Tarelo: de sangue, suor e lágrimas (salgadas) se fez uma nova marca de vinhos no Pico
Paulo Laureano já andava pelos Açores antes dos vinhos da ilha terem virado moda, mas agora lançou-se num projeto que até pode ter uma boa dose de loucura, mas onde os vinhos são feitos com muito juízo. Daí o nome: Tarelo
"Esta é a parte mais interessante, mas até aqui chegar houve muito sangue, suor e lágrimas", conta-nos Paulo Laureano, o nome e a cara mais visível deste projeto que reúne três amigos à volta de uma vinha no Pico.
A "parte mais interessante", obviamente, é a prova dos três vinhos com que o projeto arrancou, dois de mesa e um licoroso, e que revelam tão bem a salinidade e a mineralidade que distinguem os vinhos açorianos. São uma espécie de curso avançado em Pico, num copo. Cremos até que é essa a ideia de Paulo Laureano para o projeto: "revelar o caráter singular dos vinhos do Pico".
Paulo Laureano precisa de poucas apresentações. A maioria conhece-o e identifica-o com o seu Alentejo natal, mas a verdade é que o enólogo já anda pelo Pico há mais de 20 anos, muito antes dos vinhos dos Açores terem virado moda – coisa para a qual, alias, contribuiu com a enologia da Curral Atlantis, uma das pioneiras do setor.
Para o "sangue, suor e lágrimas", precisamos de olhar para as fotografias das vinhas no Pico. A beleza da paisagem é inacreditável, mas esconde – ou melhor, revela − o trabalho gigantesco que é necessário para fazer vinhos nesta ilha perdida no meio do Atlântico. Cada pedaço de terra tem de ser conquistado ao basalto, e cada pé de vinha plantado entre as pedras, em solos raquíticos que mal permitem à planta crescer. É tudo feito à mão, a começar pelos engenhosos currais cujos muros tèm essa dupla função: tirar a pedra do solo e proteger a vinha da fúria do mar. É um terroir único e é isso o que torna os vinhos do Pico tão incríveis.
Potion Licoroso 2003
Curiosamente, a prova começou pelo Potion, um licoroso diferente, em cujo processo, as uvas – exclusivamente verdelho − são deixadas na vinha até atingirem 22°, 23° de teor alcoólico. As "uvas mirram e perdem alguma água, mas não ficam passa, pelo contrário, permanecem verdes e mantem um perfil aromático muito grande", explica. São depois esmagadas e fermentam em barricas muito usadas durante um longo período, até as leveduras conseguirem chegar aos 16° 17° graus de álcool "não conseguem passar dai" explica. O resultado é surpreendente, um vinho do tipo licoroso, mas sem qualquer adição de aguardente, o que faz com que o seu perfil seja muito interessante, elegante e complexo. É um vinho gordo, mas de fina acidez. O vinho estagiou depois numa adega junto ao mar, onde a temperatura é contante o ano inteiro, entre os 20, 21 graus. Foram 20 anos de estágio e fundamentais para conseguir atingir este patamar.
Foi o primeiro licoroso que Paulo Laureano fez aqui nos Açores, corria ainda o ano de 2003. Fê-lo com a chancela da Curral Atlantis, mas conseguiu "recuperar" o vinho para este novo projeto, apesar de não saber ainda como o podem comercializar, uma vez que existem dúvidas sobre a categoria legal deste "fortificado" sem adição de aguardente vínica. De qualquer forma o preço está definido: 900 euros.
Tarelo, Arinto & Verdelho 2019
Tem o blend típico dos vinhos açorianos, mas com mais arinto que verdelho. É mineral, com uma acidez muito viva e algumas notas de fruta tropical (estas mais ligadas ao verdelho), mais um toque de salinidade quase doce que encanta. O final é longo. Chega também ao mercado com algum estágio, que Laureano considera fundamental para conseguir este balanceamento e bom equilíbrio. Fermentou em inox com as borras, e não tem madeira – nenhum dos dois vinhos tranquilos tem, pois é dispensável neste perfil. Preço: 30 euros.
Monumental Arinto 2018
Mais um vinho de estágio prolongado, e que se encontra em garrafa desde final de 2019. Desta vez 100% Arinto e com uma complexidade enorme, tal como o final. Tudo em grande! Acidez, frescura e muita estrutura. Uma cor carregada linda, quase oxidada. É um vinho super gastronómico, para acompanhar com pratos mais fortes, peixes gordos e carnes brancas (ao contrário do primeiro, que pede comidas mais frescas). Pede, eventualmente, uma temperatura um pouco mais elevada para branco, a rondar os 12°. Preço: 80 euros.
‘Não tens tarelo’
Palavra final para o nome do projeto, que nasce desta expressão tão tipicamente açoriana, para apontar pessoas com muito pouco juízo. Curiosamente, os rótulos do Tarelo escondem também uma pequena frase, em inglês: "No stupid people beyond this point" (não há pessoas estúpidas para além deste ponto), frase que de alguma maneira explica o nome, mas que funciona também como lema da marca e um elogio ao consumidor.
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