Negócios do Luxo

Vinhos, arte e arquitetura. Colecionismo, investimento ou extravagância?

Joana Pais, responsável pelo negócio prestige da Sogrape, acredita que a imposição de tarifas ao vinho pode ser uma oportunidade para Portugal “entrar em força nos Estados Unidos”.

05 de maio de 2025 | Madalena Haderer
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Para explorar a valorização de ativos associados ao luxo e as motivações por detrás dos investimentos nestas áreas, o debate "Do colecionismo à extravagância: os investimentos em arte, relojoaria, imobiliário e vinho", organizado pelo Negócios em parceria com a Must, e que conta com Cascais como município anfitrião e o Sheraton Cascais Resort como hospitality partner, contou com a moderação da diretora da Máxima, Rosário Mello e Castro, e resultou numa conversa animada entre Joana Pais, diretora responsável pelo negócio prestige da Sogrape, Maura Marvão, especialista da leiloeira Philips, e o arquiteto Tiago Rebelo de Andrade.

Questionada sobre como é que uma leiloeira separa o colecionismo do investimento, Maura Marvão, especialista internacional e consultora no segmento da arte contemporânea e do século XX para os mercados português e espanhol, aproveita, antes de mais, para contar um pouco da história da Philips. "Uma leiloeira fundada em Inglaterra, com 240 anos de história, que leiloou parte do património da Maria Antonieta e de Napoleão Bonaparte, que fez o único leilão que alguma vez teve lugar no Palácio de Buckingham e que organizou o leilão mais longo da história, com a duração de 37 dias." Posto isto, Maura diz que é difícil separar o investimento do colecionismo. "Por isso, o nosso trabalho é mesmo ajudar os clientes a fazer as melhores compras – que os satisfaçam e que sejam as melhores escolhas para o futuro", explica.

Sobre se há, ou não, um paralelismo com o mundo dos vinhos, Joana Pais, diretora responsável pelo negócio prestige da Sogrape, diz que, antes de mais, é preciso fazer uma diferenciação entre o luxo e o fine wine. "Luxo está no prazer de possuir, enquanto no fine wine, o prazer está no consumo e na partilha." A responsável explica que, antes da pandemia, havia muita gente que colecionava vinhos, tirando prazer de possuir uma garrafeira rara e diversificada. Mas depois as pessoas começaram a tirar mais prazer de beber um bom vinho e de partilhar esse momento. "Guardar para uma ocasião especial? Qual? Quando? De repente deixou de fazer sentido." Portanto, conclui, nesse sentido, "o vinho está mais ligado à experiência de luxo".

Maura Marvão tem também um aspeto positivo a registar sobre a pandemia. "A Philips sempre quis ser a leiloeira mais vanguardista e, mesmo sem saber, preparou-se para a pandemia", conta a especialista, explicando que a Philips tinha desenvolvido toda a tecnologia – vídeos, fotografias de alta resolução, etc. – necessária para tomar decisões à distância. "Construímos verdadeiros estúdios de televisão para criar experiências o mais realistas possíveis", diz. O investimento deu frutos em duas vertentes. Por um lado, "os anos da pandemia foram os melhores da leiloeira – as pessoas que podiam comprar obras de arte estavam demasiado ocupadas para pensar nisso, mas, subitamente, deixaram de estar". Por outro, o hábito das vendas online manteve-se com "300 e muitos milhões de dólares a serem transacionados no setor, no ano passado".

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Tiago Rebelo de Andrade, do atelier Rebelo de Andrade, por seu lado, está ali para falar sobre um luxo que é, na verdade, uma necessidade: ter uma casa. Na sua opinião, há dois grandes obstáculos para que se resolva o problema da habitação. Um é a burocracia. E dá um exemplo: "Temos um cliente suíço que comprou um terreno há quatro anos e só agora é que o projeto está aprovado. Em comparação, uns amigos desse cliente compraram um terreno na Suíça, na mesma altura, e já vivem na casa nova há dois anos." Outro obstáculo é a inércia no combate à desertificação. E dá outro exemplo: "Estamos a fazer um projeto em Londres e os jovens estão todos a ir para o campo. Salamanca, aqui ao lado, está cheia de jovens, mas as aldeias portuguesas, a poucos quilómetros, não têm quase ninguém. Daqui a 30 anos, quem lá vive morre, e as aldeias desaparecem." A solução, garante, passa por apostar em novas tecnologias e na ferrovia, para que também aqui os jovens se possam mudar para o interior.

De volta para Joana Pais, a pergunta é se o setor está preocupado com as tarifas que Donald Trump poderá vir a impor ao vinho. A especialista, porém, acredita que poderá ser uma boa oportunidade para Portugal. "Os vinhos portugueses são bons e baratos. Se outras origens que os consumidores costumam preferir ficarem incomportáveis, Portugal poderá entrar em força nos EUA." Para entrar em força, terá de haver uma adaptação às preferências das gerações mais jovens. "As pessoas querem menos álcool, querem vinhos mais leves, querem menos calorias, e não temos de responder a isso. E estamos a fazê-lo."

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