Estilo / Moda

Moda portuguesa na semana de Paris. As marcas que já brilham lá fora

Foram 10 as marcas que o Portugal Fashion levou à capital da moda durante a semana mais concorrida de apresentação de desfiles para a nova estação. Expostas num showroom no coração do Marais, entre fashionistas, compradores e curiosos.

Semana de moda em Paris apresenta marcas portuguesas com desfiles no Marais
Semana de moda em Paris apresenta marcas portuguesas com desfiles no Marais Foto: DR
27 de outubro de 2025 | Patrícia Barnabé

Num cruzamento sossegado da rue Charlot, uma das principais que alimentam a fama do Marais como o bairro mais cool de Paris há mais de uma década, o showroom do Portugal Fashion esteve numa azáfama. Inaugurou na quinta-feira, dia 2 de outubro, e terminou a dia 4, com casa cheia, com manequins a desfilarem peças escolhidas de cada um dos chariots, com sessão fotográfica informal à porta, na rua, o que gerou uma energia e espontaneidade renovadas. E intrigou os transeuntes, sabendo nós que os parisienses tropeçam em modelos, produções fotográficas e em pequenos momentos de grande estilo como em poucas cidades do mundo. E há mais de um século que assim é. Por isso, não é fácil chamar a atenção de uma cidade, e de uma audiência, cada vez mais seduzidas pelos inúmeros estímulos da modernidade, redes sociais incluídas. 

Mas a luz que entrava em ambas as janelas, a adivinhar uma chegada suave de outono, antecipou as boas graças de um encontro com casa cheia, num ambiente de cocktail de vinhos e bolachinhas portugueses, e animação musical, que manteve as portas abertas até à noite. Os chariots dos designers de moda portugueses, dos jovens mais promissores aos nomes instalados, iam sendo visitados por todo o tipo de nacionalidades e personas da moda, e assim continuaram durante três dias. À entrada, estavam três representantes da plataforma do Bloom, e dentro desta o programa Incubator, “que apoia e promove o talento dos jovens designers portugueses", como comunica o Portugal Fashion. Mesmo em frente à porta está Maria Carlos Baptista, logo à entrada, ela alinha os cabides com o rigor e o cuidado evidentes em cada peça que desenha. Pretos e azuis escuros em cortes longos com clara inspiração na alfaiataria, algumas peças de pudor e poder como armaduras, outras abertas e livres. Em destaque, o blusão de cabedal upcycled. A designer explica à Máxima a importância de “tentar perceber o que representa a tua marca, é importante ter uma linguagem contínua”. A mesma que ela vê na carreira da fadista Carminho, que veste, “ela entende e gosta de manter um registo. É fundamental, para uma nova marca, a consistência”. Os seus drapeados vêm da dança, ela foi bailarina e nota-se, teve de parar de dançar e resolveu “associar o movimento e encontrar esse equilíbrio na moda. São mundos de contrastes até encontrar um ponto médio”, diz no seu jeito suave. Na verdade, há qualquer coisa nela de “sonho de ser alfaiate”, e a conversa é interrompida pela chegada de uma buyer que deambulava com o seu copo de vinho, jeans e pumps bem altos e que claramente gosta das peças. 

Em contraste, e mesmo ao lado, na outra janela, está Vehaana, que cria verdadeiras teias de sonho com malhas de aspecto inacabado, em algodão ou seda com apontamentos em lurex. Tops muito curtos, calças, tudo feito à mão, muito sexy, um contraste perfeito e muito apreciado pelos visitantes, tem qualquer coisa de sonho, de diáfano, tanto de misterioso e estranho, quase apocalíptico, como a beleza de filigrana da esperança, das manhãs claras e promessas. Foi uma das coleções preferidas. 

Do lado oposto, fica a festa de Arieiv for Losiento, a junção de duas criatividades alegres e exuberantes, que se aliam num patchwork de jeans e t-shirts largueironas, herdeiras do streetwear da última década, com qualquer coisa de anti fast-fashion. Como as duas marcas anteriores, é a coleção que desfilaram no Bloom. Jose Vieira, designer de moda que começou a sua marca Arieiv e entretanto juntou-se a João Pereira, designer gráfico e de interiores e à Losiento. A dupla começou em 2020 quando o José se apresentou no Bloom e convidou para uma colaboração. “e resolvemos levar isto mais a sério, com uma parte mais comercial e outra mais criativa e criar uma marca e lutar contra tudo o resto que está na indústria da moda, uma liberdade de um lado e a liberdade do outro, o travão de um lado e um travão do outro, uma dupla é aturarmos as maluqueiras uns dos outros”, diz João, a sorrir. Esta é a coleção que desfilou no Portugal Fashion, que agora está pronta a ser produzida e trabalhada, agora e no futuro. É um mergulho imersivo nas várias subculturas e na nossa identidade, o streetwear e a moda de autor, peças correntes e simples e outras super trabalhadas, pesadas até, e uma crítica à fast fashion”, diz José. Reutilizam materiais e desperdícios, ou usam dead stock ”trabalhado com qualidade, e em moda de autor (...), muitas vezes são as marcas pequenas que dão pistas à grande indústria”. 

Na sua nova vida, o Portugal Fashion continua muito focado em levar o talento nacional às principais capitais e palcos da moda internacional, sendo hoje uma plataforma super diversa que se liberta, cada vez mais, da exclusiva montra que são os desfiles, para multiplicar a sua comunicação de moda. Trinta anos depois, continua esta jornada de “internacionalização e profissionalização da moda portuguesa”, diz-nos Mónica Neto, a diretora do Portugal Fashion, numa esplanada parisiense. “Porque não tomar a ousadia e o risco? Temos uma marca que já é conhecida e com credibilidade, podemos ter o nosso próprio showroom na zona tradicional dos showrooms. É uma ideia que tínhamos já há algum tempo e o culminar de uma experiência, de tentativas-erro e presenças em feiras, é uma adaptação que nos é exigida pelos tempos. As feiras estão a cair um bocadinho. E é sobretudo continuar a ter ambição e assumir riscos, sempre com esta ideia em mente: converter estas marcas em negócios sustentáveis e ter impacto para além da comunicação e da notoriedade.” Sempre pensaram internacionalmente, desde 1999, “e a sustentabilidade é muito mais do que os tecidos e o seu impacto ambiental, puro e duro, é pensarmos como é que a sustentabilidade financeira destes projetos se efetiva. E a mudança dos quadros comunitários obrigaram-nos a fazer uma reflexão muito profissional, dura até, no que devem ser as nossas impostas e o que tem impacto nas marcas portuguesas. Os estudos dizem-nos que quem consegue ter impacto são as marcas que saem de Portugal, que é um mercado pequenino. É muito importante para as consolidar, no início, e quereremos sempre mostrar as nossas marcas ao consumidor português, é quase um trabalho de educação, mas temos de ter a consciência que este mercado global é onde podemos escalar a marca Portugal. E sabemos que este trabalho tem de ser consistente e não pode ser apoiado de forma intermitente.”  

Paris continua a ser a grande capital da moda, por muito que as outras se desenvolvam, cresçam, recebam investimento, porque é onde se fazem as grandes compras. “Do ponto de vista dos designers e das marcas, o feedback que temos é incrível, são muito agradecidos. E é muito recompensador ouvi-los dizer: 'Se não fossem vocês, eu não estaria onde estou'. E temos isso em marcas que estão a começar, como noutras que estão já a ganhar escala, mas continuam a sentir que a nossa plataforma tem um papel importante para eles”, acrescenta a diretora. Como é o caso de Marques Almeida, que apesar da comunidade e notoriedade já conquistadas, desfilam hoje apoiados pelo Portugal Fashion que “vêem como uma plataforma para fazer o scale up, e mostram que podemos fazer ainda mais.” 

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Alguns designers associaram-se a grandes marcas de desporto como a Sacai com a Nike, Junya Watanabe com a New Balance e os designers Craig Green e Wales Bonner com a Adidas. Outros lançaram os seus próprios modelos que nem por isso são menos cool.