos vários chefs que se deparam, mais uma vez, com as portas dos seus estabelecimentos fechados. Uma sumidade na cozinha tradicional portuguesa (e na contemporânea também) Miguel Castro e Silva reinventou o seu DeCastro para o take-away.
Chef Miguel Laffan: "Quando veio a pandemia estava sem rumo certo"
Entrevistámos vários chefs que se deparam, mais uma vez, com as portas dos seus estabelecimentos fechados. Miguel Laffan já se tinha antecipado com uma ideia que aposta nas experiências e na personalização, muito além das paredes de um restaurante.
No próximo domingo, o hotel de charme organiza um almoço especial para assinalar o Dia da Mãe. Num ambiente de charme e história, famílias poderão desfrutar de uma refeição pensada para assinalar a data de forma tranquila e memorável (sem se preocuparem com tachos).
A partir do próximo mês, o restaurante lisboeta Canalha regressa com um pop-up ao Sublime. O chef português - e criador do projeto - traz para a mesa uma carta que celebra os produtos nacionais e uma cozinha descomplicada, num ambiente onde a sofisticação e a tranquilidade se encontram no seu melhor.
Marcelo Araújo e Patrícia Berardi tinham o sonho de produzir grandes vinhos no Dão. E fizeram como na Borgonha, aproveitando pequenas diferenças de terroir para conseguir um resultado ora mais estruturado e intenso, ora mais elegante e fresco. Não há nada como ver um sonho realizado.
Numa noite marcada por sabores intensos e surpreendentes, descobrimos uma cozinha que se revela na simplicidade dos ingredientes e na ousadia das combinações. Cada prato foi uma experiência sensorial, feita de contrastes e autenticidade genuína.