Prazeres / Artes

Os magnatas da Arte

Por detrás de um grande artista há, quase sempre, um grande mecenas. E, felizmente, os “Donos Disto Tudo” na Arte, desde Rockefeller a Gulbenkian, optaram por deixar um legado que todos podem admirar.

Foto: Walt Disney Television via Getty Images
28 de fevereiro de 2020 | Bruno Lobo

David Rockefeller sucedeu à mãe na administração do Museu de Arte Moderna (MoMA), em Nova Iorque, mas da primeira vez que convidou o diretor, Alfred Hamilton Barr Jr., para uma chá na sua casa de Manhattan, acabou humilhado. Tudo porque a mulher de Barr não resistiu e, olhando para os quadros nas paredes, disparou: "Como é que suporta viver rodeado por tantos homenzinhos com casacos vermelhos?!" Após a surpresa e o choque iniciais, David e a mulher deste, Peggy Rockefeller – que, até então, se tinham limitado a comprar quadros "agradáveis"… e aparentemente com muitos homens vestidos com casacos vermelhos –, tomaram a decisão de entrar a sério no mundo da Arte. De início, o casal contou com a ajuda do próprio Barr e, ironicamente, uma das primeiríssimas compras foi O Menino do Colete Vermelho, de Cézanne.

Nos anos seguintes, os Rockfeller – as decisões eram sempre tomadas em conjunto – provaram, afinal, ter visão apurada, adquirindo uma coleção ecléctica e de raríssima qualidade, como o mundo nunca tinha visto, reunindo obras-primas dos Impressionistas europeus à arte nativa americana, e dos contemporâneos à arte asiática. Por isso, quando após a morte de David, o ano passado, aos 102 anos, a Christie’s anunciou que iria vender todo o espólio dos Rockefeller em leilão, esta venda foi rapidamente apelidada de "Leilão do século". Não exageravam…

Estimava-se, inicialmente, que o valor das peças pudesse atingir os 650 milhões de dólares, o que ultrapassaria o anterior recorde de uma coleção privada – a de Pierre Bergé e de Yves Saint Laurent, que totalizou 443 milhões. Mas o valor final, após quatro dias de leilões, em maio passado, acabou por ser bem superior: 832 milhões de dólares! Pelo meio, a coleção bateu mais alguns recordes, como os valores mais altos pagos por um Monet (Nymphéas en fleur, 84.687.500), por um Matisse (Odalisque couchée aux magnolias, 80.750.000), Diego Rivera (The Rivals, 9.762.500) e mais 14 diferentes artistas. Por 115 milhões (todos os valores são aferidos em dólares), o quadro de Picasso, Fillette à la corbeille fleurie, que antes dos Rockefeller tinha pertencido a Gertrude Stein e à sua companheira, Alice B. Toklas, não chegou a bater algum recorde, mas acabou por ser a peça mais cara do leilão…

Em vida, David e Peggy Rockefeller abraçaram muitas causas, da investigação científica à sustentabilidade ambiental, da educação à arte, e o resultado do leilão, na sua totalidade, reverte para uma dezena de instituições sem fins lucrativos dentro dessas áreas, casos da Universidade de Harvard e, claro, do MoMA.

OS ARISTOCRATAS. Peggy e David Rockefeller, dos destacados membros da “aristocracia” americana, reuniram uma coleção extraordinária leiloada com pompa e circunstância pela Christie’s, em maio deste ano. Nas imagens 'The Rivals', de Diego Rivera; 'Nymphéas en Fleur', de Monet; e 'Odalisque Couchée aux Magnolias', de Matisse
OS ARISTOCRATAS. Peggy e David Rockefeller, dos destacados membros da “aristocracia” americana, reuniram uma coleção extraordinária leiloada com pompa e circunstância pela Christie’s, em maio deste ano. Nas imagens 'The Rivals', de Diego Rivera; 'Nymphéas en Fleur', de Monet; e 'Odalisque Couchée aux Magnolias', de Matisse Foto: Arthur Lavine | Christie's

A ligação portuguesa

Quando se fala de grandes coleções de arte privadas, vendidas em leilão, há um nome, português, incontornável. É o de António Champalimaud, cujo espólio, vendido também pela Christie’s, em 2005, atingiu as 39 milhões de libras (ou 57 milhões de euros, ao câmbio da altura). Foi a segunda coleção europeia mais valiosa, ficando atrás da coleção dos Rothschild, cujo total ascendeu a 57 milhões de libras, em 1999. Integrava cerca de 200 peças, entre quadros e mobiliário francês, porcelanas e tapeçarias orientais que o empresário reuniu, ao longo de 40 anos. Era um colecionador maioritariamente entusiasta da arte francesa do século XVIII, mas a peça de maior destaque no leilão foi um raro Canaletto, em tela vertical, acredita-se que de 1754, no qual o veneziano pinta de memória, a partir de Londres, as festas do Dia da Ascensão na Cidade dos Canais. Avaliado pela leiloeira em cerca de 8 milhões de euros, o quadro acabou por ser adquirido por um licitador anónimo por mais de 11 milhões de libras. Um recorde absoluto para o artista. E tal como no caso de Rockefeller, os lucros – neste caso, a maioria deles – reverteram para a fundação que António Champallimaud deixou em legado.

GRAND SEIGNEUR. A coleção de António Champalimaud rendeu 57 milhões de euros, no leilão realizado pela Christie’s, em 2005. Um dos raríssimos portugueses ricos a deixar um legado ao país, o industrial quis que o valor do leilão revertesse a favor da fundação com o seu apelido. Do espólio de arte a estrela do leilão foi um quadro de Il Canaletto, 'Vista do Bucintoro no Molo no Dia da Ascensão', em Veneza. Também nas imagens, 'La Jardinière', de Jean-Honoré Fragonard
GRAND SEIGNEUR. A coleção de António Champalimaud rendeu 57 milhões de euros, no leilão realizado pela Christie’s, em 2005. Um dos raríssimos portugueses ricos a deixar um legado ao país, o industrial quis que o valor do leilão revertesse a favor da fundação com o seu apelido. Do espólio de arte a estrela do leilão foi um quadro de Il Canaletto, 'Vista do Bucintoro no Molo no Dia da Ascensão', em Veneza. Também nas imagens, 'La Jardinière', de Jean-Honoré Fragonard Foto: Fundação Champalimaud

Tal mãe, tais filhos

O envolvimento em causas sociais foi sempre uma característica dos Rockefeller e foi o pai de David, John Davison Jr., quem doou, por exemplo, os terrenos onde se ergue a sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Financiou também várias escavações arqueológicas no Egito e a restauração dos palácios de Versalhes e de Fontainebleau, e da Catedral de Reims, em França, após a II Guerra Mundial. Fundou o The Cloisters, museu dedicado à arte medieval europeia, doando-o depois ao Metropolitan Museum of Art (MET), também em Nova Iorque. Mas se John era sobretudo um conservador, a sua mulher, Abby Aldrich Rockefeller, pelo contrário, olhava para o futuro da arte. E foi assim que, em 1929, escreveu ao Alto-Comissário para as Artes em França, contando-lhe o seu propósito (e de mais duas amigas, Lillie Bliss e Mary Quinn Sullivan) de fundar, em Nova Iorque, um museu "para a arte do nosso tempo". Abby pedia-lhe também "se não fosse muito incómodo", o "que a deixaria muito feliz", se "pudesse dar os nomes de alguns jovens pintores franceses que ainda não despontaram". O problema, explicava na carta, é que apesar do seu marido ser o homem mais rico da América – e provavelmente do mundo – este empreendimento nada tinha que ver com ele, pelo que não podia aventurar-se por artistas mais consagrados. "O meu marido", escrevia Abby, "não está minimamente interessado em pintura moderna, de modo que tenho que entrar nisto de forma muito modesta."

Assim, o melhor que conseguiu de início foi comprar uma "muito pequena" obra de Henry Matisse (seguiram-se muitas mais e todas doadas ao MoMA). O mesmo Matisse que, um quarto de século mais tarde, viria a dedicar a sua derradeira obra a Abby, reconhecendo o enorme impacto que teve na Arte, como a força motriz por trás da criação do MoMA. Rose Window é um vitral e está na igreja de Pocantico Hills, onde os Rockefeller possuem a casa de família. No final, Abby sempre envolveu o marido no projeto, levando-o a doar os terrenos onde o museu se situa, praticamente um quarteirão, em pleno coração de Manhattan, muito perto, aliás, da famosa Rockefeller Plaza.

The Museum of Modern Art, em Nova Iorque, foi fundado a 7 de novembro de 1929
The Museum of Modern Art, em Nova Iorque, foi fundado a 7 de novembro de 1929 Foto: James Leynse/Corbis via Getty Images

De uma Peggy a outra Peggy

No mundo da arte, poucos nomes causam tanta polémica e admiração como o de Peggy Guggenheim. Herdeira de parte de uma das grandes fortunas norte-americanas, Peggy perdeu o pai no naufrágio do Titanic e rapidamente se percebeu que o seu estilo excêntrico não se iria contentar com a vida social entre a elite nova-iorquina. Assim, emigra para Paris nos anos 1920, onde se dá com a comunidade artística, tornando-se amiga de Man Ray, Brancu?i e Marcel Duchamp. Especialmente este último, que será também o "professor" na introdução à Arte, tal como se pode ler na sua biografia escrita por Anton Gill: "Eu tive de lhe explicar as diferenças entre abstrato e surrealista porque, de início, não percebia a diferença. Mas aprendia rápido e tinha uma empatia natural com os artistas." Anos mais tarde, agora em Londres, abre uma galeria, a Guggenheim Jeune, introduzindo a capital britânica a nomes como Jean Cocteau ou Wassily Kandinsky. Ao longo desse ano, o espaço granjeou alguma reputação, mas Peggy – que comprava sempre, pelo menos, uma obra em cada exposição – sonhava abrir um museu em Londres, à semelhança do que o seu tio estava a fazer em Nova Iorque. Admiravelmente, apesar da diferença de idades, as experiências de Peggy e de Solomon Guggenheim acabam por ser praticamente contemporâneas.

Em 1938, a Europa estava prestes a entrar em guerra e Peggy partiu numa cruzada cultural, decidida a "comprar uma obra por dia" como se pode ler na sua biografia. E quase o fez, adquirindo obras de Mondrian, de Dalí, e de cubistas como Picasso, Braque e Fernand Léger. A obra Les Hommes dans la ville foi comprada no dia em que Hitler invadiu a Noruega, e uma escultura de Brancusi, L’Oiseau dans l'espace, já com os alemães às portas de Paris. Judia, Peggy acabaria por fugir de França para os EUA, apenas em 1941, e a sua coleção despachada por barco, escondida entre cobertores. De volta a Nova Iorque, Peggy abre um museu-galeria, em 1942, Art of This Century, onde expunha todos os europeus que tinha adquirido, mas também emergentes americanos como Robert Motherwell, Mark Rothko ou Janet Sobel. "Comprava o que gostava", disse mais tarde e, como se percebe pela sua maior "descoberta", por vezes acertava em cheio: Jackson Pollock era um mero carpinteiro no museu do tio, até ela o descobrir e apoiar. Por sua vez, Solomon Guggenheim, apesar de ser um colecionador antigo, descobre a arte moderna bem mais tarde na sua vida. Mas foi amor à primeira vista, de tal forma que abdica da gestão diária dos negócios para se concentrar na criação da Fundação Guggenheim que, em 1959, viria a dar origem ao famoso museu em Nova Iorque, desenhado por Frank Loyd Wright – e que ostentou o título de museu mais bonito do mundo, pelo menos até 1997, quando abriu, em Bilbau, um novo Guggenheim, agora desenhado por Frank Ghery. Pouco depois do fim da guerra, a coleção de Peggy Gungenheim é exposta na Bienal de Veneza e a sempre irrequieta senhora descobre uma nova cidade para se apaixonar. Um ano mais tarde compra, em Veneza, o Palazzo Venier dei Leoni, sobre o Grand Canal, e para lá se muda com todas as obras. Desde então, o Palazzo será não só a sua casa mas também um museu, aberto ao público e um dos mais visitados na cidade. Após a morte, Peggy deixa a coleção e o Palazzo à fundação criada pelo tio. Surpreendentemente, pois mal se relacionavam, mas assim os dois ramos artísticos dos Guggenheim passam a estar debaixo da mesma alçada.

Peggy Guggenheim na sua casa em Veneza, em dezembro de 1961
Peggy Guggenheim na sua casa em Veneza, em dezembro de 1961 Foto: Keystone Features/Hulton Archive/Getty Images

O senhor 5 por cento

Nunca se saberá, ao certo, o que levou Calouste Sarkis Gulbenkian a escolher Lisboa como sede da sua fundação. Londres e Washington disputavam-na e ofereciam melhores condições, inclusive financeiras, albergando já muitas das suas peças, mas o empresário arménio acabou por preferir a nossa capital. Talvez a biografia em curso – preparada para assinalar, em 2019, os 150 anos do seu nascimento – apresente novidades. Sabemos que se zangou com o governo britânico, mas terão sido exclusivamente motivos emocionais? Certo é que Calouste Gulbenkian chegou a Lisboa, vindo de Paris, a convite do embaixador português na capital francesa. Com a II Guerra Mundial a decorrer, procurava um refúgio e Portugal surgiu como melhor escolha do que a Suíça, pela facilidade das ligações aos Estados Unidos. Em última análise, seria esse o destino final, mas em Lisboa encontrou um novo lar, tendo mesmo escrito que "nunca havia sentido em mais lado nenhum" uma hospitalidade como a que o rodeou na capital portuguesa. E por aqui ficou, fazendo do antigo hotel Aviz – que, em 1950, a revista Life classificava como "o mais sumptuoso do mundo" – a sua casa.

A Arte era a sua verdadeira paixão e nela investiu boa parte da fortuna. Apesar do seu importante papel como intermediário em inúmeros negócios petrolíferos – o que lhe valeu a famosa alcunha de Senhor 5 por cento devido à quota que detinha na Turkish Petroleum Company (TPC) –, neste tipo de negócios Gulbenkian preferia sempre o contacto direto, como se comprova pela relação que criou com Renné Lalique: "A minha admiração pela sua obra única não parou de crescer ao longo dos 50 anos que durou a nossa amizade… Orgulho-me de possuir, creio bem, o maior número de obras suas…" Porque para Gulbenkian a opção de comprar esta ou aquela peça foi sempre uma questão de gosto pessoal, não obstante possuir uma vasta rede de contactos, entre diretores de museus, galeristas e antiquários que o aconselhavam e informavam sobre novas oportunidades.

Claro que quem investe em arte também se engana – ou é enganado – como revela Joe Berardo numa recente entrevista à revista Sábado: "Só não se engana quem não faz nada", diz, antes de contar como se sentiu na primeiríssima vez que comprou um quadro: "Quando o entregaram em casa irritei-me: ‘Mas isto é um print!’", gritou. "Querias o original?", respondeu-lhe a mulher. "Tens de ir ao Louvre." "Joe" que emigrou jovem da Ilha da Madeira para a África do Sul, onde fez fortuna, pouco ou nada percebia de Arte e nem sabia que aquele quadro era "apenas e só" a Gioconda de Leonardo da Vinci, mas com a ajuda de alguns conselheiros, sobretudo do investidor em arte Francisco Capelo, o Comendador Berardo recuperou rapidamente do desaire inicial, criando a mais valiosa coleção de arte moderna existente em Portugal, avaliada pela Christe’s em 316 milhões de euros. A coleção está exposta no Museu Berardo, no Centro Cultural de Belém, e integra obras de Duchamp, Magritte, Francis Bacon, Man Ray, Andy Warhol, Salvador Dalí ou Jackson Pollock, para além dos portugueses José de Guimarães, Paula Rego, Mário Cesariny ou Amadeo de Souza-Cardoso, entre muitos outros, o que justifica o facto de ser uma das mais visitadas da capital.

AMIGO DE PORTUGAL. Pergunta-se, com frequência, o que teria sido da Cultura, em Portugal, se não tivesse vivido, entre nós, Calouste Sarkis Gulbenkian. Apoiou o país muito além da Cultura, mas o legado visível é a fundação com o seu nome e os dois museus que a mesma comporta. Tido como o primeiro grande colecionador em terra lusa, Gulbenkian reuniu uma excelente coleção privada. Nas imagens, 'O Rapaz das Cerejas', de Édouard Manet; 'Busto de Victor Hugo', de Auguste Rodin, Palas Antena', de Rembrandt; e 'Naufrágio de um Cargueiro', de William Turner
AMIGO DE PORTUGAL. Pergunta-se, com frequência, o que teria sido da Cultura, em Portugal, se não tivesse vivido, entre nós, Calouste Sarkis Gulbenkian. Apoiou o país muito além da Cultura, mas o legado visível é a fundação com o seu nome e os dois museus que a mesma comporta. Tido como o primeiro grande colecionador em terra lusa, Gulbenkian reuniu uma excelente coleção privada. Nas imagens, 'O Rapaz das Cerejas', de Édouard Manet; 'Busto de Victor Hugo', de Auguste Rodin, Palas Antena', de Rembrandt; e 'Naufrágio de um Cargueiro', de William Turner Foto: Fundação Calouste Gulbenkian

Nomes, títulos e uma vida maior

Todas as fortunas, mesmo as mais antigas, começaram em tempos por ser novas. Mas no caso de María del Rosario Cayetana Paloma Alfonsa Victoria Eugenia Fernanda Teresa Francisca de Paula Lourdes Antonia Josefa Fausta Rita Castor Dorotea Santa Esperanza Fitz-James Stuart y de Silva Falcó y Gurtubay (!) é difícil perceber se isso alguma vez aconteceu, de facto. Nasceu em 1926, no Palácio de Liria, em Madrid, e foi baptizada no próprio Palácio Real, tendo por padrinhos o rei Afonso XIII e a rainha Victoria Eugénia. Herdou tantos títulos nobiliárquicos (seis ducados, 20 condados, um condado-ducado e 19 marquesados) que entrou para o Guinness Book of Records. E dizem que se podia percorrer Espanha de uma ponta à outra sem nunca sair das suas terras. Com tanto nome por onde escolher, o pai chamava-a simplesmente de Tanuca e os amigos de Cayetana, mas para o resto do mundo ficou conhecida como a duquesa de Alba. E dizer que nasceu em berço de ouro é, obviamente, um excesso de modéstia.

Cayetana apaixonou-se pelo mundo da arte muito cedo. De facto, entre as primeiras memórias estão as visitas ao Museu do Prado, todos os domingos, com o pai. E se a Casa de Alba possuía já um dos maiores espólios artísticos, acumulado ao longo de séculos, durante o seu "reinado" juntou bastantes mais, ao ponto do segundo marido (e teve três) se queixar de que nunca conseguia encontrar os interruptores no palácio de Madrid, pois estavam sempre escondidos atrás de algum quadro. Quem sabe se de Goya, de Rubens, de Velázquez, de El Greco, de Picasso ou de Dalí. A coleção dos Alba dá especial destaque aos artistas espanhóis, embora inclua algumas curiosidades, como um desenho feito pela amiga Jackie Kennedy durante uma estada no Palácio de las Dueñas, de Sevilha, ou do primo do pai, Winston Churchill. O que não faz parte do acervo – está exposto no Prado – é o famoso quadro de Goya, La Maja Desnuda, de quem se diz retratar outra duquesa de Alba, antepassada sua. A duquesa de Alba contou, numa entrevista, que Pablo Picasso também quis imortalizá-la da mesma forma – o artista considerava-a a sua maior musa – e que esteve tentada a aceitar, mas o seu primeiro marido proibiu-a. Na altura não teve coragem de desafiar as convenções sociais, mas admitiu que a sua vida mudara muito, desde então, dando assim a entender que se o convite tivesse sido feito um pouco mais tarde teria aceitado. Conseguem imaginar a importância que um tal quadro teria para a obra de Picasso? A julgar pela Fillette à la corbeille fleurie, dos Rockefeller, que retrata desnudada a jovem vendedora de flores Linda la Bouquetière, este seria sem dúvida um precioso activo para fundação que criou, nos anos 1970, para preservar o património da Casa de Alba, hoje com um valor estimado de 3 mil milhões de euros.
Cayetana, a duquesa de Alba, no Palácio de Liria, em Madrid, em 1962
Cayetana, a duquesa de Alba, no Palácio de Liria, em Madrid, em 1962 Foto: Henry Clarke/Condé Nast via Getty Images
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