Reinterpretar um clássico português, com Pedro Cabrita Reis
Uma cadeira que carrega tradição, iconografia e memória coletiva transforma-se nas mãos de um dos maiores artistas plásticos da sua geração.
A QuartoSala e a BICAchair lançaram o repto a Pedro Cabrita Reis e o resultado irradia a cor do sol, a que escolheu para as suas intervenções, numa reinterpretação que, sem perder a essência, ganhou uma pequena dissonância. A intervenção histórica foi apresentada na Lisbon Design Week 2025 e materializa-se em 25 unidades de edição limitada, numeradas e assinadas por Pedro Cabrita Reis. E a icónica cadeira portuguesa num objeto de arte colecionável. O valor? €7000.
Que questões principais surgem na hora de reinterpretar um clássico?
A grande maravilha dos clássicos é que nunca se esgotam. E, como não se esgotam, é sempre possível voltar a eles, estudá-los, transformá-los, sem que percam a identidade e, ao mesmo tempo, acrescentando aquilo que os leva mais à frente. Quando me propuseram este desafio, senti que tinha de o fazer, porque é parte da cultura portuguesa, é parte da história do design português, é parte de uma iconografia que é nossa e, portanto, os artistas portugueses têm essa espécie de vocação, responsabilidade, se o quiser dizer, para pegar nesses momentos que constroem a história e transformá-la.
Como descreve esta sua reinterpretação?
A cadeira é o que é, foi sempre o que é e será sempre o que é, independentemente daquilo que os artistas ou outros nos possam trazer. No meu caso particular, achei que era interessante e estimulante olhar para este objeto que é tão perfeito em design e introduzir-lhe uma espécie de dissonância. Uma dissonância formal em termos de textura, material e de corpo. Como objeto de design, é icónica e está completa. O que se nos é oferecido fazer é olhar e descobrir qual será a mínima intervenção que se pode efetuar e ainda assim transformar. Aquela textura que introduzi na cadeira é de uma simplicidade que gosto de manter, porque quando se muda uma coisa, não se imagina que é preciso mudar tudo ou fazer uma coisa radical, uma transformação absoluta. Não, é uma pequena intervenção que, na sua singeleza, transforma tudo. Há um provérbio chinês muito bonito que diz que entre o bem e o mal, a diferença não é maior do que a espessura da asa de uma borboleta - e é essa espessura da asa da borboleta que aos artistas compete fazer, no sentido de transformar uma coisa que sempre foi o que é, deixar que essa coisa, neste caso a cadeira, continue a ser o que é, mas com o acrescento de um quase-nada que faz toda a diferença.
Mas o que representa aquela textura?
Há esta ideia de que a arte tem de representar coisas. Essa ideia não é muito produtiva. O que a arte tem de fazer, e ainda quando é aplicada a um objeto do quotidiano, como uma cadeira, não é construir um sentido de ordem nem filosófica, nem histórica, nada disso, ela tem de introduzir apenas aquilo que seria um sinal de transformação. Se você me pergunta o que é que significa o que fiz, eu digo que aquilo que eu fiz significa a mudança daquilo que era e é aí que está a diferença.
Então não há nenhuma intenção ou funcionalidade?
Não, não há funcionalidade, a funcionalidade é meramente de experiência física e visual de um objeto que era de uma forma e que agora, com a intervenção do artista, é de outra forma, não perdeu a sua função original, é a mesma cadeira de sempre, na qual as pessoas se sentam confortavelmente, é um cone do design português clássico. Tem ali um momento em que, de repente: "Uau, o que é isto?" E é esse "o que é isto?", essa pergunta, que transforma o olhar em relação a esse objeto. Não imagino que se possa descobrir um sentido, não. O que é preciso verificar é que o artista, com uma intervenção muito simples, produziu uma diferença. Os artistas pegam nas coisas que toda a gente conhece e mudam-nas de uma forma singela, particular, mas específica. Esta cadeira não tem um programa político, nem cultural, nem filosófico, nem poético, nada disso, é um objeto simples, que toda a gente conhece e que agora é apresentado de uma forma diferente, com a intervenção do Pedro Cabrita Reis.
Porquê o cor de laranja?
É a minha cor, institucional. Porque é a cor da luz do sol. O sol não é amarelo, o sol é laranja. E eu decidi adotar essa cor para as minhas Manifestações.
Como foi o processo criativo? Sabia o que queria fazer, ou passou por muitas fases até chegar aqui?
Quando fui convidado para participar neste projeto, obviamente houve um tempo que mediou e que se foi prolongando, ao longo do qual fui percebendo e transformando as minhas próprias ideias, no sentido de as levar mais longe, até que cheguei à conclusão de que a forma perfeita de intervir era fazer algo que tivesse esta espécie desta vibração de textura, de forma, de massa física que desse à cadeira este lado estranho, se o quiser. A estranheza é um tesouro de riqueza de ideias e de pensamentos. Portanto, aos artistas compete trazer essa estranheza. A minha forma de ter num objeto tão simples, como esta cadeira, uma quarta parte de estranheza que a tornasse diferente e que dissesse às pessoas que as coisas são sempre aquilo que são, mas podem ser diferentes, ao mesmo tempo, foi fazer aquilo.
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