Um dia na vida de Vitor Costa: “Mentes criativas estão na vanguarda de todos os negócios”
Poucos sabem que a marca portuguesa de sapatilhas Sanjo se refere a São João da Madeira onde começaram a ser produzidas. Ainda no Norte, a imagem está hoje a cargo do diretor criativo Vitor Costa.

A que horas se costuma levantar?
Normalmente entre as 6h40 e as 7h.
O que costuma refletir nos primeiros minutos acordado?
Nos primeiros instantes tento desenhar mentalmente o dia. Tomo muitas decisões logo aí, ainda meio entre o sonho e a realidade.
Qual é a sua rotina quando se levanta?
Entre banhos rápidos, arrumar pequenas coisas e revisitar projetos do dia anterior. Apesar do ritmo atribulado, é de manhã que sinto a energia a explodir – é nessa hora que sou mais produtivo.
Que tipo de pequeno-almoço costuma tomar?
Aborrecido, pouco criativo. O café é o ritual que nunca falha, desde sempre. Às vezes, um croissant ou uma nata (cortesia da Sanjo, deixados junto à máquina de café). Mas, na verdade, durante a semana quase nunca tomo pequeno-almoço.
Costuma haver alguma atividade antes do trabalho?
Sou “old school”: de vez em quando passo no quiosque, gosto de sentir o papel de algumas revistas de design e tendências. Também visito sites. Quando estou a desenhar em casa, ponho um vinil a rodar e confesso que certas cores e modelos da Sanjo nasceram diretamente da música que tocava.
Qual é o seu trajeto diário? Como o faz?
Não há rotina fixa. De Guimarães a Braga, onde ficam os escritórios. Outras vezes, Guimarães a Felgueiras, se estou em fase de novos desenvolvimentos. Sempre de automóvel. O trabalho, na verdade, começa logo ali: chamadas a fornecedores, ideias para editoriais, partilha de conceitos.
Tem alguma preparação prévia para o trabalho?
Sempre. Faço uma análise antes de cada coleção, crio listas de necessidades, penso na coerência e na harmonia da narrativa. Gosto que tudo fique claro – desde um produto a uma sessão de fotos, partilho sempre com detalhe e rigor.
A que horas começa a trabalhar?
Entre as 9h e as 10h no formato tradicional, sentado à secretária. Mas, na prática, começo logo ao acordar. Entro no Instagram, revejo comentários, releio textos. Às vezes até sou eu próprio a lançar conteúdo ou a responder a questões técnicas.
Quais são as suas principais responsabilidades?
Coordeno e desenvolvo todos os aspetos criativos da marca: narrativa, produto, pesquisa de tendências e materiais, esboços, protótipos, modelagem, acompanhamento com fábricas e fornecedores. No fundo, tento dar forma e emoção às ideias: estética e mensagem a caminhar juntas.
Como gere o seu tempo?
Não tão bem como gostaria. Os dias são todos diferentes, com camadas sobrepostas, e acabo por não ser eficiente na gestão.
Como lida com a pressão e o stress?
Com naturalidade. A moda é rápida e exigente, mas gosto do processo do erro e muitas vezes é no caos que surgem os melhores projetos.
Qual a parte favorita e a menos agradável do trabalho?
Fascina-me a criação: a visão que se transforma em matéria. Mas também vibro com a parte industrial das ferramentas, solas, formas, o cheiro do couro e da cola. O equilíbrio entre estes dois mundos é o que mais me inspira. O que menos gosto? O “delay” entre a proposta e a sua materialização.
Trabalha em equipa? Como comunica?
Grande parte do processo é solitária. Só mais à frente partilho com a equipa interna e de vendas. Agora juntámos tudo numa só página, e a comunicação flui melhor. Acredito no modelo colaborativo, sobretudo nas novas gerações: espontâneas, curiosas, abertas à descoberta. Fizemos boas colaborações: Latte, La Paz, Alexandra Moura, Playstation, +351…
Interrompe o trabalho para almoçar?
Sim, sempre fora. Gosto de variar. Como estou em lugares diferentes, acaba por ser consequência natural da rotina.
Como lida com críticas e elogios?
Gosto de “reviews” honestas, positivas ou negativas. Quando o elogio vem de alguém que admiro, é reconfortante. Mas não suporto bajulação. Sou, antes de mais, o meu maior crítico.
Como acha que é visto profissionalmente?
Acredito que há um misto de respeito e fascínio. Sinto que entusiasmo e amor são essenciais para uma marca. E entre criativos, o talento reconhece-se quase de imediato e isso é estimulante.
Dá importância às redes sociais ao longo do dia?
Sim, uso sobretudo o Instagram, como se fosse um diário gráfico, resumindo trabalho em pequenos “stories”.
Tem hobbies?
Discos de vinil, hip-hop e música eletrónica. No passado, ainda fiz uns “gigs” como DJ. Hoje procuro mais a natureza, as plantas, a fotografia.
A que horas termina a atividade profissional?
Difícil desligar. Em casa volto a rever o dia, observo como a Sanjo está a comunicar. Às vezes surge uma ideia e faço um “sketch” rápido até em horas pouco apropriadas.
Costuma conversar sobre o trabalho no final do dia?
Sim, muito. Até tenho receio de me tornar aborrecido ou repetitivo.
Viaja com frequência por trabalho?
Sim, alguma. Não tanto quanto gostaria. Mesmo em lazer, procuro lugares-chave — pela comunidade, pela inspiração, ou até “scouting” para fotografar.
Há diferença entre semana e fim de semana?
Sim, claríssima. Ao fim de semana o café é mais lento, há passeios, há tempo para natureza e pessoas de quem gosto.
A que horas se deita? Quantas horas dorme?
Gostava de dormir mais. Mas nunca consigo mais de 5 horas de sono.
Como mantém o equilíbrio entre vida pessoal e profissional?
Mal. Gostava de conseguir separar melhor os dois mundos.
Vê-se noutra profissão?
Não. Este imaginário sempre esteve no centro de tudo o que faço. Mas, se tivesse de escolher, talvez arquiteto ou jardineiro. Há algo de poético em ambas.
O que mais gosta e menos gosta na sua profissão?
Gosto de acreditar que mentes criativas estão na vanguarda de todos os negócios. Estamos a viver uma mudança de paradigma e acredito no design mais consciente e sustentável. O que não gosto? Que Portugal ainda marginalize o talento criativo. Falta caminho, falta marca própria.
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