Estilo / Moda

David Gandy: “Aconselho sempre os homens a vestirem-se para si próprios e a não seguirem tendências.”

A Hackett Nº14 Savile Row apresenta uma coleção cápsula criada em colaboração com o modelo britânico David Gandy, um dos maiores ícones de elegância contemporânea. Em entrevista exclusiva à Must, Gandy falou sobre esta parceria, e sobre estilo, bem-estar, paternidade e masculinidade.

Fotografia da coleção Hackett Nº14 Savile Row AW25, onde David Gandy foi o protagonista da campanha
Fotografia da coleção Hackett Nº14 Savile Row AW25, onde David Gandy foi o protagonista da campanha Foto: DR
12 de novembro de 2025 | Inês Costa / Com Safiya Ayoob

Considerado um dos melhores e mais bem pagos modelos masculinos de todos os tempos, com mais de duas décadas de carreira e um estatuto incontestável na indústria da moda, David Gandy é uma referência de elegância e um verdadeiro embaixador do . Já a fundada em Londres, reconhecida pela sua alfaiataria impecável e pela forma como conjuga tradição e modernidade no guarda-roupa masculino. Nada mais natural, portanto, que o modelo tenha voltado a unir-se à marca, com a qual já mantinha uma relação de longa data, para uma colaboração exclusiva e especialmente significativa.

Gandy trabalhou ao lado de Gianni Colarossi, Chief Product Officer da Hackett, seguindo de perto o desenvolvimento de uma coleção para a linha Hackett Nº14 Savile Row. O resultado é um guarda-roupa composto por 14 peças, entre fatos, blazers, gilets acolchoados, casacos de malha e peças pensadas para combinar em camadas. A coleção cápsula revisita a herança e o savoir-faire britânico através de uma lente moderna, combinando alfaiataria, intemporalidade, conforto e uma proposta centrada na individualidade. Produzidas com misturas de lã e caxemira de elevada qualidade, as peças destacam-se pela durabilidade e pela sofisticação e elegância que define o estilo pessoal de David Gandy.

Fotografia da coleção Hackett Nº14 Savile Row AW25, onde David Gandy foi o protagonista da campanha
Fotografia da coleção Hackett Nº14 Savile Row AW25, onde David Gandy foi o protagonista da campanha Foto: DR

Trabalhou com muitas marcas de luxo e com um grande legado ao longo dos anos. O que torna esta colaboração com a Hackett especial para si?

Acredito sempre na autenticidade quando trabalho com marcas. Normalmente, só quero colaborar com marcas que respeito e admiro. Conheci o e sempre apoiei os seus projetos e usei a sua alfaiataria. Por isso, foi uma parceria muito natural e autêntica trabalhar agora com uma marca que acredito oferecer um dos melhores exemplos do mercado de luxo elevado para homem.

A coleção cápsula é composta por 14 peças cuidadosamente selecionadas. O que guiou a escolha destas peças em particular?

Quando se desenham futuras coleções, há sempre um certo grau de contenção por motivos comerciais, pois é necessário agradar a um público masculino mais amplo. As 14 peças foram criadas para ocupar um espaço único entre a alfaiataria do pronto-a-vestir e as peças feitas por medida. São todas confecionadas com os melhores tecidos e materiais, com elementos de design únicos que incentivam a criação de um estilo individual. Os clientes podem ainda adaptá-las ao seu gosto pessoal, seja adicionando comprimento ao sobretudo ou um colarinho em pelo ao casaco de camurça. A ideia é encorajar o cliente a criar peças únicas, que nunca sairão de moda e durarão décadas. A intemporalidade é algo inerente ao meu estilo pessoal e em que sempre acreditei.

David Gandy colabora com Hackett numa coleção cápsula
David Gandy colabora com Hackett numa coleção cápsula Foto: DR

Fala, frequentemente, sobre a importância da longevidade e da qualidade em vez de quantidade – desde o apoio à mestria britânica até iniciativas como a Blue Steel Appeal. De que forma é que esta coleção cápsula reflete as suas crenças sobre um vestir consciente, intemporal e no investimento em peças duradouras?

As pessoas acham que tenho um guarda-roupa muito maior do que o que tenho na realidade. Mas sempre investi em peças intemporais e nunca segui modas. Sei o que me favorece e quais as peças que me dão confiança. É provável que use num evento esta semana um fato que já usei há dez anos. Cada uma das 14 peças baseia-se num design intemporal, são peças de investimento, que podem ser usadas estação após estação.

Há muito tempo que é considerado um símbolo da elegância britânica. Como incorporou o seu estilo e valores pessoais nesta coleção?

Há elementos como as lapelas mais largas, a cintura mais subida e o corte de perna mais largo nas calças. São detalhes que refletem o meu próprio gosto, mas também fazem parte da tradição clássica da alfaiataria britânica de Savile Row.

Que detalhes ou materiais foram inegociáveis durante o processo de design?

Foi uma colaboração, não se tratou de negociar, mas sim de escolher os melhores tecidos e materiais para cada peça, sem comprometer a qualidade.

A Hackett Nº14 Savile Row presta homenagem à perícia artesanal e à tradição, ao mesmo tempo que se dirige ao homem contemporâneo. O que significa para si o conceito de “herança moderna”?

Para mim, “herança moderna” é prestar tributo aos elementos de design intemporais da alfaiataria e aos modelos de arquivo da Hackett, trazendo-os para as coleções sazonais da Hackett Nº14 Savile Row. A Hackett tem uma herança incrível, e o trabalho artesão que marcou as peças icónicas das últimas décadas é agora integrado nas coleções atuais.

A coleção celebra tanto a individualidade e o conforto como a elegância. Acha que a moda masculina está a afastar-se dos códigos rígidos de vestuário para algo mais pessoal e expressivo?

O Reino Unido sempre foi conhecido pela sua individualidade na moda. A Savile Row e os fatos feitos por medida sempre foram sobre criar peças únicas e, por isso mesmo, apoiar a individualidade. Não creio que a forma de vestir dos homens se tenha tornado rígida. Tornou-se muito mais descontraída. Acho que, durante o confinamento da pandemia de 2020, os homens habituaram-se a vestir-se de forma mais casual e só no último ano voltaram a usar fatos e peças de alfaiataria. Eu aconselho sempre os homens a vestirem-se para si próprios, e a não seguirem tendências. A globalização e a disponibilidade das mesmas roupas por todo o mundo levaram a uma perda de individualidade. Acredito que os homens também procuram qualidade e sustentabilidade nos seus looks. Querem estilo e conforto, mas também elegância e qualidade – peças duradouras e intemporais.

David Gandy colabora com Hackett numa coleção cápsula
David Gandy colabora com Hackett numa coleção cápsula Foto: DR

Descreve-se como alguém bastante reservado. Como foi, nos primeiros tempos, estar de repente diante das câmaras e da atenção global?

Sendo honesto, foi, sinceramente, aterrador. Mas não gosto de ter medo de nada, por isso enfrentei esses medos e receios, e aprendi a fazê-lo todas as vezes. Não é uma coisa natural para mim querer estar no centro das atenções ou em frente à câmara. Por isso, de certa forma, quando estou diante de uma câmara, estou a representar um papel.

Fala muitas vezes sobre a importância do equilíbrio entre trabalho, vida pessoal e bem-estar. O que o ajuda a manter-se com os pés assentes na terra numa carreira tão exigente?

Gostava de dizer que existe um equilíbrio entre vida pessoal e profissional, no entanto, durante cerca de 20 anos, praticamente não tive vida pessoal. A minha vida era o trabalho. Não tinha férias, perdi Natais, e nunca estava no mesmo sítio mais de uma semana – e adorava, na verdade. Os meus objetivos eram o meu foco, e estava totalmente comprometido. Ter sido pai mudou tudo, e agora as minhas filhas são a minha prioridade. Tive a sorte de, ao longo desses 20 anos de dedicação, ter criado os meus negócios e a minha marca, o que me permite ter controlo total e decidir onde quero estar. Assim, embora esteja mais ocupado do que nunca, o equilíbrio é muito melhor.

No início deste ano, falou num painel no Parlamento Britânico sobre os desafios de saúde mental – especialmente entre os homens jovens. Tendo estado no centro das atenções, há mais de 20 anos, num mundo que pode ser glamoroso, mas também solitário e exigente. De que forma é que as suas próprias experiências moldam a sua compreensão da saúde mental e da vulnerabilidade masculina?

Como o suicídio masculino continua a ser a principal causa de morte entre homens com menos de 45 anos, sempre achei que era um tema importante para abordar e discutir. Ainda não há uma solução real, e muito pouco tem sido feito. Mas falo sobre as minhas próprias experiências com a saúde mental para que os homens percebam que não estão sozinhos – que outros passaram ou passam pelo mesmo, e, assim, talvez sintam vontade de se abrir. Acredito que os homens são provavelmente mais vulneráveis do que se pensa, porque, por natureza, não gostam de admitir fragilidades.

Conhecendo um pouco da sua vida e carreira, parece que esteve sempre rodeado sobretudo de mulheres – no mundo profissional, já afirmou preferir trabalhar com mulheres, e agora é pai de duas filhas. Vivemos tempos em que as conversas sobre género são muitas vezes polarizadas, especialmente online. Qual é a sua visão sobre a forma como a masculinidade é retratada ou debatida atualmente? E como é que isso influenciou a sua própria compreensão da masculinidade?

Perguntam-me muitas vezes o que é “masculinidade”. Acho sempre uma conversa um pouco estranha. Posso dizer que adoro alfaiataria, carros clássicos e corridas, treino e exercício físico. Sou muito competitivo e acredito que, como homem, devo proteger a minha família e amigos e tomar decisões difíceis quando necessário. Tudo isto soa bastante masculino. Mas também faço as compras, cozinho e trato da roupa. Mudei as fraldas das minhas filhas e levo-as todos os dias à escola. Coisas que normalmente não seriam consideradas “masculinas”. Os papéis de homens e mulheres foram redefinidos e mudaram muito nas últimas décadas. Muitos traços biológicos masculinos estão agora a ser rotulados como “tóxicos”, e é aí que reside o problema.

Fora do mundo da moda, o que o inspira? Na arte, música, cinema ou viagens? Há lugares ou experiências que alimentam a sua criatividade?

Já viajei por todo o mundo, mesmo antes da moda, viajei pela América do Sul, Alasca, África, etc. As viagens e as diferentes culturas sempre foram uma grande fonte de inspiração. Também sou um grande fã de cinema – o cinema e o velho Hollywood inspiraram-me desde sempre. Acredito que, na moda, somos contadores de histórias: criamos imagens e curtas-metragens imaginativas e inspiradoras.

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