Confissões: um mundo de sabores servidos em Lisboa
Depois de anos a cozinhar pelo mundo — de França à Austrália, dos países nórdicos ao Japão — Pedro Trogal Viana decidiu que era tempo de regressar às origens para contar o seu percurso através da comida. Lisboa é o cenário e o palco é o novo Confissões, um restaurante de linhas sóbrias, com mesas de mármore e louça artesanal grega, onde se celebra uma cozinha de autor sem filtros, cópias ou concessões.

No número 17 A da Rua Cardeal Mercier, junto ao mercado do Rego, há um novo restaurante onde cada prato conta uma história, condensando em sabores as viagens, aprendizagens e emoções vividas por Pedro Torgal Vieira ao longo de uma verdadeira vida de saltimbanco. Aos 16 anos, logo após terminar o curso profissional, embarcou para Veneza, onde absorveu a mestria dos risottos em restaurantes Michelin. De regresso a Portugal, cruzou caminhos com o chef Luís Santos, a quem chama carinhosamente de "sensei e mentor".

Nos anos seguintes, trabalhou (e aprendeu) em cozinhas no Luxemburgo, Suíça, Estados Unidos, Brasil, Espanha, China e até Austrália, tendo, neste último, estagiado no "melhor restaurante do país". Depois de outra paragem na Noruega e novamente na Suíça, regressou a Lisboa para inaugurar o Laboratório do Gelado Sub 196, com o qual foi pioneiro, ao trazer os gelados de azoto para Portugal. Continuou a carreira como chef privado durante oito anos até que, em 2024 realizou finalmente "o sonho antigo" de ter o seu próprio restaurante.
Chama-se Confissões e está aberto em regime de soft opening desde dezembro. "Mais do que um restaurante, trata-se do livro de memórias das minhas viagens, que tanto vai das tascas aos três estrelas Michelin", resume o chef, que, conta, já visitou "1.250 restaurantes em 60 países".

"Somos um restaurante com identidade, que não copia", sublinha Pedro, com a confiança de quem sabe o caminho percorrido para ali chegar. Começou a trabalhar aos 16 anos e investiu intensamente na formação, com passagens por restaurantes de referência. "Aprende-se muito com quem sabe", diz, num tom que mistura humildade e orgulho. A cozinha francesa, a nórdica e a italiana são as suas maiores influências, mas a técnica que lhe garante autenticidade é toda sua.
O couvert marca logo o tom da experiência: uma foccacia morna com crosta dourada, acompanhada por uma manteiga feita com pólen de abelha, um travo floral e inesperado; e por um azeite, vindo da Grécia, que se destaca pelo terroir, também ele descoberto numa das muitas viagens do chef. Ou seja, desde o início da refeição, cada detalhe parece pensado para surpreender, mas sem pretensões.

Entre as entradas, a delicadeza das vieiras braseadas (14€) surge equilibrada pela textura crocante dos espargos verdes e pela untuosidade do beurre blanc, com um toque marinho das ovas de truta. Já o tártaro de vaca do Uruguai com tutano caramelizado (18€) impõe-se com carácter e profundidade, "sem necessidade de hidratos", como o chef faz questão de frisar. "Faço as entradas de modo a que a proteína e os sabores se expressem sem interferências."
Nos pratos principais, além dos ingredientes que os compõem, cada proposta traz também um pedaço de mundo. Os tentáculos de polvo (22€), firmes e suculentos, são acompanhados por um puré de batata-doce envolvente, que encontra no molho de chouriço uma nota fumada e picante, bem portuguesa. O leitão no forno (19€), servido com gel de cassis e salada de citrinos, brinca com contrastes: gordura e acidez, doçura e frescura, tradição e ousadia. Um molho de pimenta, a fazer lembrar o tradicional leitão da Bairrada, dá-lhe o toque final, sem sobrepor sabores.

Para acompanhar, a carta de vinhos, desenhada com a consultoria de um enólogo, é também ela uma viagem em si mesma. O Barriga de Riso, branco do Alentejo, é o vinho da casa e faz jus ao nome: leve, frutado, descomplicado, enquanto o tinto Rare, cuja venda apoia espécies em vias de extinção, revela-se mais intenso e estruturado. E ainda há espaço para surpresas como o Carpe Diem Orange, da Moldávia, que acrescenta um lado quase experimental à refeição.

As sobremesas são um capítulo à parte — talvez o mais lúdico desta narrativa gastronómica. A tartelete de chocolate negro de São Tomé (7,50€), com cereja e flocos de ouro 23k, é puro hedonismo, equilibrado e luxuoso. O tiramisù de matcha (7,50€) reinventa um clássico italiano com uma delicadeza verde e terrosa. Mas é o gelado de queijo Manchego (7,50€) que mais divide e conquista: o caramelo crocante, o guanciale salgado e o azeite infusionado com baunilha criam uma sobremesa inesperada, quase subversiva, mas muito, muito gulosa, como se pretende.

Aberto de terça a sábado, o Confissões é um restaurante onde cada prato é um segredo partilhado e cada sabor uma lembrança. E do qual, no fim da refeição, saímos com a certeza de ter ouvido — ou antes saboreado — as confissões de um verdadeiro contador de histórias sob a forma de refeição.
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