Não é segredo para ninguém que os multi-milionários estão a gastar mais dinheiro em experiências de luxo e menos em objetos de luxo. A tendência parece ter começado com as gerações mais novas, em particular os Millennials e os Gen Z, que, aos poucos, têm vindo a contagiar os seus pais, tios e avós. Disso mesmo nos dá conta, esta semana, o jornal britânico The Economist (sim, parece uma revista, mas eles auto-intitulam-se newspaper e quem somos nós para discordar?), dizendo que se antes os ultra-ricos “gastavam o seu dinheiro em aviões privados, vinhos e relógios, agora preferem hotéis, restaurantes e eventos desportivos”. O jornal britânico fez as contas e concluiu que “os preços dos bens ultra-luxuosos estão a cair desde 2023, enquanto o preço das experiências ultra-luxuosas subiu 90% desde 2019”. Um cenário que ilustra com os seguintes exemplos: “Um bilhete para o Super Bowl custa o dobro do que custava há uns anos, também o bilhete para a MET Gala duplicou face ao preço de 2019.”
Por que razão é que isto aconteceu? O jornal avança uma explicação: exclusividade. Por um lado, houve uma enorme difusão e globalização do mercado dos bens de luxo e, com a melhoria dos níveis de vida, cada vez mais pessoas conseguem adquirir uma carteira Chanel, por exemplo, mesmo que em segunda-mão. E esse é outro aspecto da questão: se é inegável que qualquer pessoa pode revender um relógio de coleção ou um vinho raro, o mesmo não se pode dizer de uma experiência, que é e será sempre da pessoa que a viveu.
Quem está de olhos bem abertos e pregados nestas novas tendências de consumo são as companhias aéreas, afinal, se há menos dinheiro gasto em aviões privados, terá de haver, certamente, mais dinheiro gasto em voos comerciais. Como é que se atrai este cliente ultra-rico? Isso é simples: com experiências ultra-luxuosas. Um bom exemplo é o caso da Air France com as suas novas suites La Première, onde cada passageiro tem direito a um espaço inteiramente privado, com cinco janelas, com um reposteiro opaco, do tecto até ao chão, que garante isolamento acústico e luminoso, e total intimidade. A suíte conta ainda com dois ecrãs de entretenimento, um cadeirão de braços e uma chaise-longue que se transforma numa cama com dois metros de comprimento – espaço para pernas do mais amplo que há.
Esta experiência de primeira classe, conforme reportou, recentemente, uma jornalista da revista Forbes norte-americana que teve oportunidade de a sentir na primeira pessoa, num voo entre Chicago e Paris, começa muito antes de entrar na suíte privada e prolonga-se até sair do aeroporto: “Um concierge pessoal acompanha os passageiros em todas as etapas da viagem, com transferes pela pista em SUV Porsche no aeroporto Paris–Charles de Gaulle, tratamentos faciais de 30 minutos no lounge e os trâmites de imigração tratados em seu nome.”
Isto, claro, sem esquecer a experiência gastronómica, que, no caso de La Première, está a cargo da chef Dominique Crenn, que obteve três estrelas Michelin no seu restaurante Atelier Crenn, em São Francisco, nos Estados Unidos, e do chef Daniel Boulud, que detém uma estrela Michelin no seu restaurante Daniel, em Nova Iorque, para além de ser dono de vários outros restaurantes nos Estados Unidos, Canadá, Singapura, Bahamas e Dubai. E o melhor de tudo? Pode usufruir da sua experiência gourmet envergando um confortável pijama de algodão da Jacquemus.
À semelhança da Air France, também a Lufthansa lançou a Allegris, a sua nova versão de primeira classe ultra-exclusiva, para a sua frota de Airbus A350-900s baseada em Munique. Uma decisão seguida também pela Japan Airlines que também fez um upgrade à sua first class, cuja suíte apresenta uma porta com 1,57 metros de altura que se abre para uma área privada ampla e com 100% mais espaço do que a geração anterior. Outras companhias aéreas, como a Singapore Airlines, a British Airways, a Cathay Pacific e a Qantas, já anunciaram que estão também a criar versões mais glamorosas e exclusivas das suas primeiras classes.
Agora, a pergunta mais importante: os viajantes portugueses podem usufruir deste tipo de experiências aéreas ultra-luxuosas? Podem, mas não na TAP, que não tem primeira classe, operando apenas com a business class como padrão mais elevado. Emirates, porém, oferece voos com primeira classe a partir de Lisboa para destinos como Dubai, entre muitos outros no seu extenso mapa de rotas intercontinentais, incluindo Ásia e Oceania, América e África. Outra opção é a Qatar Airways, que opera voos a partir de Lisboa, no entanto, o seu produto first class só está disponível a partir de Doha, ou seja, é preciso fazer escala para chegar à primeira classe da Qatar.
Já companhias europeias como Lufthansa e Swiss, que operam de e para Lisboa, oferecem first class nas suas rotas de longo curso, mas não diretamente de Lisboa, sendo preciso voar para um hub como Frankfurt ou Zurique e só aí será possível embarcar num avião com serviço de primeira classe, nomeadamente, a Allegris, da Lufthansa. Aliás, a Lufthansa tem lounges e até um First Class Terminal em Frankfurt, tornando a experiência ainda mais exclusiva, assim que se põe o pé no aeroporto. Obrigado por voar connosco nunca soou tão literal.