Prazeres / Artes

Pôr do Sol ou como "uma estupidez" se transforma num dos maiores fenómenos de popularidade

Começou como uma série de televisão para satirizar as novelas, tornou-se um fenómeno viral que entretanto passou da RTP para a Netflix e chega agora, depois de duas temporadas, ao grande ecrã dos cinemas num spinoff em forma de prequela.

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02 de agosto de 2023 | Miguel Judas

O Mistério do Colar de São Cajó estreia já no dia 3, mas antes disso fomos falar com os três criadores, o realizador Manuel Pureza, o guionista Henrique Dias e o ator Rui Melo, para saber os segredos de tamanho sucesso. A série de culto Pôr do Sol foi transformada em filme e traz algumas novidades de peso no elenco: Diogo Infante, José Raposo, Patrícia Tavares ou Cristina Oliveira são alguns dos novos atores que vão juntar-se aos Bourbon de Linhaça e restante séquito. Depois de duas temporadas na RTP (e também na Netflix) a seguir as (des)venturas da singular família, a história foca-se no misterioso colar de São Cajó, a valiosa jóia que pertence aos Bourbon de Linhaça "há mais de 3500 anos", dando azo a muitas disputas, intrigas, maldições e muitos segredos revelados, incluindo "uma lendária receita de bacalhau". 

Diogo Infante e Patrícia Tavares são alguns dos novos rostos do elenco de 'Pôr do Sol'.
Diogo Infante e Patrícia Tavares são alguns dos novos rostos do elenco de 'Pôr do Sol'. Foto: Coyote Vadio/Pedro Sadio

No entanto, e como o realizador Manuel Pureza revelou à Must, "o filme não pretende ser um novo episódio passado para a tela. É um verdadeiro filme com tudo o que isso significa, da música à fotografia, passando pelo refinamento das personagens".

Depois de duas temporadas de enorme – "e inesperado" – sucesso, o filme nasceu da "vontade de manter o desafio", após terem decidido que não iria haver uma terceira temporada, apesar da enorme pressão para tal. "Já tínhamos decidido não o fazer, para acabar em grande, quando a popularidade estivesse em alta. Optámos por algo diferente e fazer um filme pareceu-nos o formato mais espetacular para terminar. Além disso todos gostamos muito de cinema e esta transposição para o grande ecrã, não só era natural, como representava um enorme desafio. Sobretudo porque estes formatos específicos de comédia podem chegar a um ponto de se tornarem repetitivos e era precisamente isso que queríamos evitar", sustenta o realizador, numa conversa também com a presença do guionista Henrique Dias e do ator Rui Melo, que com Manuel Pureza compõem o trio de criadores da série. "Foi uma loucura, ou então o melhor mesmo é assumir a coisa e dizer já estupidez", atira Manuel com humor, prontamente interrompido por Henrique: "Sim, também prefiro chamar-lhe estupidez, gosto de ligar essa palavra ao Pôr do Sol". 

"Depois de duas temporadas de enorme – 'e inesperado' – sucesso, o filme nasceu da 'vontade de manter o desafio." Foto: Coyote Vadio/Pedro Sadio

A ideia inicial passava por criar uma série que satirizasse as novelas televisivas e todos os seus clichês e o primeiro desafio, recordam, foi exatamente passar essa mensagem para o elenco, composto por atores e atrizes todos eles habituados a fazer novelas. "Passar essa mensagem aos atores, que estão habituados a fazer isto à séria, foi o mais interessante, até porque todos eles reconheceram, quando viram o texto, esses clichês das novelas, surgidos da minha experiência como espectador e da do Rui e do Manuel enquanto participantes ativos nessas mesmas novelas. Ao início todos ficaram com um pouco de receio, sobre como iria resultar, mas à medida que fomos avançando começaram a ficar bastante entusiasmados", recorda Henrique.

O primeiro passo partiu de Rui Melo, que então tinha acabado de filmar a série Até que a Vida nos Separe, realizada por Manuel Pureza, com quem já antes havia trabalhado em Desliga a Televisão, outra série da RTP. "O Manuel ligou a perguntar-me se tinha alguma ideia, porque já estava com vontade de trabalhar. Disse-lhe para ir antes de férias, que precisava de descansar, porque não parava há três anos". Mas perante a insistência do amigo, lá respondeu que sim, que tinha uma ideia, não dele, mas do Henrique Dias, sobre a qual já ambos haviam "jantado muitas vezes" e que era fazer uma sátira às novelas. "Ou seja, fazer uma novela a gozar, porque todos nós, nalgum período das nossas vidas de atores já pensámos o quão ridículo aquilo por vezes é, que bastava apenas exagerar um bocadinho para se tornar numa comédia". A ideia tomou forma em poucos dias e quando deram por eles já estavam a definir aquilo que viria a ser o teaser da primeira série do Pôr-do-Sol. "Todos tivemos dúvidas se iria resultar ou não, mas penso que não haverá nada mais desafiante para um ator do que conseguir gozar consigo próprio e brincar com os códigos do dia a dia da sua profissão", reconhece Henrique Dias.

"A ideia inicial passava por criar uma série que satirizasse as novelas televisivas e todos os seus clichês." Foto: Coyote Vadio/Pedro Sadio

Já Manuel lembra que "passar para o plateau a escrita do Henrique, sempre muito fresca, sublimou logo tudo para outro nível, como os atores perceberam de imediato. Já não era só gozar com as novelas, mas também fazer uma reflexão, muito mais ampla, sobre os mais diversos temas, até extra-televisão. Devo dizer que nunca senti um elenco tão nervoso por acertar, mas acabaram todos por fazer a coisa de forma imaculada. E é muito fácil errar quando a comédia é feita a sério, porque não basta dizer umas piadas", afirma Manuel Pureza, sublinhando que foi "esse nervo de acertar", por parte de toda a equipa, a fazer a diferença desde o início. "Da escrita, à realização e à interpretação, levámos isto tão a sério que a reação do público, apesar de surpreendente, foi a melhor recompensa para o imenso trabalho que isto deu", confessa. 

Começaram a perceber a popularidade da série logo a meio da primeira temporada, com os muitos memes que entretanto começaram a surgir. Mas nunca esperaram o que viria a acontecer depois, com muitas das deixas da série a entrarem no léxico popular ("odeio pobrezinhos", "eu só quero ser feliz como o Dalai Lama ou o João Baião", "santas tardes classe operária" ou a famosa interjeição "felt", imortalizada pelo personagem Tó Mané). "Foi a primeira vez, enquanto realizador, que fui parado por estranhos na rua. A primeira vez, foi numa ocasião em que ia com a minha mulher e fui abordado por um grupo de pessoas. Inicialmente, pensei serem meus conhecidos, mas afinal não, eram fãs do Pôr do Sol, tinham visto uma entrevista minha e vieram dar-me os parabéns. Na altura nem percebi bem o que aconteceu, porque não me fazia sentido nenhum (risos)", conta Manuel Pureza. Daí até os Bourbon de Linhaça entrarem no próprio discurso político ou começarem a aparecer anúncios com referências mais ou menos veladas a Pôr do Sol, aconteceu um pouco de tudo, com a série a tornar-se num manancial de "é mais bolos", apenas, talvez, comparável a Herman José e a Gato Fedorento, ao nível das deixas que ficam para a posteridade. "O mais incrível é que eu era o fã que usava essas deixas do Herman e agora há pessoas que passam por mim na rua e gritam felt. Aí é que percebi o nível de popularidade da série, quando há essa identificação na rua, não da minha pessoa, mas da história, é sinal que fizemos um bom trabalho", assinala o realizador. 

"A reação do público, apesar de surpreendente, foi a melhor recompensa para o imenso trabalho que isto deu." Foto: Coyote Vadio/Pedro Sadio

Mas agora chegou o tempo de dizer adeus aos Bourbon de Linhaça, com um filme que percorre toda a história da família até aos dias de hoje. "Como o Henrique teve a brilhante ideia de dizer que o colar estava na família há 3500 anos, fizemos as contas para ver em que período histórico isso batia e tivemos de ir até aos romanos para contar a história toda", revela Rui, confirmando mais uma vez ser mesmo este o ponto final da saga. Ou então não, pois Manuel Pureza deixa ainda uma porta entreaberta, num futuro mais ou menos longínquo: "Quando formos velhinhos e estivermos um bocado à rasca de dinheiro, talvez possamos fazer uma nova temporada, em honra do falecido Rui, que entretanto morreu miserável na Casa do Artista e a viúva precisa de dinheiro". "Até podemos pô-lo nuns hologramas e fazer um genérico a preto e branco, com ele a virar a cara", atira também Henrique Dias, entre gargalhadas.

Mas até lá, ainda há muitas mais coisas para fazerem juntos, como acabam por desvendar: "já temos alguns projetos aprovados, outros ainda não, mas sabemos que queremos e vamos voltar a trabalhar os três", garante Rui Melo, tal como Manuel Pureza confirma em seguida: "é muito bom trabalhar com estes senhores, é mesmo muito bom. Além de ter ganho dois amigos para a vida, isto foi algo que nos mudou a vida. Somos muito hashtag gratidão em relação a este projeto, pelo que esta parceria é para continuar, sim".

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