Sabores / Prazeres

Quinta de Lemos. Vinte anos a produzir alguns dos melhores vinhos do Dão

Deus quis, Celso de Lemos sonhou e a obra nasceu, primeiro na forma de têxtil de luxo e, mais tarde, na de rótulos premiados. No início de outubro, a herdade em Passos de Silgueiros celebrou o 20º aniversário da primeira colheita com uma programação especial.

Quinta de Lemos
Quinta de Lemos Foto: DR
23 de outubro de 2025 | Patrícia Santos

Por estes dias, vivem-se momentos de festa na Quinta de Lemos, um paraíso natural escondido no planalto da — a 340 metros de altitude —, que começou a desabrochar na década de 90. Foi nesta altura que Celso de Lemos, impulsionado pelo sonho de criar a partir das castas autóctones da região, comprou a propriedade que encontra em Passos de Silgueiros, a sete quilómetros da cidade de e bem protegida pelas da , Caramulo, Buçaco e Nave. No ano em que se celebra o 20º aniversário da primeira colheita, a herdade recebeu familiares, amigos e parceiros de negócio para um programa especial. Este arrancou às 14h de 4 de outubro com um welcome drink e uma mesa farta, sobre a qual não faltavam queijos, frutas, azeitonas, pão e charcutaria. A encantadora paisagem rural, visível através do vidro e da varanda que envolvem a sala, era uma iguaria à parte.

Os convidados, divididos por grupos, foram então chamados a participar numa visita sensorial e interativa à adega. A atividade, desenhada com o objetivo de tirar o maior partido possível dos cinco sentidos, aqui estimulados por provas cegas e diferentes texturas, acabou por revelar-se uma forma divertida e dinâmica de explorar os lugares na origem de algumas das referências mais aclamadas a nível mundial. É destas instalações que, anualmente, saem cerca de 100 mil garrafas para o mercado, embora os guias adiantem que dispõem de matéria-prima para produzirem outras tantas. Ao limitarem a produção, os responsáveis pretendem assegurar “que as cepas consigam expressar ao máximo as características das uvas que geram, intensificando as particularidades de cada casta”. O resultado são tintos, brancos, rosés e espumantes de “qualidade superior”. Como não irrigam o vinhedo, deixando-o dependente dos caprichos do clima, os rótulos distinguem-se ainda por um grande caráter anual.

Adega da Quinta de Lemos
Adega da Quinta de Lemos Foto: DR

Por volta das 17h, os visitantes iniciaram a breve caminhada até ao que abriu em 2014 com o objetivo “de oferecer à região, com identidade e autenticidade, um restaurante em que a portugalidade estivesse presente em todos os detalhes”, explicou , o chef escolhido para liderar o espaço, à Must. O Grupo de Cavaquinhos e Cantares de São Martinho, o Coro Mozart e o duo composto por Raquel e Rodrigo — todos com raízes locais — foram a banda sonora do trajeto, ao longo do qual é possível avistar as vinhas. Estas, únicas na zona pela sua densidade, estendem-se por 25 hectares e geram uvas de seis variedades indígenas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen, Alfrocheiro, Encruzado e Malvasia Fina. Os outros 25 hectares que compõem a quinta dividem-se entre os destinados às 3.000 oliveiras, ao pinhal e à horta.

O percurso conduziu-nos à apresentação e degustação do Dona Georgina 2005, o néctar no centro das comemorações, pelo enólogo Hugo Chaves. O vinho, feito a partir de Touriga Nacional (80%) e Tinta Roriz (20%), sobressai pelas “notas de flores e frutos muito expressivos”. Trata-se de uma referência com “boa estrutura, fresco de taninos macios, com final quente, aromático e de boa persistência”, como se pode ler na ficha técnica do mesmo.

Vinho Dona Georgina 2005, da Quinta de Lemos, no Dão, comemora 20 anos
Vinho Dona Georgina 2005, da Quinta de Lemos, no Dão, comemora 20 anos Foto: DR

O evento continuou com um jantar volante no Mesa de Lemos, marcado por criações em que ingredientes como o bacalhau, o cabrito, a corvina e a tangerina estiveram em evidência. Um momento descontraído em que foi possível apreciar como o edifício, com paredes rasgadas pela presença de uma pedra natural enorme e janelas generosas que o inundam de luz e acompanham as suas linhas retilíneas, se enquadra, de maneira harmoniosa, na paisagem granítica envolvente. Enquanto a arquitetura esteve a cargo de Carvalho Araújo, a decoração elegante e confortável do interior, com mesas amplas e maciças, foi responsabilidade de Nini Andrade Silva. As loiças chegam do atelier da ceramista Geraldine Esteves, filha de Celso de Lemos, e são sempre pensadas em conjunto com Diogo Rocha para destacarem os produtos regionais e nacionais que o cozinheiro trabalha com técnicas da cozinha moderna. No processo, Diogo procura manter, no seu estado mais puro e natural, os ingredientes. Alguns provêm da própria quinta, como os legumes, o vinho e o azeite virgem extra, de acidez bastante baixa, processado a frio nem 24 horas depois da apanha manual das azeitonas. Preservam, assim, a máxima frescura e qualidade do fruto.

Atualmente, no restaurante com uma estrela Michelin e outra verde, desde 2019 e 2022, respetivamente, há dois menus disponíveis: o do chef, com oito momentos (160€), e o de Lemos (130€), com seis. O besugo, de Sesimbra, o cabrito, da Serra do Caramulo, o requeijão, da Serra da Estrela, e a maçã, das Beiras são pratos que têm em comum. A harmonização vínica aumenta o preço em 80€ e 60€.

Restaurante Mesa de Lemos
Restaurante Mesa de Lemos Foto: DR

Da mesa para a cama

Após o fogo de artifício, chegou a hora de pernoitar na casa de hóspedes / convidados da herdade, um equipamento privado que complementa o restaurante e funciona como showroom para os atoalhados da Abyss & Habidecor, um negócio que Celso de Lemos desenvolveu antes de se aventurar na viticultura. Tudo começou aos 17 anos quando, instigado pela mãe, o viseense foi para a Bélgica, onde estudou engenharia química, adquiriu prática profissional e, quis o destino, conheceu Paulette, com quem viria a casar. No retorno a Portugal, o viseense, descrito por quem o conhece como um homem humilde, trabalhador e visionário, serviu-se da cave dos pais para fazer os primeiros artigos, que logo apresentou às casas e hotéis mais luxuosos do planeta. Mais de quatro décadas depois, há muito que a marca se tornou referência na área do têxtil de luxo, com clientes em 65 países. Tudo graças à grande resistência, durabilidade e suavidade típicas das peças confecionadas. A excelência alcançada deve bastante ao trabalho artesanal levado a cabo por mãos experientes e à escolha dos materiais utilizados. Da região de Gizé (Egito), por exemplo, chega um algodão capaz de produzir fios macios, robustos, duradouros e absorventes que se entrelaçam para dar forma não só aos tapetes com os quais se estabeleceu, mas também a toalhas, lençóis, roupões, chinelos, almofadas, mantas e panos de cozinha. De modo a controlar os processos e garantir a qualidade, todos os produtos são feitos, integralmente, nas fábricas da Abyss & Habidecor, do fabrico dos tecidos à criação química das cores, pré-lavagem e embalamento. 

Onde? Passos de Silgueiros, 3500-541 (Viseu). Horário? Adega e loja — Segunda a sexta, das 9h às 17. Mesa de Lemos — Quarta e quinta, das 20h às 24h, sextas e sábados, das 12h às 15h e das 20h às 24h, domingos, das 12h às 15h. Reservas? Adega e loja — 23 295 1748 / 23 295 1495 / info@quintadelemos.com. Mesa de Lemos — 96 115 8503 / reservas@mesadelemos.com.

Relacionadas

Blade. O templo lisboeta do bife sem complicações

No coração do Cais do Sodré abriu um restaurante que faz do bife o centro absoluto da experiência, com um conceito simples e ousado: um único prato principal elevado à perfeição. Entre acompanhamentos criativos, molhos clássicos e um ambiente descontraído, o Blade promete redefinir a forma como Lisboa saboreia a carne.

Mais Lidas