Isto Lembra-me Uma História: a Seleção de Portugal voltou
Foi um jogo com uma boa vitória e pouca história, mas recheado de pequenos episódios que evocam várias memórias. Dos assobios às invasões de campo, deixou muito para recordar.

O Estádio da Luz encheu-se e iluminou-se para receber a Seleção Nacional de Futebol. Num período em que as férias das competições de clubes provocam nos adeptos mais assíduos uma sensação de vazio, é de saudar que aconteçam jogos das seleções, que, entre outros fatores positivos, têm o dom de alargar o grupo de pessoas que gostam de futebol até a pessoas que normalmente não gostam de futebol.
O jogo que opôs Portugal à Bósnia e Herzegovina contou para a 3.ª jornada da fase de grupos do apuramento para o Campeonato da Europa de 2024, que irá realizar-se na Alemanha dentro de sensivelmente um ano. Como se disputou o Mundial do Qatar a meio da época que ainda agora terminou, as competições parecem estar de certo modo encavalitadas umas em cima das outras, mas há também neste ponto aspetos positivos: de maneira a acelerar a fase de qualificação para a competição, uma vez que estamos a menos de um ano do seu início, este final de época tem este bónus para os fanáticos da bola, que assim se dão ao luxo de misturar santos populares e sardinhas assadas com jogos da equipa de Portugal.

O jogo de ontem, 17 de junho, que, em si, não teve grande história - Portugal venceu com facilidade, por 3-0, em mais uma etapa do que parece vir a ser um apuramento tão tranquilo quanto obrigatório (o grupo é declaradamente fácil, as equipas mais difíceis parecem ser a modesta Eslováquia e a própria Bósnia e Herzegovina, que, como ficou demonstrado, está longe de ter qualidade para fazer frente aos portugueses), dando continuidade e substância a um caminho que vai sendo traçado assim: 3 jogos, 3 vitórias, 13 golos marcados e nenhum sofrido -, dizia eu que o jogo não teve grande história, mas que mostrou capacidade para despertar reminiscências. Ou seja, lembrou-me não uma, mas várias histórias.

O tema do dia é, logicamente, os assobios a Otávio, o luso-brasileiro, naturalizado português ao longo da sua já muito longa carreira futebolística em Portugal, quase em exclusivo ao serviço do FC Porto. Se as razões que levaram os adeptos - corrijo: alguns adeptos, porque a maioria não tem culpa do que faz um grupo menor - a assobiá-lo são do foro clubista, então o clubismo do coro dos assobios deve claramente ser revisto. Em alternativa, e não havendo possibilidade de melhorar os clubismos, talvez seja de reconsiderar a ida a um jogo da Seleção numa próxima ocasião, uma vez que o que se apoia e defende ali é uma equipa que representa Portugal, e não este ou aquele clube. Já se os assobios tiveram origem em questões que diria ainda mais graves, como a origem brasileira de Otávio, então vale a pena levar a mão à consciência e pesar bem a xenofobia enraizada em cada um. Como se não bastasse, e se todos os argumentos racionais e civilizados não forem suficientes, pense-se em termos futebolísticos: Otávio terá feito mais jogos no campeonato nacional e ao serviço de equipas portuguesas do que a esmagadora maioria dos jogadores da Seleção Portuguesa. Já que não conseguem respeitá-lo pelo resto, respeitem-no ao menos por isso.
Como é evidente, o triste episódio em que Otávio foi visado lembra de imediato aquele outro não menos deprimente e embaraçoso, também durante esta fase de apuramento, em que João Mário foi assobiado em Alvalade. Não é preciso andar muito - são dois quilómetros e meio de distância entre um estádio e o outro -, nem recuar muito no tempo - aconteceu em março. Os motivos, no caso de João Mário, serão puramente clubistas. O jogador, presentemente ao serviço do Benfica, representou o Sporting durante várias épocas e depois mudou-se para a Luz. O que não justifica coisa nenhuma e que merece o mesmo comentário que mereceu o caso de Otávio. Parece haver uma espécie de moda em que se assobiam os jogadores que, de certa forma, causam incómodo ou estranheza às casas que os acolhem. É triste e não muito inteligente.
Mas houve episódios menos sérios e mais alegres no jogo que opôs portugueses a bósnios. Por exemplo, houve um adepto que entrou em campo e fintou os seguranças do recinto só para chegar junto do seu ídolo - bom, seu e de quase todos os presentes no Estádio da Luz -, Cristiano Ronaldo, para o abraçar e levantar no colo. As televisões evitaram, ou tentaram evitar, as imagens em direto, para não dar protagonismo aos 15 minutos (ou 15 segundos, talvez) de fama a que todos temos direito, mas que não devemos conquistar à custa de invasões de campo ilegítimas. A história lembrou-me várias outras que Cristiano, o capitão da Seleção Portuguesa de Futebol, foi colecionando ao longo da muito extensa carreira.

Sem esforçar muito a memória, há pelo menos quatro ocasiões anteriores em que adeptos fanáticos de Cristiano Ronaldo invadiram o campo só para o cumprimentarem ou abraçá-lo. Em 2013, no jogo da International Champions Cup, em que o Real Madrid venceu o Chelsea por 3-1 (Cristiano marcou dois golos dos madridistas), Ronaldo foi abraçado por adepto; em 2015, durante um desafio da Liga dos Campeões entre Paris Saint-Germain e Real Madrid, um adepto parisiense entrou no relvado para tocar no seu ídolo; em 2017, foi a vez de um sósia invadir la cancha, no decorrer de um jogo da Liga Espanhola entre Real Madrid e Getafe; por fim, em 2021, no final de um Portugal - Irlanda, foi a vez de uma menina subir ao relvado para ser saudada por Cristiano. Depois de uma vida inteira a dar banhos de bola, Cristiano Ronaldo continua a levar banhos de amor e carinho do público que o adora.

Por fim, é impossível olhar para a equipa inicial escalada por Roberto Martínez e não nos lembrarmos da história de Fernando Santos ao comando da Seleção Nacional. Tudo faz lembrar, do conservadorismo à sequência de primeiros resultados. Também nos primeiros tempos do Engenheiro Portugal vencia e convencia, até chegar ao Euro 2016, que será a nossa melhor e mais feliz memória enquanto coletivo transclubista, enquanto adeptos de uma equipa que representa a nação de Portugal. Depois, o conservadorismo de Fernando Santos acabou por dar os frutos mais ou menos esperados: de tanto conservar, tornou-se aborrecido e os empates do selecionador acabaram por se transformar em piada, primeiro, e em realidade inevitável, logo a seguir. Esperemos que com Martínez não suceda o mesmo e que a fúria goleadora e vencedora perdurem por muito tempo.
Quanto a Fernando Santos, agora selecionador da Polónia, já começa a deixar a sua marca na nova equipa. Há uns dias, num particular contra a poderosa Alemanha, conseguiu ganhar o jogo - por 1-0, numa partida em que teve 24% de posse de bola, contra 76% dos alemães, e em que os polacos fizeram dois remates (um deles à baliza, o do golo) contra 26 dos alemães (nove deles à baliza). Há coisas que não mudam.
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