Laos, a face serena do sudeste asiático
Entre montanhas cobertas de floresta e o lento curso do Mekong, o Laos preserva uma autenticidade rara na região. Mantém um ritmo próprio e uma identidade que resiste ao tempo, sem se render ao turismo de massas.
As estradas melhoraram, os comboios ligam agora o norte ao sul, mas a serenidade dos mosteiros, o verde dos arrozais e o sorriso dos habitantes continuam a ser o que melhor define o país. Viajar pelo Laos é descobrir um destino que permanece fiel à sua essência: espiritual, tranquilo e profundamente ligado à natureza. Da região das Quatro Mil Ilhas, no extremo sul, até Luang Prabang, a joia do norte, a viagem desenha-se numa sucessão de paisagens que de imediato se transformam em memórias que ficam para sempre. Num percurso através de um país onde o passado recente da guerra contrasta com a harmonia do presente, e cada pôr-do-sol tem a lentidão própria de quem não tem pressa em partir.
Don Det – A região das quatro mil ilhas
No extremo sul do Laos, o Mekong fragmenta-se em milhares de pequenos ilhéus e bancos de areia, formando o arquipélago fluvial de Si Phan Don, conhecido localmente como “as Quatro Mil Ilhas”. Entre eles, Don Det é um dos destinos mais procurados por viajantes solitários em busca de tranquilidade e de um contacto mais direto com a natureza. A lenta travessia de barco até à ilha, sobretudo ao entardecer, oferece uma das imagens mais marcantes do país, com as aldeias suspensas nas margens e a luz dourada do sol a espalhar-se sobre o rio.
A ilha é pequena, atravessada por um único caminho principal onde se alinham cafés, alojamentos rústicos e terraços virados para o Mekong. O ambiente é descontraído, pontuado por risos, música ao vivo e a hospitalidade local. Um dos espaços mais improváveis e obrigatórios de Don Det é o OuSa Library House, bar e sala de concertos improvisada, onde uma banda residente anima as noites tropicais e onde a proprietária, também vocalista, é figura de culto entre viajantes e habitantes, interpretando clássicos de Amy Winehouse ou Adele.
Durante o dia, quando o ritmo abranda, Don Det assume-se como o ponto de partida perfeito para explorar a região, de preferência de caiaque, o meio ideal para navegar entre as ilhas, parando em pequenas praias fluviais e caminhando por aldeias onde o arroz cresce em campos verdes que parecem não ter fim. O percurso até à vizinha Don Khone é o mais popular. Depois de deixar os caiaques junto à aldeia principal, um trilho conduz entre arrozais até à cascata de Khonpasoi, cuja força contrasta com a serenidade envolvente e onde a água forma pequenas piscinas que obrigam a um mergulho.
Mais a jusante, o rio exibe outra das suas grandes maravilhas: a cascata de Khon Phapheng, a maior do Sudeste Asiático em extensão, com quase dez quilómetros de comprimento. É um espetáculo natural impressionante, com o Mekong a despenhar-se em múltiplos níveis de espuma e ruído. No regresso a Don Det, repete-se o espetáculo do dia anterior, com o entardecer a cobrir o Mekong de tons laranja e púrpura, num cenário que consegue resumir a essência do Laos a uma só imagem.
Planalto de Bolaven – por entre cascatas e plantações de café
A norte de Champasak, o planalto de Bolaven ergue-se como uma vastidão verdejante, pontuada por plantações de café e aldeias das minorias étnicas Laven, Alak, Katu, Taoy e Suay. Situado a mais de mil metros de altitude, o planalto beneficia de um clima mais fresco e de solos vulcânicos férteis, razão pela qual se tornou o coração agrícola do sul do país. Durante a colonização francesa, foi aqui que os colonos introduziram o cultivo do café de espécie arábica e robusta, tradição que perdura e deu origem a um dos produtos mais reconhecidos do Laos.
A paisagem é dominada por quedas de água impressionantes. Entre elas, a Tad Yuang destaca-se não só pela imponência como fácil acesso, o que a torna numa das mais visitadas. As águas caem de cerca de 40 metros de altura, envoltas numa névoa constante que refresca o ar e cobre as folhas tropicais com pequenas gotas. Um passadiço permite descer até à base, onde o som da cascata se transforma num eco permanente.
Ao longo das estradas do planalto multiplicam-se cafés e cooperativas agrícolas que abrem as portas aos visitantes. Em alguns, é possível observar o processo completo, desde a colheita e secagem até à torra, incluindo, claro, a prova do café. Um dos espaços mais curiosos é o CC 1971 Café, instalado nas ruínas de uma antiga central elétrica bombardeada pelos americanos durante a Guerra do Vietname. O edifício mantém cicatrizes visíveis do conflito e acolhe hoje um café-museu que recorda esse passado, através de fotografias, objetos recuperados e muitos projéteis e estilhaços de bombas. O contraste entre o aroma do café acabado de fazer e o peso histórico do lugar traduz a dualidade do Bolaven, enquanto território outrora ferido de morte pela guerra, mas hoje profundamente ligado à vida.
Vang Vieng – montanhas com vista para o "rio canção"
Mais a norte, o cenário altera-se por completo. Outrora quase sinónimo de festas e animação noite fora, Vang Vieng tornou-se um destino de eleição para os adeptos de turismo de natureza, aproveitando o cenário único desenhado por caprichosas montanhas de calcário, com vistas panorâmicas para o serpenteante rio Nam Song – cujo nome significa “rio canção”. De manhã, quando nevoeiro noturno que habitualmente cobre os campos se começa a dissipar, as formações rochosas surgem em todo o seu esplendor, surpreendendo os visitantes e continuando a maravilhar os habitantes locais “tal como se fosse a primeira vez”, como afirma, sorridente, um pescador local, junto à tradicional embarcação em bambu.
Os arredores, mais uma vez, convidam à exploração: das populares piscinas naturais das Blue Lagoon 1 e 2, onde as águas azul-turquesa convidam a um refrescante mergulho, à Poukham Cave, a caverna natural que guarda uma estátua dourada de Buda no seu interior, há muito para ver e fazer. Junto à Blue Lagoon 1, um dos pontos de paragem obrigatória é o Sae Lao Family Restaurant, que integra o Sae Lao Project, uma ONG local que promove a alfabetização e o ensino de inglês às crianças das aldeias vizinhas, com o apoio de voluntários internacionais. Cada refeição aqui ganha portanto um significado adicional, já que as receitas do restaurante servem para financiar o projeto, reforçando assim o elo entre visitantes e comunidade, num exemplo a seguir de turismo regenerador que já se tornou, também ele, um dos símbolos de Vang Vieng.
Ao final da tarde, o esforço necessário para vencer a desafiante subida até ao miradouro Nam Xay, situado no topo do monte com o mesmo nome, é recompensado com uma das vistas mais impressionantes de todo o Laos, com o rio Nam Song a desenhar curvas suaves entre o vale, refletindo o pôr-do-sol alaranjado. Entretanto, ao escurecer, Vang Vieng ganha nova vida, com as esplanadas e bares a encherem-se de viajantes e locais, que prolongam a animação noite adentro.
Luang Prabang – coração espiritual do Laos
Luang Prabang está ligada ao resto do país por uma linha férrea moderna e surge assim como o destino final natural de quem atravessa o país de sul para norte. Classificada como Património Mundial da UNESCO, a antiga capital real é considerada a alma espiritual do Laos. Fica situada na confluência dos rios Mekong e Nam Khan, mantendo um encanto muito singular, combinando o charme dos chalets coloniais com as dezenas de templos budistas centenários aqui existentes (entre os quais se destaca o Wat Xieng Thong, símbolo máximo da arquitetura laosiana, construído no século XVI e conhecido pelos mosaicos reluzentes e telhados curvos), quase todos ainda habitados pelos populares monges vestidos com túnicas cor de açafrão.
São eles os protagonistas de um ritual de devoção e respeito que se repete todos os dias, perto do nascer do sol – o da esmola, quando centenas de monges descalços percorrem a cidade para recolher arroz e fruta oferecidos pela população.
Também durante a manhã, o mercado matinal exibe a diversidade do país – legumes de cores vivas, especiarias vibrantes, artesanato único e exóticas iguarias regionais, que incluem variadas larvas e lagartas. A parte da tarde fica reservada para uma incursão às cascatas de Kuang Si, que, poucos quilómetros a norte da cidade, oferecem um refúgio natural de rara beleza, com sucessivas cascatas e piscinas naturais de águas azul-esverdeadas, perfeitas para mergulhos.
No regresso à cidade, vale a pena subir os 328 degraus do Monte Phu Si, que domina Luang Prabang e proporciona uma vista panorâmica sobre os dois rios. Ao entardecer, o cântico dos monges no templo Vat Sop ecoa colina acima, criando um ambiente de serenidade quase hipnótico, que volta a sintetizar o Laos num simples momento, como um lugar onde cada som e cada gesto convidam a abrandar, através de uma espiritualidade discreta e hospitalidade sem artifícios.
Informações úteis
Capital: Vientiane
Moeda: Kip laosiano (LAK)
Equivalência: 1 euro = 23.000 LAK
Língua: Laosiano
Religião predominante: Budismo
Como chegar: Não existem voos diretos de Portugal. As principais ligações fazem-se via Banguecoque (Tailândia), Hanói (Vietname) ou Phnom Penh (Camboja), com chegada a Vientiane ou Luang Prabang. No interior do país, o comboio de alta velocidade liga, atualmente, Vientiane a Luang Prabang em cerca de duas horas.
Quando ir: A melhor altura para visitar o Laos é entre novembro e fevereiro, quando o clima é seco e as temperaturas mais amenas. De maio a outubro, a época das chuvas transforma o Mekong e as cascatas em espetáculos naturais, mas o calor e a humidade são mais intensos.
Vistos: Obrigatório para cidadãos portugueses. Pode ser obtido à chegada (visa on arrival) nos principais aeroportos e fronteiras terrestres, ou online (eVisa). Tem validade de 30 dias.
Saúde e segurança: Não são exigidas vacinas obrigatórias, mas recomenda-se proteção contra mosquitos e cuidados com a água potável. O Laos é considerado um país seguro e acolhedor.
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