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“Apanhar um jato privado será tão normal como conduzir”

A pandemia do novo coronavírus promete trazer novos passageiros, muitos deles com vontade de evitar o risco do contágio.

O interior do Bombardier Global 7500
O interior do Bombardier Global 7500 Foto: Bridget Bennett/Bloomberg
09 de junho de 2020 | Bloomberg

O negócio da aviação privada está a melhorar mais rapidamente dos efeitos da pandemia do novo coronavírus do que aconteceu após a recessão de 2008, um golpe do qual nunca recuperou totalmente.

A perspetiva de uma recuperação em forma de V para o setor dos jatos privados é sustentada por uma pequena base de clientes que permaneceram fiéis ao longo de uma década de redução de custos corporativos. Operadores e fabricantes de aviões particulares esperam ganhar novos clientes que precisem de uma alternativa às rotas comerciais reduzidas e desejem evitar riscos maiores de contrair o vírus em aeroportos e aviões lotados.

O impacto da atual desaceleração económica foi limitado por uma forte onda de pedidos de voos particulares em fevereiro e início de março, quando muitas pessoas tiveram de preparar os confinamentos provocados pela Covid-19 no melhor local possível. Agora, o setor parece recuperar mais rápido do que as companhias aéreas comerciais, à medida que as empresas começam a reabrir, disse Mike Silvestro, diretor executivo da Flexjet, que fornece serviços de voos com uma frota de 160 jatos privados.

Esta crise "é completamente oposta ao que vimos no passado", diz Silvestro. A aviação privada está pronta para a recuperação devido às suas próprias características ao oferecer um ambiente mais seguro, mais familiar e mais limpo, descreve.

Os números iniciais são animadores. A expectativa é de uma diminuição de 27% neste mês em relação ao mesmo período do ano anterior e de recuperação aos níveis pré-vírus no prazo de um ano, acrescenta Travis Kuhn, vice-presidente de market intelligence da Argus International, que fornece dados de aviação. Isso ocorre depois das diminuições de 72% em abril e 49% em maio no setor.

Enquanto isso, o número de passageiros de companhias aéreas comerciais desceu  a pique: 90% em maio, segundo a Transportation Safety Administration. As operadoras já estão a alertar os investidores de que a procura pode demorar anos para retornar aos níveis pré-vírus. As companhias aéreas estão a diminuir para sobreviver, o que significa menos voos e menos opções para os viajantes.

Os jatos privados são vistos na aviação como o equivalente a conduzir um carro pessoal, em vez de apanhar um autocarro. Isso fornece um fator de segurança que pode tornar-se um ponto-chave de vendas, de acordo com Eric Martel, CEO da Bombardier.

"Essa é uma reflexão que estamos a fazer, se a Covid-19 trará claramente novas necessidades", disse Martel em maio. Os jatos privados tornaram-se provavelmente uma solução mais segura do que os aviões comerciais, explica.

As viagens aéreas privadas, que foram ao fundo do poço durante a última recessão em 2009, nunca recuperaram os níveis de expansão de 2007. Isso foi pior para os fabricantes. As entregas anuais de novos jatos particulares caíram ao longo de cinco anos, de um pico de mais de 1.300 em 2008. No ano passado, um dos melhores anos desde a crise financeira, a indústria entregou 809 jatos, de acordo com a General Aviation Manufacturers Association.

Perspetivas

Em 2020, estima-se que as entregas de novos aviões tenham uma redução de 30% ou mais em relação ao ano passado. Fabricantes do setor, incluindo a Gulfstream, da General Dynamics, e Cessna, da Textron, diminuíram a produção. A unidade de jatos privados da Bombardier está a cortar cerca de 4% de sua força de trabalho, de quase 60.000 funcionários. A NetJets, uma operadora de jatos privados propriedade da Berkshire Hathaway, cancelou pedidos e a Flexjet adiou a aquisição de novos aviões.

A contração brutal do setor na última recessão deixou um núcleo fiel de clientes que vai ancorar uma recuperação, dizem especialistas do mercado. Essa base deverá ser reforçada pela chegada de novos clientes, que vão trocar a aviação comercial pela privada. "Você verá também novos compradores de jatos", disse Neil Book, diretor executivo da Jet Support Services, que possui contratos de manutenção para cerca de 2.000 aviões particulares.

 

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