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24 Horas de Le Mans 2023, a edição do centenário

Às 15 horas de sábado passado, o basquetebolista Lebron James (sim, esse) deu a partida para as 24 Horas de Le Mans. Aqui fica um breve guia com tudo o que precisa saber sobre a mais importante corrida de resistência do mundo.

Foto: 24 Horas de Le Mans
09 de junho de 2023 | Luís Merca
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1923, as primeiras 24 Horas de Le Mans

Há 100 anos, o Automobile Club de l’Ouest, sediado em Le Mans, organizava uma corrida automóvel a sul da cidade: seria disputada ao longo de 24 horas, uma loucura para a altura, e destinava-se a promover o desenvolvimento tecnológico do Automóvel. A pista – se é que prosaicamente assim a podemos chamar – era, evidentemente, a rede viária existente. Só umas décadas mais tarde foi construído um circuito permanente (Bugatti, 1965), mas isso não impediu que se continuasse a utilizar parte das estradas nacionais e departamentais, situação que se mantém até à data. O perímetro total do circuito tem sofrido algumas alterações, com a introdução de chicanes para baixar o andamento dos carros, e mede atualmente 13.626 km, cerca de 85% dos quais percorridos com o acelerador a fundo, a médias por volta superiores aos 250 km/h e com velocidades instantâneas a ultrapassar os 340 à hora.

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2023-06-09_19_18_09 Caças da FA francesa minutos antes da partida.jpg Foto: FIA WEC

Edição 100 ou edição do centenário?

De lá (1923) para cá, as 24 Horas de Le Mans apenas não se realizaram em 10 ocasiões: em 1936, devido ao período de tumultos sociais conhecido como a Frente Popular, e de 1940 a 48 (a II Guerra Mundial e o pós-guerra imediato). Este ano é, por isso, a 91ª edição, correspondente ao centenário da primeira prova. Da mesma forma (e a tradição, em Le Mans, é coisa bem defendida e preservada), junho é, maioritariamente, o mês das 24 Horas. Exceções: a prova inaugural (26 e 27 de maio de 1923); 1956 (julho, devido às obras que se seguiram ao trágico acidente do ano anterior); 1968 (setembro, devido ao Maio de 68); e 2020/21 (respetivamente setembro e agosto, devido à pandemia de COVID-19).

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2023-06-09_19_23_26 62 carros.jpg Foto: FIA WEC

Recordistas de vitórias

Entre os pilotos, o dinamarquês Tom Kristensen (9 vitórias) é considerado "Mr. Le Mans". O belga Jacky Ickx triunfou 6 vezes, seguido do britânico Derek Bell, do alemão Frank Biela e do italiano Emanuele Pirro, todos com 5 vitórias. Entre as marcas, o ranking é liderado pela Porsche (19 triunfos), seguida da Audi (13) e da regressada – após 50 anos de afastamento – Ferrari (9).

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Mais algumas estatísticas interessantes

Record da distância percorrida: 5410.713 km (Audi, 2010). Velocidade máxima: 407 km/h (1988, Roger Dorchy num WM-Peugeot). Maior diferença entre 1º e 2º:  349.808 km (1929, entre um Bentley e um Salmson). Menor diferença entre 1º e 2º: 20 metros (1966, entre dois Ford GT40). Vencedor mais jovem: Alexander Wurz (1996, aos 22 anos e 91 dias). Vencedor mais velho: Luigi Chinetti (1949, aos 47 anos e 343 dias). Mais vezes à partida: Henri Pescarolo (França, 33). Mais pole positions: Jacky Ickx (5). Volta mais rápida: 3’14"791 (2017, Kamui Kobayashi, Toyota).

2023-06-09_19_29_26 favoritos Ferrari 499P.jpg Foto: FIA WEC

A Triple Crown, o que é?

Para os puristas, é o Grand Slam do desporto automóvel: conquistar as 24 Horas de Le Mans, as 500 Milhas de Indianapolis e o GP do Mónaco em F-1. Apenas um piloto conseguiu este feito: Graham Hill venceu em Le Mans (1972), na oval de Indianapolis (1966) e no Principado (em cinco ocasiões – 1963, 64, 65, 68 e 69), juntando a este notável palmarés a conquista do Mundial de Fórmula 1 em 1962 e 1968.

Drama na pista

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A 11 de junho de 1955, faz no próximo domingo 68 anos, o Mercedes de Pierre Levegh saía de pista à entrada da reta da meta, saltava um talude e varria consigo os espectadores que assistiam à corrida. O chocante resultado foi de 84 mortes e esse acidente teve uma tal repercussão mundial que a Suíça ainda hoje proíbe competições automóveis no seu território.

2023-06-09_19_20_59 186 pilotos.jpg Foto: FIA WEC

A partida: um traço inconfundível de Le Mans

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Entre 1923 e 1969, a partida era feita com os carros estacionados em espinha, e com os pilotos de pé, frente a eles, do outro lado da pista. Agitada a bandeira tricolor da França, os pilotos corriam para os respetivos carros e arrancavam o mais rápido possível, frequentemente sem sequer apertarem o cinto de segurança. Em 1969, Jacky Ickx protestou contra o perigo deste tipo de partida, andando para o carro em vez de correr, e demorando o tempo necessário para colocar o cinto. Vinte e quatro horas depois, o piloto belga venceria a corrida, provando que a pressa caótica daquele tipo de partida não tinha razão de ser. Em 1970, a partida seria feita com os carros ainda em espinha, mas os pilotos já sentados ao volante, e desde 1971 utiliza-se a chamada "partida Indianapolis": em andamento, atrás de um safety car e com os carros em formação dois a dois.

Quais as categorias de carros em prova?

HYPERCAR: a junção de um motor de combustão interna com outro elétrico, alimentados por um sistema híbrido de última geração, fazem destes carros o topo da tecnologia das corridas de endurance.

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2023-06-09_19_26_51 lista inscritos1 Hypercar.jpg Foto: FIA WEC

LMP2: a categoria de protótipos mais "pura" ainda em atividade. Châssis, motores atmosféricos e pneus iguais, custos controlados, compete depois a cada equipa preparar e afinar melhor a sua máquina para se sobrepor ao "vizinho" do lado.

2023-06-09_19_27_34 lista inscritos2 LMP2.jpg Foto: FIA WEC

LMGTE-Am: sobreviventes das duas classes de GT que competiam até finais da temporada passada, os GTE-Am são basicamente carros do ano anterior, preparados e operados com custos controlados. Constituem, juntamente com os LMP2, a porta de entrada para gentlemen drivers acederem às corridas de resistência, trazendo com eles os milhares de dólares sem os quais esta disciplina do desporto automóvel não conseguiria sobreviver.

2023-06-09_19_27_59 lista inscritos3 LMGTE.jpg Foto: FIA WEC

Favoritos em 2023

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Vencedora nos últimos cinco anos, a Toyota era considerada a equipa a bater. Tem a experiência, o know-how e uma lista de pilotos muito experimentados e todos eles vencedores da prova em anos transatos. A recordista Porsche e a recém-regressada Ferrari – que competiu pela última vez em 1973 pela vitória à geral e não apenas na categoria GT – deveriam constituir os principais adversários da equipa japonesa. A equipa transalpina até começou com o pé direito, conquistando a pole position e monopolizando a primeira linha da grelha com os seus dois carros, o #50 (número adequado para o cinquentenário do regresso a Le Mans) e o #51. Mas Le Mans dura 24 horas e a pole position vale mais como ferramenta de marketing e comunicação e, vá lá, oportunidade de fugir à "molhada" da primeira curva na partida.

2023-06-09_19_40_34 favoritos Toyota GR010.jpg Foto: FIA WEC

Os portugueses em prova

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António Félix da Costa foi o único piloto português que pôde lutar pela vitória à geral, já que pilotou um Porsche 963 da classe-rainha Hypercar. Já Filipe Albuquerque competiu na classe LMP2 e as suas hipóteses de sucesso ficaram limitadas a essa extremamente competitiva categoria.

2023-06-09_19_25_56 Portugueses António Félix da Codsta - Porsche 963 #38.jpg Foto: FIA WEC
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