Prazeres / Lugares

5 ilhas fora dos roteiros para visitar em 2023

Da ilha onde Spielberg filmou "Tubarão" a um destino improvável no Golfo Pérsico, passando por Cabo Verde, estes destinos ainda estão longe da mira dos turistas.

Foto: Miguel Judas
21 de fevereiro de 2023 | Miguel Judas
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Martha’s Vineyard, Estados Unidos

É de ferry que a maioria dos visitantes chega a Martha’s Vineyard, uma ilha com pouco mais de 30 quilómetros de comprimento e 15 de largura, situada a sul de Cape Cod, no Estado do Massachusets, também conhecida como a Hollywood da costa leste, onde natureza e tradição se misturam com a sofisticação da aristocracia americana. A porta de entrada é a pequena cidade de Oak Bluffs, com o seu imenso porto, repleto de lojas e esplanadas, que antigamente era também conhecida como Cottage City. Olhando à volta percebe-se porquê. Viradas para o mar, as tradicionais gingerbread cottages (como são chamadas estas casas de madeira vitorianas, ornamentadas com rendilhados nos telhados e nos alpendres) remetem o visitante para um outro tempo, quando personalidades como o presidente Ulysses Grant colocaram a ilha no mapa, como local de férias das elites da costa leste.

Foto: Getty Images

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Um istmo de areia liga à vizinha cidade de Edgartown, tornada mundialmente famosa pelo realizador Steven Spielberg, que aqui rodou, em 1970, o filme Tubarão. As ruas, de casas brancas de madeira, estendem-se até ao mar, com praias privadas a servirem de quintal. Avançando para o interior, o cenário altera-se por completo, com florestas de pinhal e abetos e ovelhas a pastar pelas colinas. Pela State Road, que contorna a deslumbrante paisagem de Menemsha Pond, uma das muitas lagoas de água salgada existentes na ilha, chega-se finalmente a Aquinnah, a elegante zona no sudoeste da ilha, onde a família Kennedy passava férias. Aconselha-se uma visita ao monumento natural de Gay Head Cliffs, uma enorme falésia onde habitualmente se avista uma colónia de leões marinhos. Descendo depois pelo Moshup Trail, chega-se à praia pública de Moshup, uma das mais bonitas da zona. Fica situada numa área protegida onde, durante o Verão, não é permitida a circulação automóvel.

Foto: Getty Images

Qeshm, Irão

Não será o destino mais óbvio, mas a maior ilha do Golfo Pérsico revela-se um verdadeiro paraíso, que reúne no mesmo local uma história milenar, monumentos naturais de cortar a respiração e praias desertas paradisíacas. De sublinhar que, como tem estatuto de zona franca e ao contrário do Irão continental, não é necessário visto para aqui chegar. E não faltam coisas para ver e fazer nesta exótica ilha habitada pelos bandaris, um povo de origem árabe e não persa, cuja cultura e tradições misturam influências de latitudes tão distantes quanto a Índia ou Portugal. Sim, isso mesmo, porque Qeshm – ou Queixome, como era chamada na língua de Camões – foi governada durante cerca de 200 anos pelos portugueses, que além de uma antiga fortaleza, hoje em ruínas, também deixaram alguma toponímia e uma ou outra palavra no dialeto local, também ele uma mistura de árabe, persa, inglês e português.

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Foto: Miguel Judas

Entre os locais de visita obrigatória na ilha estão a aldeia tradicional de Laft e mesmo ali ao lado o mangal de Hara, que pode ser percorrido em pranchas de stand-up paddle. O património natural da ilha, que lhe valeu o estatuto de geoparque da Unesco, inclui ainda o Vale das Estrelas, onde a erosão formou criou caprichosos caminhos entre rochas em forma de coluna, ou a impressionante garganta de Chahkooh, um profundo desfiladeiro esculpido na rocha, onde, em certos pontos, as paredes estão tão próximas e verticais que se podem tocar com ambos os braços. E como se isto não bastasse, há ainda um sem fim de praias paradisíacas completamente desertas. Qeshm é também a base perfeita para visitar as vizinhas ilhas de Hengam e Ormuz.

Foto: Miguel Judas

A primeira é uma minúscula ilha de pescadores, habitada por bandos de pequenas gazelas selvagens, enquanto a segunda foi outrora uma das mais importantes feitorias portuguesas nesta zona do mundo, como se constata pela imensa fortaleza, mas que é hoje muito mais conhecida pelo exotismo geológico da paisagem, feita de rios de sal, praias de areia púrpura e montanhas coloridas com rochas ocre, vermelhas, brancas e roxas.

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Foto: Miguel Judas

Procida, Itália

Sem o mediatismo de Capri ou dimensão de Ischia, a mais pequena das ilhas do Golfo de Nápoles é a que melhor preserva o espirito e o ambiente dos velhos tempos. Mesmo correndo o risco de soar a lugar-comum, este é um daqueles lugares onde o tempo parece passar mais devagar, como de imediato se sente mal saímos do ferry e pomos o pé em terra firme. Do porto Marina Grande, a principal porta de entrada de Procida, dominada pela fachada do Palazzo Montefusco, podem-se apanhar todo o tipo de transportes para as outras zonas da ilha, que devido à sua pequena dimensão e dependendo do tempo disponível pode, e deve, ser percorrida a pé.

Foto: Miguel Judas
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Um dos itinerários óbvios é subir Via Roma o coração comercial da ilha, e subir em direção às estreitas ruas do centro histórico. Quase sem darmos por isso, já estamos no outro lado da ilha, com vista para a bonita Marina Corricella, imortalizada no filme O Carteiro de Pablo Neruda, aqui filmado em 1994 – existe um percurso assinalado pela ilha a ele dedicado. Aconselha-se uma subida ao pequeno bairro fortificado de Casalle Vascello e um pouco mais acima, até à Terra Murata, o ponto mais alto da ilha, de onde se pode apreciar a vista panorâmica sobre a baía, com as suas típicas casas mediterrânicas construídas em anfiteatro ao longo da encosta, descendo depois pelas estreitas ruelas até junto da água, onde inúmeras esplanadas convidam a ficar, para provar as especialidades gastronómicas desta ilha de pescadores.

Foto: Miguel Judas

Ali mesmo ao lado fica a praia de Chiaia, uma das mais bonitas de Procida, que por ficar na vertente nascente da ilha tem a desvantagem de ficar sem sol bastante cedo, ao contrário dos bem mais concorridos areais da costa poente, junto à charmosa Marina Chiaiolella.

Foto: Miguel Judas
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Graciosa, Portugal

Quando avistada desde as vizinhas ilhas de São Jorge ou do Faial, o diminuto tamanho da Graciosa funciona como uma espécie de camuflagem, como fosse uma espécie de cápsula do tempo onde os Açores de antigamente parecem ter ficado preservados para sempre. São disso exemplo as garridas cúpulas vermelhas dos moinhos, numa permanente lembrança do tempo em que a ilha era o "Celeiro dos Açores". É também conhecida como "Ilha dos Burros", "Ilha Branca" ou " Ilha Seca", mas nenhum outro nome lhe faz tanta justiça como o seu nome próprio: Graciosa.

Foto: Miguel Judas
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Com apenas 12,5 quilómetros de comprimento e 7,5 quilómetros de largura, demora-se pouco menos de meia hora para atravessá-la de carro, mas o tempo é um conceito enganador por aqui, pelo modo como quase parece deixar de existir, enquanto se percorrem lugares como a Serra das Fontes, o pitoresco porto de pesca da Folga, o isolado farol do Carapacho ou a enigmática zona de Porto Afonso, que mais parece saído de qualquer cenário apocalítico de ficção científica, tal é a variação das cores das arribas (ora castanhas, vermelhas ou laranjas), com 20 a 30 metros de altura, onde a erosão abriu grutas naturais que serviam para os pescadores abrigarem os barcos – alguns ainda por lá se mantêm.

Foto: Miguel Judas

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Apesar da pequena dimensão, a ilha Graciosa reúne um vasto e raro património natural, que lhe valeu, em 2007, a classificação como Reserva da Biosfera pela UNESCO. O elemento paisagístico mais emblemático é a Caldeira. Mal se entra na cratera, tudo muda por completo, com a árida vegetação rasteira a dar lugar a uma frondosa floresta de criptomérias, acácias, pinheiros e incensos. Um dos melhores locais para apreciar esta inusitada paisagem é desde o miradouro natural da Furna da Maria Encantada, um tubo lávico com cerca de 60 metros, com vista panorâmica sobre a Caldeira. Lá em baixo, bem no meio da cratera, fica a Furna do Enxofre, uma caverna lávica, com 194 metros de comprimento e uma altura de 40 metros na parte central, onde forma um teto em abóbada perfeita que é só a maior cúpula vulcânica da Europa.

Foto: Miguel Judas

São Nicolau, Cabo Verde

Apesar da relativa proximidade com o Sal ou a Boavista, a ilha de São Nicolau é uma das mais isoladas de Cabo Verde e talvez por isso, também uma das mais bem preservadas, permanecendo afastada dos roteiros turísticos que fizeram deste arquipélago uma das mecas do sol e da praia para muitos europeus. Porém, o que sempre foi uma clara desvantagem transformou-se em elemento diferenciador, num mercado cada vez mais segmentado por nichos, como é o caso do turismo de natureza.

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Foto: Miguel Judas

Foram assim criados na ilha cerca de 200 quilómetros de trilhos pedestres que, aos poucos, começa a atrair um novo tipo de visitantes. Os principais centros de São Nicolau são as vilas do Tarrafal, no litoral, e da Ribeira Brava, esta no interior e outrora uma das localidades mais importantes de Cabo Verde, como se atesta pela imponente igreja de Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga do país, que chegou ser elevada a sé catedral. A poucos quilómetros da vila, o porto da Preguiça é também merecedor de visita atenta e demorada. Junto à ruinas do antigo forte português, um velho padrão recorda a passagem da frota de Pedro Álvares Cabral, que aqui aportou para se abastecer de água a caminho do Brasil. É portanto a pé, pelos caminhos feitos ao longo de gerações e em muitos casos ainda hoje usados pelas populações locais, que esta ilha se revela, nas altas e caprichosas escarpas, salpicadas de dragoeiros, da zona conhecida Assomada de Macebo, de onde se inicia a ingreme descida em empedrado, até à aldeia da Fragata, que surge como uma espécie de Machu Picchu em miniatura.

Foto: Miguel Judas

O percurso continua até à Praia Branca, a terra natal de Armando Zeferino Soares, o autor da famosa morna Sôdade, popularizada pela voz de Cesária Évora, de onde se avista o enorme Vulcão do Morro, nas proximidades do qual fica um dos maiores atrativos naturais desta ilha, a falésia do Carberinho. Outro percurso obrigatório, é o que liga a zona de Belém à aldeia ribeirinha do Juncalinho, ao longo de uma sucessão de vulcões, alguns com cerca de 14 milhões de anos. Depois de uma desafiante descida, a chegada ao Juncalinho é celebrada com um refrescante mergulho nas famosas piscinas naturais da aldeia.

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