Prazeres / Artes

Um parisiense que trouxe tesouros do século XX para Lisboa

Criativo, designer e curador de arte, Alexandre Neimann apaixonou-se pela nossa capital, onde acaba de abrir uma segunda loja de mobiliário vintage e peças da sua autoria.

Foto: Francisco Nogueira
18 de dezembro de 2020 | Rita Silva Avelar
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Alexandre Neimann conheceu Portugal pela primeira vez há nove anos. Mais tarde, apaixonou-se pela Comporta, onde passava férias com a namorada, cujos pais tinham uma casa neste pequeno paraíso da costa alentejana. Foi na pitoresca vila do Carvalhal que acabou por abrir a primeira loja pop up da Barracuda, em 2016, um projeto pessoal de criação, curadoria e design de interiores. E se a sul o espaço era boémio e algo exótico, agora, na recém inaugurada loja em Lisboa, erguem-se outros motivos de inspiração que homenageiam o local desde a sua raiz. 

Foto: Francisco Nogueira

O número 396 da rua de São Bento, agora morada da Barracuda Lisboa, já foi um antiquário e mantém as arcadas em pedra, os frisos, os azulejos e as portas de madeiras que em tempos fizeram parte de uma prisão lisboeta do século XVIII. Só um sítio com tamanha riqueza cultural poderia ser morada de outro que nasceu com o desígnio de alojar peças históricas, únicas, e outras feitas por medida e sem repetição, que evocam luxo e autenticidade. A Barracuda Lisboa, que completa a oferta existente a sul, conta com uma mistura eclética de mobiliário do século XX, verdadeiros tesouros anónimos e várias criações com a assinatura de Alexandre Neimann, ao mesmo tempo que serve de ponto de encontro entre clientes e o fundador, para pensar ideias de design de interiores. 

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Natural de Paris, Alexandre Neimann começou por estudar Direito, antes de enveredar pela área das Artes. "Estudei em Paris, e houve uma pessoa em particular que me inspirou, um negociador de arte que vendia mobiliário do século XX, Jacques Lafont, alguém com muito bom gosto artístico e um estilo muito particular e original. Descobri muitos mercados, feiras de antiguidades e de segunda mão graças a ele, e foi um mundo que adorei conhecer" começa por contar, à MUST. Seguiram-se vários estágios, parte do curso, até que se cruzou com "Chahan Minassian, um designer de interiores com ascendência libanesa, apaixonado por cerâmicas contemporâneas, e vendedor de peças vintage. Foram duas pessoas que tiveram muita influência na minha vida profissional."

Foto: Francisco Nogueira

O seu primeiro trabalho foi para o atelier de François-Joseph Graf, onde trabalhou com vários projetos internacionais. "Era a verdadeiro haute couture do design de interiores." Um ano depois aventurou-se a abrir a sua primeira loja em Paris, com um amigo, que manteve por três anos, altura em que coincidiu com a sua vinda a Portugal pela primeira vez. "Se o meu sonho era viver em Roma, um dia, quando descobri Lisboa percebi que existia aqui algo especial. Vim ao longo de vários verões para a Comporta, onde os pais de uma ex-namorada têm uma casa."  Assim nasceu a Barracuda Comporta, no Carvalhal, que rapidamente passou de pop up a loja efetiva, e em 2018 decidiu fechar as portas da sua loja em Paris.

Foto: Francisco Nogueira
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Em Lisboa, ao contrário da veraneante morada da Comporta, idealizada com materiais mais simples e rústicos, a recém inaugurada loja ganhou um estilo mais sofisticado e urbano com madeira e mármore, mas também bronze e metal cromado. "Não queria cingir-me à beleza de uma casa de verão e do campo, queria poder mostrar outras coisas" explica. Neimann reúne, dos quatro cantos do mundo, peças de mobiliário que vão desde os finais do século XIX até aos anos 80 dos século XX. "Uma mesa inglesa é uma das peças mais antigas do momento, fez parte de um movimento artístico. Em torno da mesa, as cadeiras são dos anos oitenta, francesas." Esta combinação de estilos, décadas e histórias faz a diferença na curadoria da Barracuda. "As cerâmicas expostas na loja são um mix entre peças do século XX e peças que eu desenho" explica. 

O design de interiores é outra das vertentes do trabalho de Alexandre Neimann. "É algo que faço mais e mais. Adapto-me aos desejos dos clientes, sempre." Está tudo à venda, "excepto a mesa onde se reúne com clientes para discutir projetos" ri-se. "Tanto aqui como na Comporta tento criar ambientes, porque o objetivo é mostrar o meu trabalho como designer de interiores." Conta que já teve clientes com coleções inteiras de objetos de um só tema. "Tive uma cliente que tinha peças alusivas ao Oceano, peixes, ossos, tudo o que se possa imaginar. Pertencia ao seu pai, no sul de França, e queria criar uma cenografia inspirada nesses objetos." 

Foto: Francisco Nogueira

"A minha inspiração é como uma construção constante. Pode vir de tantos sítios, da moda à arquitetura, à natureza" revela. Como também é adepto de uma política de produção sustentável, as peças da autoria de Alexandre são produzidas em Portugal, em colaboração com artesãos, e as outras vêm de diferentes locais no mundo - incluindo o Sul de Portugal, onde  procura sobretudo peças de cerâmica antigas e autênticas. 

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Em tempos de pandemia, as compras são muitas vezes feitas online, em fornecedores de confiança. "Quando escolho para as peças não me foco em assinaturas ou designers, sou mais sensível ao aspecto decorativo das mesmas. Adoro peças modernistas, simples, mas de linhas puras." Neste momento, entre as peças preferidas que estão na loja, Alexandre destaca um sofá que está na entrada. "Francês, dos anos 70, é sofisticado e selvagem ao mesmo tempo. É uma combinação que adoro."

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