Viver

(Des)Amor em tempos de coronavírus

Se uma rotina incomoda muitos casais, uma rotina confinada às quatro paredes de casa pode incomodar muito mais. Principalmente se a separação já era uma ideia que vinha de trás. A MUST, em conversa com uma terapeuta de casal, deixa alguns conselhos para que este período de confinamento não se torne num verdadeiro pesadelo.

O Amor Custa Caro (2003)
O Amor Custa Caro (2003) Foto: IMDb
24 de abril de 2020 | Pureza Fleming

"Honey I’m home!" é aquela frase que ao, longo dos últimos tempos, não se ouve em casa nenhuma de família espalhada por esse mundo fora — salvo raras excepções em que um dos membros, por alguma razão, ainda tem de ir trabalhar. Em pleno período de confinamento ou até de quarentena, por motivos de Covid-19, tantos os "honeys" como as "honeys" estão, permanentemente, em casa. Deixou de haver aquelas oito horas de distanciamento (pelo menos) entre o casal. Aquele intervalo — que é basicamente o dia todo —, em que cada um tem a sua vidas: os seus trabalhos, os seus almoços com os amigos, as suas atividades… longe um do outro.

E se se costuma dizer que a rotina pode dar cabo de muitas relações, o que dizer de uma que obriga as pessoas a estarem confinados ao mesmo espaço físico, 24/7? A vida não é um Big Brother, mas o que este tipo de programa nos mostrou é que não é nada incomum que as pessoas se irritem (para não dizer mais) quando ficam presas num só lugar por um período prolongado. O distanciamento social em conjunto, imposto pela covid-19, não é um modelo confiável para aquele que seria um ideal de se viver junto e, portanto, não significa necessariamente que perante o possível e provável desespero, o casal coloque de imediato a hipótese de separação em cima da mesa. "Estar com alguém 24 horas por dia, sete dias por semana pode, sem dúvida, trazer à superfície o pior, até mesmo nos melhores relacionamentos… E terminar um relacionamento durante uma crise ou sob pressão pode, não só aumentar o stress geral, como também ser injusto para o casal", explica a terapeuta de casal Lesli Doares ao site Bustle. "É fulcral conseguir separar o que é realmente um problema do que é apenas uma consequência do casal passar muito tempo junto", remata.

A terapeuta de casal Catarina Mexia sublinha esta ideia: "Há uma regra a reter nesta altura que é a de não se tomar decisões importantes numa altura de crise! Esta é uma situação profundamente stressante, que tem um grande potencial para gerar e agravar situações de conflito. Se a separação já era algo que considerava, aproveite este tempo para fazer um diário em que registe como está a ser o seu dia-a-dia, as emoções que experimenta, como está no processo, os seus desejos e as suas esperanças, o que é que você não quer que aconteça e o que é que você acha que seria a sua vida após um divórcio. Este exercício va ajudá-lo a manter as suas emoções sob controle e a permitir um sentimento de esperança no futuro".

De facto, enfrentar uma relação "complicada" na área claustrofóbica que se pode tornar a própria casa não é uma tarefa fácil de se lidar e muito menos de se digerir. Catarina Mexia confirma: "Dificilmente se lida com uma situação destas…" E deixa alguns conselhos que visam ajudar um casal em apuros: "É importante que se procure organizar as tarefas domésticas e os deveres parentais separadamente de tal modo que cada um possa ter um tempo de pausa e não coincidam nas mesmas. Esta situação diminui a probabilidade de conflito e protege as crianças da exposição ao mesmo. É igualmente essencial que cada um cuide de si mesmo. Que encontre maneiras de se conectar com os amigos por telefone. Que tire um tempo para desacelerar e para respirar". Aquela terapeuta sublinha que, em casos extremos, é essencial que se procure a ajuda de um profissional, não só na área da saúde mental, mas também da mediação familiar: "Tal pode ajudar a que se faça uma melhor gestão das emoções e confere ainda uma maior capacidade de resistência à frustração de se lidar com uma situação de confinamento com um parceiro que já não é a nossa escolha", refere.

Por outro lado, aquela terapeuta sugere que se aproveite estes dias para se fazer um levantamento das necessidades e das obrigações financeiras e que se estruture, dentro da incerteza característica desta situação, o orçamento pós separação: "Não só ajuda o futuro ex-casal a estar preparado para a situação que se avizinha, como permitirá falar-se com o parceiro sobre as necessidades de uma forma mais organizada e, como tal, menos emocional". Colocar-se a relação em causa, numa época em que o stress e a ansiedade conseguem levar a sua avante, não é de estranhar. Contudo, se não questionava o seu casamento antes do confinamento ordenado pela crise do coronavírus, dê-se um desconto — e outro ao seu parceiro. Em última instância veja as coisas pelo lado positivo: é que se, enquanto casal, você e o seu parceiro conseguirem ultrapassar este momento, conseguirão certamente lidar com tudo o que a vida vos trouxer, mesmo que de forma tão violenta e inesperada como aquela que atravessam agora.

Saiba mais casal, Coronavírus, rotina, isolamento, separação, casa, terapia, tempo, conversar
Relacionadas

Sexo casual é bom e recomenda-se?

Vergonhoso e sem importância, é com esta fama às costas que tem vivido o termo (e a prática) referente a sexo ‘casual’. No geral, são vários os motivos apontados. Em particular e visto à lupa, esta escolha parece não representar nada de errado. Formalismos à parte, é claro.

E viveram felizes para sempre, cada um na sua casa

Living Apart Together (LAT) foi o termo dado pelos sociólogos aos casais, cada vez mais numerosos, que optam por viver separados. E se existem vantagens numa escolha destas, há também, tal como em tudo o que envolve o Amor, um rol de valores que devem ser cumpridos e acarinhados.

Como manter a chama durante o confinamento

Como aproveitar as horas em casa para ter o melhor sexo da sua vida! Ou pelo menos continuar a ter sorte, o que é seguramente melhor do que rever todas as temporadas da Guerra dos Tronos.

Como a pandemia fez crescer o adultério

Flirtar através de sms, andar “à caça” nos sites de encontros, entusiasmar-se online… Sem que se passe verdadeiramente ao ato, engana-se o tédio ou testam-se os limites de um casal, e abre-se uma janela para os desejos mais profundos.

Mais Lidas