Artes / Prazeres

Exposição. Estranhas criaturas que falam através do silêncio

Uma mostra de pintura da artista plástica Inês Galvão que convida à introspeção, desbravando um mundo onírico e multicolorido, cheio de familiaridade e melancolia. "Silêncio e Forma" está patente no Centro Cultural de Cascais, até 19 de outubro.

Foto: DR
01 de agosto de 2025 | Madalena Haderer

Entrar no mundo da artista plástica Inês Galvão é um pouco como entrar no mundo de Alice no País das Maravilhas. Ou num sonho. O que acaba por ser quase a mesma coisa. Um sonho estranho, mas multicolorido e quase pueril. Um exercício de escapismo que faz lembrar os desenhos felizes da infância. Um universo para conhecer na exposição Silêncio e Forma, que está patente no Centro Cultural de Cascais até ao dia 19 de outubro.

Inês Galvão. "Luar", 2024. Acrílico sobre papel, 105x75 cm
Inês Galvão. "Luar", 2024. Acrílico sobre papel, 105x75 cm Foto: DR

Ao todo, são 27 as obras apresentadas, realizadas em acrílico sobre papel, tela e colagem, onde formas orgânicas e figuras híbridas emergem do espaço entre o real e o imaginado. Uma exposição para ver com vagar porque em cada quadro há um mundo novo para descobrir, cheio de simbolismos e estranhamentos, mas pleno de jovialidade e leveza. Um pouco como um cantor que canta uma música com letra melancólica, mas música alegre. Um contraste que, no caso de Inês Galvão, em vez de dissonância perturbadora, transmite conforto e familiaridade. Ou, como a própria artista explica: "O tempo abranda e as criaturas mostram-se devagar".

Inês Galvão. Sem título, 2025. Acrílico sobre papel, 82x63 cm
Inês Galvão. Sem título, 2025. Acrílico sobre papel, 82x63 cm Foto: DR

Por meio de figuras e formas oníricas que escapam a classificações rígidas, ora evocando o corpo humano, ora sugerindo plantas ou animais, Inês Galvão convida o público a entrar num espaço de pausa e introspeção. Num processo criativo que privilegia a escuta, o gesto e o instinto, a artista propõe uma experiência sensorial e contemplativa. Na prática artística de Inês Galvão, as obras surgem sem planeamento ou título, como se desenhadas pelo próprio silêncio. "Há momentos em que tudo se cala. É aí, no intervalo entre o ruído e o meu mundo, que surgem estas formas", escreve a artista sobre o seu método de trabalho. São formas silenciosas, reveladas com lentidão, que convidam o olhar do público a acompanhá-las com a mesma disponibilidade.

Inês Galvão. "A espanhola", 2024. Acrílico sobre tela com colagem, 70x70 cm
Inês Galvão. "A espanhola", 2024. Acrílico sobre tela com colagem, 70x70 cm Foto: DR

InêsGalvão, nascida em Lisboa, em 1964, é licenciada em Design pelo IADE e desenvolve, desde finais dos anos 80, uma carreira ligada ao ensino artístico e ao design gráfico. Ao mesmo tempo, tem-se dedicado à prática artística nas áreas do desenho, pintura, fotografia e história da arte, com formação na Sociedade Nacional de Belas Artes, Nextart e Oficina do Desenho (Cascais), entre outras. A exposição Silêncio e Forma marca a estreia da artista em mostra individual no Centro Cultural de Cascais.

Inês Galvão. "Os Yes Men", 2025. Acrílico sobre tela, 70x70 cm
Inês Galvão. "Os Yes Men", 2025. Acrílico sobre tela, 70x70 cm Foto: DR

Onde? Centro Cultural de Cascais, Avenida Rei Humberto II de Itália, Cascais Horário? Terça-feira a domingo, das 10h às 18h Preço? 5 euros, com diversos descontos.

Saiba mais Prazeres , Artes , Exposição , Pintura , Inês Galvão , "Silêncio e Forma" , Centro Cultural de Cascais
Relacionadas

Na Alemanha, um encontro de sonhos para visitar bem acordado

Este verão, um dos maiores museus da Alemanha, o Kunsthalle de Hamburgo, apresenta uma exposição temporária, 'Rendezvous of Dreams', que reúne as melhores obras de arte do surrealismo e do romantismo alemão. Algumas, nunca antes vistas.

"All-American Ads of the 30s": sonho e otimismo em tempos difíceis

Entre a euforia do fim da Lei Seca e o peso da Grande Depressão, a publicidade americana dos anos 30 encontrou na criatividade a sua arma mais poderosa. Este livro da Taschen revela um universo de anúncios vibrantes que vendiam não só produtos, mas também esperança, glamour e o sonho americano.

Exposição. Andy Warhol como nunca ninguém o viu

Jean Wainwright, uma historiadora britânica que ouviu a duas mil cassetes que o artista gravou em jeito do diário, é a curadora da exposição "Andy Warhol: My True Story". Ninguém mais indicado para dar a conhecer o lado mais pessoal de Warhol. Para visitar, em Inglaterra, até setembro.

Mais Lidas
Artes As obras mais emblemáticas do Museu de Arte Proibida

Com uma seleção de mais de 200 obras de arte censuradas, proibidas ou denunciadas em algum momento, o novo espaço, em Barcelona, promete pôr os visitantes a pensar sobre os motivos e as consequências da censura, com obras que vão de Goya a Banksy.