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Como acabar com pensamentos intrusivos e repetitivos de acordo com a ciência

A psicologia chama-lhes cognições perseverativas, uma designação é estranha tendo em conta que a perseverança costuma ser vista como uma coisa boa. A verdade é que as ruminações estão muito na base de boa parte do stress e ansiedade que sentimos. Estudos recentes demonstram que a solução é simples e económica.

Foto: IMDB | Inception
29 de novembro de 2024 | Madalena Haderer

Por muito que o ser humano sinta, por vezes, relutância em completar as tarefas que tem debaixo do nariz – devido a cansaço, falta de tempo ou medo de falhar – a verdade é que o cérebro não gosta de deixar coisas a meio. E, qual pequeno ditador – ou progenitor autoritário, que é mais ou menos a mesma coisa –, gosta de nos lembrar, insistentemente, que deixámos uma coisa pendurada. E quem diz uma, diz 20. Em psicologia, estes pensamentos intrusivos e repetitivos têm um nome: cognições perseverativas. Felizmente, há uma forma simples e económica de acabar com estas ruminações. E só precisa de papel e caneta.

Quando as cognições perseverativas atacam, o sono tende a ser a primeira coisa a sofrer. Principalmente ao domingo à noite, quando tudo o que queremos é deitar a cabeça na almofada e dormir e o nosso cérebro começa a disparar tarefas: "amanhã não me posso esquecer de mandar aquele email, acabar aquele relatório, fazer aquele telefonema, marcar aquela reunião chata, passar na lavandaria, ui, já não há pão, será que paguei a conta da água?, tenho de cancelar aquela subscrição antes que termine o prazo, a propósito de prazo, será que ainda vou a tempo de renegociar o seguro de saúde?, espera lá, a miúda não disse que precisava de levar cartolina cor-de-rosa para a escola?, oh não, esqueci-me da consulta do dentista, mas eles mandam sempre mensagem a avisar, como é que isto foi acontecer?..." Diga a verdade, está a ficar com palpitações só de ler isto, não está? E não está sozinho.

A BBC conta que, de acordo com um estudo recente, feito numa empresa alemã de tecnologias de informação, os funcionários que chegavam ao fim da semana com coisas por fazer pensavam mais nos seus problemas durante esses dias de descanso – ponhamos de lado a surpresa de descobrir que os alemães não cumprem os seus prazos escrupulosamente. A investigadora Christine Syrek, da Universidade de Trier, responsável pelo estudo, diz que os seus resultados indicaram que "a perceção de não ter completado as tarefas da semana promove cognições perseverativas nos trabalhadores e prejudica o sono durante o fim de semana, mesmo além do impacto da pressão temporal", ou seja, mesmo quando as tarefas incompletas não são urgentes.

Por outro lado, de acordo com um estudo elaborado pelo Laboratório do Sono, Neurociência e Cognição da Universidade de Baylor, nos Estados Unidos, a solução para tirar estes pensamentos da cabeça é, simplesmente, pô-los no papel. Quando Michael Scullin, diretor do laboratório, pediu a um grupo de voluntários que, antes de irem dormir, escrevessem uma lista com tudo o que tinham feito nesse dia, e, a um segundo grupo, que escrevessem uma lista com todas as coisas que tinham de fazer no dia seguinte, foi este segundo grupo que adormeceu mais depressa: nove minutos mais depressa. E toda a gente sabe que, depois de se passar duas horas às voltas na cama sem conseguir dormir e já a imaginar o cansaço que se vai sentir no dia seguinte, nove minutos parecem nove semanas.

Este mecanismo tem um nome: descarga cognitiva, que é o que acontece quando uma pessoa toma uma ação para aliviar a carga mental que a persegue. Neste caso, despejá-la num papel. É como fazer um download das preocupações que estão a pairar nessa gigantesca cloud que é o cérebro, e pô-las todas numa área de transferência chamada "folha em branco". Este exercício deixa o cérebro disponível para relaxar com a certeza de que não nos vamos esquecer de nada.

Curiosamente, Michael Scullin concluiu ainda que quanto mais ocupada a pessoa e quanto mais detalhada a sua lista, mais depressa chegava o sono. Portanto, vale a pena resistir à tentação de rabiscar qualquer coisa como "burocracias" ou "responder a emails" e apontar, ponto por ponto, o que é que isso significa na prática. As pessoas que fizeram isso, adormeceram 15 maravilhosos minutos antes das outras. E, sim, provavelmente também demoraram mais 15 minutos a fazer a lista. Não há soluções perfeitas.

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