“Para Lá do Muro”, toda a verdade sobre a vida dos alemães de leste
A historiadora e jornalista Katja Hoyer, que começou a sua vida atrás do muro, tece uma narrativa rica sobre a história e o quotidiano da Alemanha Oriental.
Foi a 9 de novembro de 1989 que caiu o Muro de Berlim. Fez agora 36 anos. Menos de um ano depois, a 3 de outubro de 1990, um país inteiro desapareceu do mapa. As Alemanhas, a Federal e a Democrática, reunificavam-se. No entanto, a leste do muro, muitos nunca conseguirão deixar de sentir que o que ocorreu foi uma absorção e um apagamento da Alemanha Oriental pela sua irmã ocidental, capitalista, livre e vistosa. Passada a alegria esfuziante inicial com a queda da cortina de ferro, muitos alemães de leste ficaram a sentir-se o parente pobre da festa. O coitadinho que vem lá da Stasilândia, nas costas que quem os parentes ricos e elegantes se riem. A ideia de que os habitantes da República Democrática da Alemanha (RDA) deviam dar-se por gratos e satisfeitos por terem sido acolhidos no seio República Federal da Alemanha (RFA) é deitada por terra por Katja Hoyer, no seu livro Para Lá do Muro, onde a jornalista e historiadora conta a história da Alemanha de Leste, onde os seus cidadãos “viveram, amaram, trabalharam e envelheceram, foram de férias, contaram anedotas sobre os seus políticos, e criaram os filhos”. Essa história, acredita Hoyer, “merece um lugar na narrativa alemã”.
Um desses cidadãos da Alemanha de Leste, olhados com sobranceria pelos vizinhos do lado do antigamente é, nada mais nada menos que, a ex-chanceler Angela Merkel, que nasceu em 1954 e viveu 35 anos no lado comunista de uma Alemanha dividida. Na introdução do seu livro, Katja Hoyer conta que Merkel percebeu que “os seus antecedentes na Alemanha Oriental eram uma vantagem política num país que queria mostrar que era agora uma nação unida”. Ao mesmo tempo, “o sistema não queria ser constantemente recordado de que o muro entre as mentalidades dos alemães de Leste e de Oeste levaria mais tempo a derrubar do que o físico”, razão pela qual, ao longo da sua carreira política, Merkel pouco falou da sua vida na RDA. Nas raras ocasiões em que o fez, “tal foi encarado com hostilidade nos círculos de poder que continuavam a ser largamente dominados pelos antigos alemães ocidentais”.
Porém, em 2021, com a aposentação política à vista, a ainda chanceler disse, finalmente, o que sentia. Hoyer narra o episódio: “Uma publicação da Konrad-Adenauer-Stiftung, uma fundação próxima do próprio partido político de Merkel, elogiara a sua adaptabilidade política à luz daquilo a que chamavam o ‘lastro da sua biografia alemã oriental’. Esta infeliz frase incomodou claramente a chanceler. ‘Lastro?’, indignou-se com aquela descrição do início da sua vida. ‘Um peso desnecessário que pode ser simplesmente largado?’ Naquele invulgar momento público pessoal, realçou, não estava a falar como chanceler, mas como ‘uma cidadã do Leste, como uma dos mais de 16 milhões de pessoas que viveram a sua vida na RDA e que sentiram repetidamente juízos como aquele [...], como se a vida antes da reunificação alemã realmente não contasse’”.
A narrativa que Katja Hoyer tece neste livro suporta este sentimento da ex-chanceler e confirma que as vidas destas pessoas não foram meras notas de rodapé na história da Alemanha. Contada com base num vasto conjunto de entrevistas, cartas e registos inéditos, esta é a derradeira história da outra Alemanha, dos que a construíram e dos que nela viveram ao longo de 45 anos. Um esforço que a contracapa do livro resume da seguinte forma: “Desde a construção do Muro de Berlim, em 1961, até à relativa prosperidade da década de 1970, passando pelos alicerces do socialismo em meados dos anos 1980, a autora argumenta que, no meio da opressão e das dificuldades frequentes, a Alemanha de Leste albergava uma rica paisagem política, social e cultural, um lugar muito mais dinâmico do que a caricatura da Guerra Fria muitas vezes retratada pelo Ocidente.”
Uma obra-prima da história contemporânea europeia, publicada em Portugal pela Vogais, uma chancela da editora Penguin Random House. Tem 493 páginas e custa €25,97.
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