Quinta de Lemos. Vinte anos a produzir alguns dos melhores vinhos do Dão
Deus quis, Celso de Lemos sonhou e a obra nasceu, primeiro na forma de têxtil de luxo e, mais tarde, na de rótulos premiados. No início de outubro, a herdade em Passos de Silgueiros celebrou o 20º aniversário da primeira colheita com uma programação especial.

Por estes dias, vivem-se momentos de festa na Quinta de Lemos, um paraíso natural escondido no planalto da Beira Alta — a 340 metros de altitude —, que começou a desabrochar na década de 90. Foi nesta altura que Celso de Lemos, impulsionado pelo sonho de criar vinhos exclusivos a partir das castas autóctones da região, comprou a propriedade que encontra em Passos de Silgueiros, a sete quilómetros da cidade de Viseu e bem protegida pelas serras da Estrela, Caramulo, Buçaco e Nave. No ano em que se celebra o 20º aniversário da primeira colheita, a herdade recebeu familiares, amigos e parceiros de negócio para um programa especial. Este arrancou às 14h de 4 de outubro com um welcome drink e uma mesa farta, sobre a qual não faltavam queijos, frutas, azeitonas, pão e charcutaria. A encantadora paisagem rural, visível através do vidro e da varanda que envolvem a sala, era uma iguaria à parte.
Os convidados, divididos por grupos, foram então chamados a participar numa visita sensorial e interativa à adega. A atividade, desenhada com o objetivo de tirar o maior partido possível dos cinco sentidos, aqui estimulados por provas cegas e diferentes texturas, acabou por revelar-se uma forma divertida e dinâmica de explorar os lugares na origem de algumas das referências mais aclamadas a nível mundial. É destas instalações que, anualmente, saem cerca de 100 mil garrafas para o mercado, embora os guias adiantem que dispõem de matéria-prima para produzirem outras tantas. Ao limitarem a produção, os responsáveis pretendem assegurar “que as cepas consigam expressar ao máximo as características das uvas que geram, intensificando as particularidades de cada casta”. O resultado são tintos, brancos, rosés e espumantes de “qualidade superior”. Como não irrigam o vinhedo, deixando-o dependente dos caprichos do clima, os rótulos distinguem-se ainda por um grande caráter anual.

Por volta das 17h, os visitantes iniciaram a breve caminhada até ao Mesa de Lemos, que abriu em 2014 com o objetivo “de oferecer à região, com identidade e autenticidade, um restaurante em que a portugalidade estivesse presente em todos os detalhes”, explicou Diogo Rocha, o chef escolhido para liderar o espaço, à Must. O Grupo de Cavaquinhos e Cantares de São Martinho, o Coro Mozart e o duo composto por Raquel e Rodrigo — todos com raízes locais — foram a banda sonora do trajeto, ao longo do qual é possível avistar as vinhas. Estas, únicas na zona pela sua densidade, estendem-se por 25 hectares e geram uvas de seis variedades indígenas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Jaen, Alfrocheiro, Encruzado e Malvasia Fina. Os outros 25 hectares que compõem a quinta dividem-se entre os destinados às 3.000 oliveiras, ao pinhal e à horta.
O percurso conduziu-nos à apresentação e degustação do Dona Georgina 2005, o néctar no centro das comemorações, pelo enólogo Hugo Chaves. O vinho, feito a partir de Touriga Nacional (80%) e Tinta Roriz (20%), sobressai pelas “notas de flores e frutos muito expressivos”. Trata-se de uma referência com “boa estrutura, fresco de taninos macios, com final quente, aromático e de boa persistência”, como se pode ler na ficha técnica do mesmo.

O evento continuou com um jantar volante no Mesa de Lemos, marcado por criações em que ingredientes como o bacalhau, o cabrito, a corvina e a tangerina estiveram em evidência. Um momento descontraído em que foi possível apreciar como o edifício, com paredes rasgadas pela presença de uma pedra natural enorme e janelas generosas que o inundam de luz e acompanham as suas linhas retilíneas, se enquadra, de maneira harmoniosa, na paisagem granítica envolvente. Enquanto a arquitetura esteve a cargo de Carvalho Araújo, a decoração elegante e confortável do interior, com mesas amplas e maciças, foi responsabilidade de Nini Andrade Silva. As loiças chegam do atelier da ceramista Geraldine Esteves, filha de Celso de Lemos, e são sempre pensadas em conjunto com Diogo Rocha para destacarem os produtos regionais e nacionais que o cozinheiro trabalha com técnicas da cozinha moderna. No processo, Diogo procura manter, no seu estado mais puro e natural, os ingredientes. Alguns provêm da própria quinta, como os legumes, o vinho e o azeite virgem extra, de acidez bastante baixa, processado a frio nem 24 horas depois da apanha manual das azeitonas. Preservam, assim, a máxima frescura e qualidade do fruto.
Atualmente, no restaurante com uma estrela Michelin e outra verde, desde 2019 e 2022, respetivamente, há dois menus disponíveis: o do chef, com oito momentos (160€), e o de Lemos (130€), com seis. O besugo, de Sesimbra, o cabrito, da Serra do Caramulo, o requeijão, da Serra da Estrela, e a maçã, das Beiras são pratos que têm em comum. A harmonização vínica aumenta o preço em 80€ e 60€.

Da mesa para a cama
Após o fogo de artifício, chegou a hora de pernoitar na casa de hóspedes / convidados da herdade, um equipamento privado que complementa o restaurante e funciona como showroom para os atoalhados da Abyss & Habidecor, um negócio que Celso de Lemos desenvolveu antes de se aventurar na viticultura. Tudo começou aos 17 anos quando, instigado pela mãe, o viseense foi para a Bélgica, onde estudou engenharia química, adquiriu prática profissional e, quis o destino, conheceu Paulette, com quem viria a casar. No retorno a Portugal, o viseense, descrito por quem o conhece como um homem humilde, trabalhador e visionário, serviu-se da cave dos pais para fazer os primeiros artigos, que logo apresentou às casas e hotéis mais luxuosos do planeta. Mais de quatro décadas depois, há muito que a marca se tornou referência na área do têxtil de luxo, com clientes em 65 países. Tudo graças à grande resistência, durabilidade e suavidade típicas das peças confecionadas. A excelência alcançada deve bastante ao trabalho artesanal levado a cabo por mãos experientes e à escolha dos materiais utilizados. Da região de Gizé (Egito), por exemplo, chega um algodão capaz de produzir fios macios, robustos, duradouros e absorventes que se entrelaçam para dar forma não só aos tapetes com os quais se estabeleceu, mas também a toalhas, lençóis, roupões, chinelos, almofadas, mantas e panos de cozinha. De modo a controlar os processos e garantir a qualidade, todos os produtos são feitos, integralmente, nas fábricas da Abyss & Habidecor, do fabrico dos tecidos à criação química das cores, pré-lavagem e embalamento.
Onde? Passos de Silgueiros, 3500-541 (Viseu). Horário? Adega e loja — Segunda a sexta, das 9h às 17. Mesa de Lemos — Quarta e quinta, das 20h às 24h, sextas e sábados, das 12h às 15h e das 20h às 24h, domingos, das 12h às 15h. Reservas? Adega e loja — 23 295 1748 / 23 295 1495 / info@quintadelemos.com. Mesa de Lemos — 96 115 8503 / reservas@mesadelemos.com.
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