Prazeres / Artes

Livro. O rei do surrealismo numa monografia XXL

Com base nas mais recentes investigações, a Taschen traça a vida e obra de Salvador Dalí. Esta edição especial, limitada e numerada, ajuda a compreender melhor o génio por detrás do telefone-lagosta, dos relógios derretidos e das girafas em chamas.

Foto: Taschen
15:25 | Madalena Haderer

Quem se lembra do episódio de Seinfeld em que Kramer decide criar um "coffee table book" que é, na verdade, um livro com pernas que se transforma, literalmente, numa mesa de centro? Esta edição especial da Taschen, sobre a vida e obra do famoso pintor surrealista Salvador Dalí, podia perfeitamente ser isso. É tão grande e tão pesada – tem 16 quilos – que a editora decidiu chamar-lhe "Baby Sumo". E embora não pese tanto quanto um lutador de sumo, o mais certo é que precise de reforços cada vez que quiser tirá-la da estante. Por isso, o melhor mesmo é deixá-la em cima da mesa, em exposição.

Edição especial limitada e numerada
Edição especial limitada e numerada "Dalí", da Taschen Foto: Taschen

As pinturas de Dalí, com as suas complexidades surpreendentes e alucinantes, beneficiam particularmente deste grande formato (36.7 x 50 cm), que apresenta a sua obra com um detalhe e dimensão sem precedentes, permitindo apreciar cada pincelada. Por muito que se conheça a obra do artista – relógios derretidos, carpas que cospem tigres, um rosto desinflado e suportado por estacas… –, quanto mais se olha para as suas pinturas, mais coisas se vê e mais descobertas se faz. 

Caixa tipo
Caixa tipo "clamshell" que encerra os dois volumes e o livreto desta monografia Foto: Taschen

Dalí foi o criador do "Método Crítico-Paranóico", uma técnica que explora a paranóia como ferramenta criativa para a produção de arte, e que consiste em induzir um estado de paranóia, onde o artista vivencia delírios e projeções mentais, que traduz depois em imagens, procurando uma interpretação crítica e sistemática dessas visões. Nas suas obras, recorreu a ilusões ópticas, imagens duplas e pinturas estereoscópicas, inventou o "objecto surrealista com função simbólica", criou cenografias deslumbrantes para os seus próprios bailados e mostrou-se ao mundo como um génio de bigode inconfundível em colaborações fotográficas. Dominava a técnica – como os críticos sempre reconheceram – e, nos seus últimos anos, voltou-se para a inspiração da arte clássica, reinterpretando e subvertendo a iconografia renascentista em grandes visões celestiais, ou em homenagens mais íntimas a Miguel Ângelo e Velázquez.

Obra intitulada
Obra intitulada "O Grande Masturbador", Salvador Dalí, 1929 Foto: Taschen

Porém, esta retrospectiva monumental, com um pormenor e dimensão nunca antes visto, apresenta não apenas a obra do artista, mas também a sua vida. A edição inclui uma cronologia que traça o seu percurso da Catalunha a Paris, passando por Hollywood, e volta, com fotografias, esboços e páginas de revistas, mas também com citações dos seus próprios escritos, cartas e críticas da época, acompanhadas por retratos raros e icónicos, esboços, ilustrações de livros e outras obras em diversos suportes. 

Capa do volume de cronologia
Capa do volume de cronologia Foto: Taschen

Nestas páginas cronológicas, acompanhamos o jovem Dalí, um talento precoce e indomável, que se aproxima da vanguarda catalã e se torna inseparável do poeta Federico García Lorca. Vemo-lo a visitar Paris pela primeira vez, onde conheceu Picasso, antes de, em 1929, se tornar conhecido nos restritos círculos artísticos com o seu primeiro filme, feito com Luis Buñuel. Pouco depois, as suas pinturas escandalizam não só a burguesia, mas também os surrealistas mais radicais, com cuecas sujas e ídolos de masturbação. É também nesse ano decisivo que Dalí conhece Gala, a sua musa e companheira inseparável – tanto na vida como na arte. Juntos mudam-se para os Estados Unidos, onde Dalí se torna uma figura pública mediática, colaborando em projetos de teatro e moda, e trabalhando em Hollywood com Hitchcock e Disney. Após a guerra, regressam a Espanha, onde se instalam como figuras centrais.

Páginas do volume de cronologia com fotografia de Dalí e Gala, em 1930
Páginas do volume de cronologia com fotografia de Dalí e Gala, em 1930 Foto: Taschen

Esta edição de colecionador é apresentada em caixa de luxo tipo clamshell, revestida a veludo preto, com estampagem dourada e imagem aplicada manualmente, e consiste em dois volumes de capa dura: um de 438 páginas, com reproduções das principais obras de Dalí, com um detalhe nunca antes visto em impressão, com arestas douradas, páginas desdobráveis, estampagem a folha de ouro no título e nas páginas de capítulos; e um segundo volume cronológico, de 624 páginas, com um texto por ano, escritos por Montse Aguer e Carme Ruiz, da Fundació Gala-Salvador Dalí, em Figueres, terra natal do artista. Inclui ainda um livreto de 40 páginas com o catálogo das ilustrações. Ao todo, são mais de mil páginas.

Capaz da revista
Capaz da revista "The American Weekly" de janeiro de 1938 com obras de Dalí Foto: Taschen

Esta monografia especial é limitada a 10 mil cópias numeradas, custa mil euros e está em pré-encomenda até 14 de julho, dia em que entrará à venda no site da Taschen.

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