Artes / Prazeres

Picasso e Klee em Madrid

O Museu Nacional Thyssen-Bornemisza acaba de inaugurar “Picasso and Klee in the Heinz Berggruen Collection”, mostra que dá a conhecer a ligação artística entre os dois génios da arte moderna.

Exposição de Picasso e Klee no Museu Thyssen-Bornemisza, em Madrid
Exposição de Picasso e Klee no Museu Thyssen-Bornemisza, em Madrid Foto: Francis Tsang
07 de novembro de 2025 | Madalena Haderer

O Museu Berggruen, em Berlim, está em obras e isso é, provavelmente, uma grande chatice para o seu director, a sua equipa e os seus visitantes berlinenses, mas uma excelente oportunidade para os apreciadores de arte de outros países. Porquê? Ora, porque, já que vai estar coberto de tapumes e andaimes, o museu decidiu organizar uma série de exposições no Japão, China, Austrália e Europa para que apreciadores de arte de outros países tenham oportunidade de admirar algumas das suas obras. E embora, para já, Portugal não esteja na agenda, , o Museu Nacional Thyssen-Bornemisza recebeu cerca de 50 quadros dos e Klee, que podem ser vistos até ao próximo dia 1 de fevereiro.

Paul Klee Despertar, 1920 (Awakening) Acuarela y gouache sobre papel con  imprimación sobre cartón, 22,5 x 28  cm Museum Berggruen, Neue  Nationalgalerie, Stiftung Preußischer  Kulturbesitz, Berlí
Paul Klee Despertar, 1920 (Awakening) Acuarela y gouache sobre papel con imprimación sobre cartón, 22,5 x 28 cm Museum Berggruen, Neue Nationalgalerie, Stiftung Preußischer Kulturbesitz, Berlí Foto: DR

A exposição chama-se “Picasso and Klee in the Heinz Berggruen Collection” e revela a ligação artística entre estes – Pablo Picasso e Paul Klee –, ao mesmo tempo que presta um tributo a Heinz Berggruen. Aquele que dá hoje o nome a um dos principais museus de arte de Berlim foi um dos mais importantes negociantes e colecionadores do século XX. Berggruen nasceu em 1914 e foi durante o seu exílio na cidade de São Francisco que se começou a interessar por pintura moderna. Regressou à Europa, depois da Segunda Guerra Mundial e, em 1948, abriu a sua primeira galeria, em Paris, dedicando-se à aquisição de obras importantes, provenientes de colecções prestigiadas, e atraindo como clientes grandes mecenas da arte moderna.

A partir de 1980, passou a dedicar-se exclusivamente à coleção de obras de mestres do século XX, sobretudo Picasso e Klee, os seus favoritos, que descreveu nas suas memórias como “os dois criadores fundamentais da primeira metade do nosso século”. Em 2000, sete anos antes da sua morte, a sua extraordinária coleção foi adquirida pelo governo alemão, dando origem à criação do Museu Berggruen, integrado na Nationalgalerie. Assim se cumpriu o desejo de Berggruen, que queria não só ver a sua coleção conservada, mas também que fosse partilhada com o grande público.

Pablo Picasso Naturaleza muerta delante de una  ventana, Saint-Raphaël, 1919 (Still Life before a Window, SaintRaphaël) Gouache y lápiz sobre papel, 35,5 ×  25 cm Museum Berggruen, Neue  Nationalgalerie, Stiftung Preußischer  Kulturbesitz, Berlín
Pablo Picasso Naturaleza muerta delante de una ventana, Saint-Raphaël, 1919 (Still Life before a Window, SaintRaphaël) Gouache y lápiz sobre papel, 35,5 × 25 cm Museum Berggruen, Neue Nationalgalerie, Stiftung Preußischer Kulturbesitz, Berlín Foto: DR

Mas que ligação artística é esta que existe entre Picasso e Klee? Afinal, os dois artistas tinham personalidades muito diferentes: o primeiro, mais terra-a-terra, exuberante, sulista e sensorial; o segundo, mais introspectivo, nórdico, espiritual e intelectual. Ainda assim, havia um interesse mútuo no trabalho um do outro, e os seus processos criativos e obras revelam inúmeras semelhanças. Partilhavam um espírito de experimentação, uma grande facilidade no desenho, interesse pelos mesmos géneros e temas, uma inclinação para a sátira e o sarcasmo como meios de transgressão, e o uso da distorção das formas e do corpo humano.

Paul Klee Ciudad de ensueño, 1921 (Dream City) Acuarela sobre papel sobre cartón,  47,5 × 31 cm Museum Berggruen, Neue  Nationalgalerie, Stiftung Preußischer  Kulturbesitz, Berlín
Paul Klee Ciudad de ensueño, 1921 (Dream City) Acuarela sobre papel sobre cartón, 47,5 × 31 cm Museum Berggruen, Neue Nationalgalerie, Stiftung Preußischer Kulturbesitz, Berlín Foto: DR

Através de uma linguagem visual radical, ambos contribuíram para transformar a forma como vemos e abordamos o mundo, deixando uma marca profunda no desenvolvimento da arte moderna e contemporânea. Estas afinidades estão reflectidas na exposição que acaba de abrir portas, através de quatro secções dedicadas aos temas e géneros que partilhavam: Retratos e Máscaras, Lugares, Objectos, Arlequins e Nus. Cada secção inclui também obras da coleção do Museu Thyssen, algumas das quais pertenceram a Berggruen, sublinhando assim os laços que uniam os dois artistas e os dois colecionadores – Hans Heinrich Thyssen-Bornemisza e Heinz Berggruen, dois europeus contemporâneos com uma paixão mútua pela arte e que deixaram dois acervos invejáveis.

Relacionadas

“Human Soul”: a nova exposição residente no Sofitel Lisbon Liberdade

O hotel na Avenida da Liberdade acolhe, entre 5 de novembro e 5 de dezembro, uma mostra do projeto interdisciplinar dos artistas franceses Michel Cam e Anne-Laure Maison - “Human Soul”, que explora a ligação entre “a alma humana, o outro, o planeta, a arte e a consciência ambiental”, numa ode à humanidade.

Brigitte Niedermair revela os bastidores do olhar Dior em novo livro

Após mais de uma década a interpretar o universo visual da Maison Dior, a fotógrafa italiana abre agora o seu arquivo criativo. No livro "Niedermair, Dior. Drawing/Photography", a artista expõe esboços, estudos e imagens inéditas que revelam o processo íntimo por trás das suas icónicas campanhas.

Mais Lidas
Artes As obras mais emblemáticas do Museu de Arte Proibida

Com uma seleção de mais de 200 obras de arte censuradas, proibidas ou denunciadas em algum momento, o novo espaço, em Barcelona, promete pôr os visitantes a pensar sobre os motivos e as consequências da censura, com obras que vão de Goya a Banksy.