Sabores / Prazeres

Treestory: uma história georgiana contada à mesa

Em Lisboa, há um restaurante que traz na bagagem o melhor que a gastronomia da Geórgia tem para oferecer.

Foto: DR
13 de agosto de 2025 | Margarida Bexiga / com Maria Salgueiro

Situado no coração da cidade, a alguns passos da Praça do Marquês de Pombal, encontramos um recanto que nos faz viajar sem sair da mesa. Fomos conhecer o Treestory. 

Com mestria da chef Sofia Iosepifidu, este é um restaurante que chegou com o mote de trazer o conforto da gastronomia georgiana a Portugal. Assinala este mês o seu 7º aniversário, recebendo quem por lá passa com a hospitalidade que caracteriza a cultura da Geórgia, como explicam à Must

O restaurante inclui uma esplanada, fresca e arejada
O restaurante inclui uma esplanada, fresca e arejada Foto: DR

Somos acolhidos na esplanada, fresca e arejada, num refúgio que nos protegeu do calor de um tórrido dia de verão. Para refrescar, são-nos recomendadas limonadas típicas, com aromas únicos e de aspeto caricato. Ambas com um toque gaseificado muito subtil, bastante adocicadas, afastando-se da característica acidez da limonada comum. A bebida de feijoa apresenta uma cor amarela clara e tem gosto muito agradável. Já a limonada de estragão chama à atenção pela cor, que lembra o Fuego Valyrio, a bebida mística d’ A Guerra dos Tronos, essa que simulava o fogo dos dragões e que continha a capacidade de derrubar civilizações inteiras. A verdade é que esta limonada não tem esse tipo de habilidades, mas foi uma opção certeira para acompanhar o repasto. Também na onda das bebidas com gás, apresentam-nos a borjomi, uma água salgada e típica, semelhante à água das pedras e ideal para ser servida fresca. 

As limonadas contêm um toque gaseificado muito subtil e bastante adocicadas, afastando-se da característica acidez da limonada comum
As limonadas contêm um toque gaseificado muito subtil e bastante adocicadas, afastando-se da característica acidez da limonada comum Foto: DR

Explicam-nos que, na Geórgia, se tem por costume servir tudo ao mesmo tempo. O resultado típico é uma extensão de pratos a encher a mesa. Albergados na hospitalidade característica, provamos aquela que pode ser considerada a estrela do restaurante: o adjaruli khachapuri, um pão recheado com queijo derretido, ovo a cavalo e manteiga. O formato lembra um barco com um sol ao centro, devido ao formato do pão com uma gema de ovo por cima. Tem origem em Adjara, região banhada pelo Mar Negro. 

A estrela do Treestory: o adjaruli khachapuri
A estrela do Treestory: o adjaruli khachapuri Foto: DR

Este prato come-se à mão, molhando o pão no recheio, fazendo as delícias de quem por lá passa. É desenhado para partilhar, evocando união à mesa. Provámos a versão especial, com trufa, lançado a propósito do khachapuri festival, que se realizou em julho. Totalmente dedicado a essa iguaria, foram apresentadas outras variantes nesse evento. Confessam-nos ainda que esta versão com trufa se tornou num favorito de quem os visita, e que passará a constar no menu fixo do restaurante.  

O khachapuri também é servido na versão de megruli, em formato redondo, que se assemelha à forma de uma pizza.  

Segue-se então o sortido de entradas da chef Sofia, composto por pkhali, uma pasta verde de nozes e alho, e por badrijani, uma pasta de nozes envolvida por beringela. Explicam-nos que a presença da beterraba tem um contexto cultural, não é ao acaso. Este vegetal é bastante típico devido ao clima do país, marcado pelo frio, condicionando a plantação de frutas e vegetais. 

Pkhali, uma das entradas
Pkhali, uma das entradas Foto: DR

Estas entradas vinham ainda acompanhadas por uma quantidade generosa de beringela, cebola roxa, alface e um pão de milho com especiarias, com um travo intenso a pimenta preta, que foge um pouco à tradição, mas resultou como um toque moderno da chef. 

Badrijani, uma pasta de nozes envolvida por beringela
Badrijani, uma pasta de nozes envolvida por beringela Foto: DR

Compõe a mesa o iakhne (megruli kharcho) e o vitelão premium (mtsvadi). Começando pelo vitelão grelhado, marinado durante 24 horas para garantir a maciez da carne, é acompanhado por molho satsebeli, pão de wrap e uma salada de legumes da época, regado com alguns bagos de romã.  

Já o iakhne é um ensopado de novilho com tomate, nozes e mistura de especiarias georgianas, servido com gomi, uma espécie de creme de milho cozido com queijo. A carne muito tenra e resultou numa combinação ideal com o gomi cremoso.

O iakhne é um ensopado de novilho com tomate, nozes e mistura de especiarias georgianas, servido com gomi, uma espécie de creme de milho cozido com queijo
O iakhne é um ensopado de novilho com tomate, nozes e mistura de especiarias georgianas, servido com gomi, uma espécie de creme de milho cozido com queijo Foto: DR

A carta das bebidas apresenta uma variedade que passa dos vinhos portugueses até aos georgianos. O Seroba Mukuzani, fortemente recomendado, é um tinto seco com origem de Mukuzani, produzido a partir de uva Saperavi. Foi-nos dada uma pequena introdução a este vinho, que se distingue do tinto português. Sugeriram-nos que esperássemos aproximadamente três minutos para dar espaço à bebida para "abrir". Num ato de pura curiosidade, provámos assim que servido e logo após o tempo recomendado, de maneira a notar a diferença. Bem harmonizado junto ao vitelão grelhado, este tinto de tom rubi intenso tem um aroma a frutas vermelhas, que traz alguma acidez. Diz a história que a Geórgia foi a primeira produtora de vinho do mundo, carregando o peso e responsabilidade de pioneira na vinificação.  

Após uma refeição rica em comida saborosa e distinta, ainda há espaço para enveredar pela doçaria tradicional. Provámos o napoleon e o medovik. O napoleon é um bolo de natas, semelhante ao nosso mil-folhas, com um creme de manteiga, natas, ovos e baunilha. 

O napoleon é um bolo de natas, semelhante ao nosso mil-folhas, com um creme de manteiga, natas, ovos e baunilha
O napoleon é um bolo de natas, semelhante ao nosso mil-folhas, com um creme de manteiga, natas, ovos e baunilha Foto: DR

Já o medovik, o delicioso bolo com biscoito de mel, leite condensando e natas tornou-se num favorito. Atrevemo-nos a dizer que este foi um dos melhores bolos que alguma vez provámos. Doce na medida certa, encerrou o jantar com chave de ouro. 

O medovik é um bolo com biscoito de mel, leite condensando e natas
O medovik é um bolo com biscoito de mel, leite condensando e natas Foto: DR

Aberto diariamente, o Treestory serve almoços das 13h às 17h e jantares das 18h30 (segundas, terças e quartas a partir das 19h) até às 23h. Fica na Rua Luciano Cordeiro 46A, 1150-2, em Lisboa. Também faz entregas ao domicílio e tem um serviço de catering.

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