Prazeres / Sabores

Restaurante Animal e os encontros no bar do hotel

A notícia nem é mais um hotel lindo no centro da capital, o que o Hotel Hotel é, mas onde, em abono da verdade, muito poucos lisboetas ficarão hospedados. O convite é para ir ao restaurante Animal, que não tendo nada de selvagem é ideal para soltar os sentidos mais sofisticados no meio da sua floresta interior.

07 de outubro de 2022 | Patrícia Barnabé
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O Hotel Hotel é lindo e é ainda mais lindo por ser altamente discreto, numa perpendicular à Avenida da Liberdade, ao bom gosto de um membro dos Design Hotels que se preze. Não vimos nada dos seus talentos para a hospitalidade, mas, como acontece em diferentes hotéis cool pelas grandes capitais do mundo fora, este é daqueles lugares que, se calhar, passaremos a frequentar sem ter de passar lá uma noite. Porque o restaurante e o bar são bons, e porque é sexy combinar um copo ou um jantar onde pessoas de todo o mundo passam, a chegar e a sair para qualquer lado.

Para começar, experimentámos o cocktail Osaka, de saqué, líchias fresquíssimas e maraschino, mas vacila-se numa carta onde existe um tropical Pisco, com abacaxi e espuma de coco ou um Berry Me onde ao vodka se junta puré de morango e sumo de limão, ou ainda um Boom Tiger onde a um gin de ruibarbo e gengibre se adicionam framboesas e chocolate amargo. Isto para além de uma lista infindável de clássicos, e a par de uma lista de vinhos orgânicos portugueses, escolhida a dedo, e onde há pelo menos uma referência bio, e uma de chás, o que é uma raridade que muito apreciamos – e que tão bem se presta ao menu que se seguirá. Beber a bebida certa com vista para um verdejante pátio interior, ou mesmo no meio dele quando as temperaturas acolhem, é meio caminho andado, e o coração do Hotel Hotel é um pequeno vislumbre de selva e serenidade.

Foto: Jorge Simão

A carta do restaurante é pequena - o que é bom sinal normalmente o pouco é mais bem cuidado -, e é sazonal e contruída sobre pratos inspirados no mundo vegetal e no mundo animal, a condizer com o cenário. A sua base é uma cozinha crua, com grande influência asiática e da América do sul, e uma cozinha onde o fogo está presente, por vezes evidente. Vontades do chef Carlos Soares, que não só criou a Tartaria, como passou por cozinhas de referência como a do Villa Joya, no Algarve.

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Foto: Jorge Simão

Enquanto saboreamos o nosso cocktail, e nos entretemos com o couvert (sempre adorámos a simplicidade de um bom couvert, que tira o pulso à qualidade de um espaço), no Animal o centro é o pão da Padaria da Esquina, de Vítor Sobral. Segue-se uma escolha de sashimis e de hosomakis, o sushi man é japonês, chama-se Saito Kosuke, por isso o sushi que chega à mesa é de excelência e o tradicional, sem as tristes invenções do queijo creme e dos morangos. Só usa peixes portugueses, naturalmente, e atenção à cavala, à sardinha e ao xaréu, mais invulgares e exemplarmente tratados aqui.

Foto: Jorge Simão

Também adorámos o ceviche com lírio dos Açores e maracujá, que consta ter sido dos primeiros pratos a serem criados para esta carta, por isso arrisca-se a tornar-se num clássico. Assim como o tártaro de atum com gema de ovo e puré de abacate, folha de arroz crocante e molho ponzu, que é uma delícia absoluta. Destaque ainda para a burrata com três texturas diferentes de beterraba, isto é, creme de beterraba com laranja, beterraba marinada e a versão crua, que é um bom prato mesmo para quem não adora este belo tubérculo cheio de vitaminas e minerais. Destaque também, e absolutamente, para o cuscus de brócolos com espargos e lima, um vegetariano de conforto muito bem equilibrado.

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Foto: Jorge Simão

Ficámos ainda a pensar no risotto de lima com carabineiro, uma excelente desculpa para voltar, e nas excelentes sobremesas da pasteleira Konzue Morimoto, também ela japonesa, que nos deixou provar um semifrio de maracujá e coco e - fixem este nome - o chocolate Osaka, que é uma especialidade. Se não tiver tempo para almoçar ou jantar no Animal, passe pelo menos para um chá, peça um chocolate destes e vai perceber do que falamos quando falamos em sentidos: se a simplicidade é a maior das sofisticações, esta é a complexidade que parece simples.

Foto: Jorge Simão

Onde? Travessa da Glória 22, 1250-118 Lisboa. Horários: Almoço das 12h30 às 14h30 e jantar das 19h30 às 22h30. O bar está aberto até à meia-noite, com exceção às sextas e sábados, que fecha às duas da manhã.

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