L’Homme Plissé, de Issey Myake, foi o convidado de honra da última edição da Pitti Imagine Uomo, o grande evento de moda masculina promovido duas vezes por ano em Florença, e o mínimo que se pode dizer é que a marca esteve à altura de tal distinção. No cenário esplendoroso da villa Medicae della Petraia, a marca japonesa mostrou uma atenção particular às cores da paisagem toscana nesta época do ano, com uma pantone assumidamente inspirada em flores e frutos (desde os verdes e amarelos do limão aos tons da beringela), mas também no melhor da pintura renascentista, omnipresente na antiga capital dos Médicis.
Na coleção primavera-verão 2026 estão presentes, uma vez mais, alguns dos elementos mais icónicos e distintivos da Issey Myake: a extrema qualidade (e leveza) dos tecidos, a graciosidade quase alada das formas, trabalhada com um rigor implícito, que, no resultado final, conjuga elegância e sedução.
Mas se a Issey Myake é um nome há muito consagrado na moda internacional, esta edição da Pitti Uomo revelou outras propostas, bem inovadoras, por sinal, vindas de outros países orientais, como a Coreia do Sul ou a China. O primeiro fez-se representar com um pavillhão próprio, muito inspirado no universo k-pop, a segunda pelo China Wave, organização governamental daquele país que procura demonstrar, e com boas razões para o fazer, que há moda chinesa de luxo e que esta não se resume à fast fashion. Em foco estiveram ainda marcas como a japonesa Children of Discordance e a coreana Post Archive Faction.
Uma das "estrelas" desta Pitti Uomo foi o português Luís Figo, que esteve no certame a apresentar a sua marca de moda masculina e foi muito procurado por jornalistas e pelo público italiano, que ainda não esqueceu a sua passagem pelo Inter de Milão, onde terminou uma carreira brilhante. Em Florença, o antigo capitão da seleção nacional mostrou a sua marca de casual luxury, desenvolvida em colaboração com o empresário Gandolfo Albanese (roupa) e com a marca de óculos de sol, também italiana, Lozza.
Em foco esteve também o italiano Nicollò Pasqualetti, outro dos designers convidados, que nos explicou o conceito subjacente à coleção que apresentou: "Estou interessado em explorar uma aparente contradição entre formas estruturadas e o casual, entre o rígido e o soft, que podem coexistir numa só peça. Gosto de juntar aspetos diferentes, permitindo, assim, uma certa ambiguidade." Do mesmo modo, Pasqualetti diz-nos preferir "materiais que falem por si mesmos, que permitam inovar em termos de textura, cor ou fabrico, que agradem a um público que não se deixa definir pela roupa que usa, mas que a usa em diferentes lugares, papéis ou ambientes."
Com 740 marcas representadas, esta edição da Pitti Uomo viu crescer o número de compradores profissionais na ordem dos 4% em relação a 2024, com mais de 5 mil internacionais e quase 6 mil italianos, todos muito atentos a um mundo de propostas, que vai do traje mais formal à roupa e acessórios para desporto, sem esquecer a moda de praia. Portugal fez-se representar por cinco marcas, também elas muito diversas entre si: Vandoma (moda homem), Algori Brand (sportswear), Get the Balance (streetwear), Zardus (calçado), Ambitious (calçado) e La Paz (street e sportswear).
Considerada a maior mostra de moda masculina do mundo, a Pitti Uomo foi criada em 1952 quando Giovanni Battista Giorgini, descendente de uma família nobre de Lucca, organizou um evento dedicado a esta área na sua casa de Florença, a Villa Torrigiani, convidando jornalistas e compradores de todo o mundo. O sucesso foi total, nesse pós-2ª Guerra Mundial, em que, também graças à moda, se ia consolidando o chamado milagre económico italiano.
Florença é, desde então, uma das capitais da moda do país já que, para lá dos vários eventos com a chancela Pitti, funciona ali uma das mais importantes escolas de moda do mundo - a Polimoda. É também ali, entre museus de arte tão importantes como os Uffizzi ou monumentos como a Igreja de Santa Maria Novella, que podem ser visitados museus de empresas como a Gucci ou a Salvatore Ferragamo.