Eco, reflexo, repercussão. A palavra ressonância pode ter todos estes significados. Mas também a qualidade de "efeito duradouro ou intensificador de um som". Para a agência e consultora estratégica Lemon Zest fazia todo o sentido o uso deste termo como mote para a criação do INResonance, um evento composto por ciclos de encontros à mesa, nos quais para além de comida também há espaço para reflexão e debate. Um projeto muito desejado que finalmente se concretiza, dando palco e espaço a importantes vozes do plano gastronómico mundial, ao mesmo tempo que se desenha o futuro da gastronomia, do vinho e da hotelaria.
O primeiro convidado de uma série de jantares foi o chef Pedro Sánchez do restaurante Bága, em Jaén, na Andaluzia. Com uma estrela Michelin, é aclamado pela crítica como um dos mais estimulantes e criativos chefs espanhóis. O espaço, inaugurado em 2019, serve oito clientes de cada vez, e cada prato não leva mais de dois a três ingredientes. "É um mini-restaurante", graceja Sánchez em conversa com a Must, acrescentando "não é fácil de definir porque não se parece com outra coisa. É um lugar diferente, e a sua cozinha também. Tudo muito simples". Quando questionado sobre a sua visita e o que mais o apraz na cozinha portuguesa, responde com rapidez: "A identidade que Portugal mantém. Não está "contaminada". Tem muita essência, creio que estão a defender muito bem essa essência".
Para o INResonance, o chef espanhol trouxe o menu integral do Bága até ao Varanda do Ritz. Pela primeira vez, houve um takeover numa das salas mais icónicas da capital - uma experiência limitada a 22 comensais, pelo valor de €285, vinho incluído.
Na segunda passagem de Sánchez por Portugal – a primeira havia sido em 2018, a propósito da gala Michelin – não se limitou ao jantar inaugural do INResonance. No mesmo âmbito, a Lemon Zest promoveu um evento adjacente no dia anterior no Bla Bla Glu Glu, no número 22 do Largo das Olarias, do chef Leopoldo Calhau. Simultaneamente um showcooking e uma talk, aberto à imprensa, contou com a presença de sonantes nomes da gastronomia nacional, como os chefs André Cruz do Feitoria, Filipe Carvalho do Fifty Seconds, ou mesmo Paulo Alves do recém-estrelado Kabuki e claro, o anfitrião do espaço Leopoldo Calhau, à frente também da Taberna do Calhau. A temática central foi um produto, o azeite no caso e produtores e aficionados também foram convidados. A tarde começou assim, com uma prova de alguns dos melhores exemplares das Beiras, Douro e Trás-os-Montes. Mas, mais do que identificar defeitos de pós-embalamento, sabores e notas cítricas, a figo, frutos secos ou mesmo relva; bem como discutir mitos comuns e possíveis usos na culinária (80% da produção mundial de azeite é consumida em casa), pensou-se este produto riquíssimo com seriedade, como parte do ADN e cultura portuguesas e andaluz e gerou-se um interessante debate mais além, que culminou com uma tentativa de aproximação de produtores e chefs. "A Andaluzia iniciou um caminho de valorização deste produto único. Queremos aprender com esse exemplo, levando o azeite, em Portugal, à dimensão que merece. Dos grandes restaurantes, às mesas de nossa casa." Pode ler-se na página de Instagram do INRessonance, já pós-evento.
No fundo a iniciativa presta-se a isso mesmo, um elogio às mentes criativas do meio e o desenvolver de uma discussão pertinente em volta de temas e tendências, importantes e ou desconcertantes à mesa, ou seja, a criação de uma ressonância que perdure no tempo e faça mais ecos, não deixando ninguém indiferente.