Da cruz de São Jorge ao fim inesperado de uma relação de décadas
Os equipamentos de futebol são um mundo dentro de outro que é, já de si, um mundo à parte. Nas últimas semanas, notícias e polémicas com equipamentos de seleções nacionais têm dado que falar. E até a seleção portuguesa já deu notícia.
Não brinquem com a Cruz de São Jorge! Tem sido esta a mensagem passada por proeminentes e numerosas vozes de Inglaterra, que têm vindo a público mostrar o seu desagrado pelas alterações que a Nike decidiu fazer à incontornável cruz, que é talvez o mais distinto e intocável símbolo da nação, ao ponto de ser, singela e somente sobre um fundo branco, a bandeira do país. "Quando se trata da bandeira nacional, não devemos brincar com o assunto, uma vez que é fonte de orgulho, de identidade, [símbolo de] quem nós somos, e é perfeita tal como é." As palavras são de Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico.
É certo que se trata apenas do pequeno símbolo que vem na parte de trás do colarinho das camisolas do equipamento da seleção nacional de futebol inglesa. Mas, como disse certo dia Bill Shankly, treinador escocês que se fez lenda dirigindo o Liverpool de Inglaterra, "há quem diga que o futebol é uma questão de vida ou morte - mas é mais importante do que isso". E a manifestação pública de uma das mais insignes figuras de Estado, como o primeiro-ministro Sunak, vem ajudar a corroborar a tese da Shankly.
Sem surpresa, os ingleses não parecem dispostos a dar tréguas à marca americana de equipamentos desportivos que decidiu transformar a cruz, que é vermelha, num sortido de cores, com tons púrpura e azuis a juntarem-se à cor fundamental. A Nike, por seu lado, defende-se dizendo que é uma maneira "alegre e divertida" de "apelar à união", e não mostrou qualquer intenção de alterar novamente para a fórmula original a cruz de São Jorge na gola das camisolas e, menos ainda, de retirar aquelas do mercado ou de aceitar devoluções da seleção inglesa.
A polémica em torno da cruz na gola dos equipamentos acabou por ofuscar uma ação possivelmente mais interessante e importante, que teve como base precisamente as camisolas dos jogadores ingleses. Foi na segunda parte de um jogo amigável em que Inglaterra e Bélgica se encontraram e que acabou empatado a dois golos que tudo aconteceu. Os jogadores da equipa inglesa subiram ao relvado para a segunda metade do desafio - mas as camisolas que vestiam não tinham, ao contrário do que é costume, o nome de cada um dos futebolistas escrito nas costas. Quando Jude Bellingham apontou o golo tardio da igualdade, já aos 5 minutos do tempo de compensação e pouco antes do apito final do árbitro, ninguém saberia o seu nome, não fosse o caso de o jovem Bellingham ser um futebolista famoso, que tem brilhando, além da seleção, também no Real Madrid. A ação da seleção inglesa, em conjunto com a Nike, pretendeu alertar para os primeiros sinais de demência, que passam pelo esquecimento das coisas mais básicas e simples - daí o apagamento do nome. Esta iniciativa não é nova: a seleção de Inglaterra já tinha protagonizado uma ação semelhante em 2022, em conjunto com associações de prevenção e acompanhamento da doença de Alzheimer. E é pena que esta iniciativa, que envolve equipamentos, tenha sido ofuscada pela infame cruz multicolor em que a Nike transformou a imaculada cruz vermelha de São Jorge.
Também a seleção de Portugal é equipada pela Nike. E a verdade é que nem sempre tem aparecido bem-vestida nos relvados a que sobe. A marca americana também tem brincado com o imaginário popular português, evocando símbolos da cultura nacional, como o azulejo, por exemplo. Os equipamentos propostos para o Euro 2024, porém, parecem ser bastante comuns e não apresentam grandes atrocidades nem atropelos àquilo que, em princípio, deve ser um equipamento de futebol - um jersey, uns calções e umas meias respeitando as cores e os padrões representativos de uma equipa -, mas não seria de espantar que, numa edição futura, a Nike propusesse um estampado com o Cristo Rei ou, quiçá, um padrão arrojado, com uns pontos mais claros e outros mais queimados, em homenagem ao cada vez mais omnipresente pastel de nata.
Segundo a imprensa portuguesa, contudo, não teremos a oportunidade de assistir, possivelmente com algum incómodo - e, conhecendo o Presidente da nossa República, muito provavelmente com a manifestação pública de algumas ilustres figuras de estado, a começar por um certo Professor -, a estampados evocativos das célebres caravelas quinhentistas nem à substituição das cinco quinas por outros símbolos de valor, como o nónio, por exemplo. E não vamos chegar tão longe porque a relação entre a Nike e a Federação Portuguesa de Futebol está no seu último estertor: a partir de janeiro de 2025, a seleção nacional de futebol irá ser equipada pela Puma.
A marca alemã é mais conhecida no mundo do futebol por vestir algumas das mais fortes seleções de futebol do continente africano, tais como Camarões, num passado recente, ou presentemente Costa do Marfim, Gana, Marrocos, Egito ou Senegal. Desde há alguns anos, a Puma tem feito parcerias com países europeus, vindo a conquistar seleções como a Áustria, a Suíça ou a República Checa. Em janeiro de 2023, perdeu a Itália, que deixou a Puma, trocando-a pela rival alemã Adidas - a Itália, que no passado fazia questão de vestir sobretudo marcas italianas, como Kappa ou Diadora. São outros tempos.
A ligação entre marcas e seleções chega a dominar eras inteiras, e é também por isso que os adeptos de futebol dão tanta importância a quem veste o quê - por isso e porque o futebol é muito mais do que "uma questão de vida ou morte": é também fait-divers, estilo, moda e, claro, comércio, entre muitas outras coisas. Uma ligação que vai muito além de tudo isso, porque é afetiva e cultural, histórica e patriótica, e que marca muito mais do que uma era futebolística, é aquela que existe entre a seleção da Alemanha e a Adidas, e que foi estabelecida ainda nos tempos da RFA - República Federal Alemã, em 1954, apenas 5 anos após a fundação da marca das três listas pelo visionário Adolf Dassler. Só que mesmo essa ligação tem os dias contados - não é força de expressão nem lugar-comum: o fim do contrato entre a Adidas e a DFB, a federação de futebol alemã, tem data definida.
Foi no fim de março que o anúncio oficial do rompimento das relações entre a seleção da Alemanha e a Adidas foi recebido com surpresa. Se havia no futebol uma relação estável era esta, entre a equipa nacional alemã e a mais emblemática marca desportiva germânica, que tem na sociedade um peso que não difere do que têm outras grandes marcas compatriotas, como a Mercedes ou a Volkswagen, e também um semelhante peso cultural e afetivo. Depois de 70 anos a equipar a seleção nacional, e tendo em conta o que a Adidas significa para a Alemanha, não era, de todo, esperado o anúncio do fim da ligação entre as partes.
Foi com o emblema da Adidas nos equipamentos que a seleção alemã se sagrou campeã do mundo, pela primeira vez e contra todas as expectativas (a potência futebolística reinante era, nessa época, a Hungria, finalista vencida por 2-3), na Suíça, em 1954, logo no ano de estreia da parceria. E foi com o mesmo símbolo nos jerseys nacionais que os alemães foram campeões do mundo mais três vezes - a última das quais em 2014, com a Alemanha já unificada. É, por isso, com espanto e algum pesar que o mundo do futebol assiste a esta mudança anunciada - especialmente, pela forma como foi anunciada. A DFB comunicou o fim da relação com a Adidas a partir de 2027 justificando-a com a "apresentação de condições financeiras mais vantajosas" por parte da Nike, a nova futura parceira - e, hoje em dia, a grande rival da Adidas a nível planetário. A Nike, marca americana que furou o mercado europeu depois de dar nas vistas a equipar equipas da NBA, especialista, portanto, em equipamentos de basquetebol, derrubou o último bastião das relações afetivas do universo futebolístico. Já não bastava aborrecerem os ingleses com a cruz de São Jorge.
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