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Citroën CX, mais um cinquentão

Há precisamente 50 anos, o Salão Automóvel de Paris abria portas com várias novidades mundiais. Uma delas era o Citroën CX, o substituto do mítico DS.

Foto: DR
20 de setembro de 2024 | Luís Merca

Cronologia

O ano da Graça do Senhor de 2024 está a revelar-se rico em efemérides redondinhas. Há 50 anos, e apesar do choque petrolífero do ano anterior, vários construtores aproveitaram o Salão de Paris para apresentar novos modelos. Um deles foi este: o Citroën CX. Chamado para suceder ao Citroën DS, um dos modelos mais icónicos da história do Automóvel, o CX apresentava-se como uma berlina longa e elegante, com um design que, à época, era avançado, futurista até. A verdade é que, de lá para cá, a identidade estilística da Citroën não mais seria repetida. Nem imitada.

A descida gradual desde o tejadilho até à traseira era bruscamente interrompida por uma superfície quase na vertical o que beneficiava o fluxo de ar e reduzia o coeficiente de arrasto.
A descida gradual desde o tejadilho até à traseira era bruscamente interrompida por uma superfície quase na vertical o que beneficiava o fluxo de ar e reduzia o coeficiente de arrasto. Foto: DR

Porquê CX?

O nome CX aludia ao coeficiente de arrasto: "C" de coeficiente e "x" de abcissa, ou eixo-x, neste caso a longitudinal da carroçaria. E o Cx do CX, passe a redundância, era bastante bom: 0.36, um valor que ainda hoje revela uma boa penetração aerodinâmica. Dois elementos curiosos no desenho da carroçaria: a descida gradual desde o tejadilho até à traseira era bruscamente interrompida por uma superfície quase na vertical – chama-se a isto um ‘Kammback’, ou ‘traseira-K’ – o que beneficiava o fluxo de ar e reduzia o referido Cx, o tal coeficiente de arrasto. A outra particularidade do design era o facto de o vidro traseiro ser côncavo, o que permitia o escoamento da água sem necessidade de recorrer a uma escova limpa-vidros.

Longo de 4.67m e largo (1.73m), o CX destacava-se na paisagem automóvel, dominada por modelos de menores dimensões.
Longo de 4.67m e largo (1.73m), o CX destacava-se na paisagem automóvel, dominada por modelos de menores dimensões. Foto: DR

Especificações

Longo de 4.67m e largo (1.73m), o CX destacava-se na paisagem automóvel, dominada por modelos de menores dimensões. A baixa altura da carroçaria (1.36m) conferia-lhe um aspecto bastante elegante. Em termos de motorizações, a versão base recebia um quatro-cilindros 2-litros a gasolina, com carburador, cuja potência de 102 cavalos era manifestamente insuficiente para o tamanho e para o peso do veículo (1265 kg em vazio). Esta situação seria colmatada com a introdução da injeção e a subida da cilindrada para os 2200, 2300, 2400 e, finalmente, 2500 cm3. No seu fim de vida, o CX receberia um 2.5-litros turbocomprimido, que desenvolvia 168 cavalos e permitia atingir os 220 km/h de velocidade máxima. Antes, logo em finais de 1975, a oferta de motorizações a gasóleo viria a dotar a gama CX de mais argumentos para combater a concorrência.

O design do interior era uma continuação do exterior: ‘tablier’ futurista , ausência de manetes de piscas, luzes e limpa-vidros – substituídas por comandos colocados no volante.
O design do interior era uma continuação do exterior: ‘tablier’ futurista , ausência de manetes de piscas, luzes e limpa-vidros – substituídas por comandos colocados no volante. Foto: DR

A nível geral, a tecnologia presente a bordo do CX era bastante avançada para a época, com especial destaque para a suspensão hidro-pneumática, que lhe conferia um pisar de estrada sem igual (à exceção do Rolls-Royce Silver Shadow, que usava sob licença o sistema da Citroën), e permitia um auto-nivelamento da carroçaria. O conforto em andamento era digno de um tapete rolante (‘carpet ride’, a Rolls ainda agora usa a terminologia) e os cinco adultos a bordo viajavam numa verdadeira cápsula de espaço e de luxo. Por falar nisso, o design do interior era uma continuação do exterior: ‘tablier’ futurista (dir-se-ia mesmo que provinha de uma nave espacial), ausência de manetes de piscas, luzes e limpa-vidros – substituídas por comandos colocados junto ao volante, não havendo necessidade de o condutor retirar as mãos dele (do volante) para executar essas funções. Volante que era de apenas um raio e que se manobrava com extrema facilidade, ajudado por uma das primeiras direções assistidas ativas, em que a assistência variava consoante a velocidade. Do ponto de vista tecnológico, o CX foi um digno sucessor do inovador DS e do raríssimo SM. E não apenas à época, já que ao longo da sua vida útil viria a beneficiar de atualizações e de inovações que são, hoje, normas da indústria.

A fábrica Aulnay era das mais modernas na altura.
A fábrica Aulnay era das mais modernas na altura. Foto: DR

Estatísticas

No ano seguinte ao seu lançamento, o Citroën CX era eleito Carro do Ano 1975. Escolhido como viatura oficial do Palácio do Eliseu durante os mandatos de ‘Messieurs les Présidents’ Giscard d’Estaing e Jacques Chirac, viria a ultrapassar o milhão de unidades fabricadas em Aulnay, uma fábrica que era, então, uma das mais modernas do mundo: ao todo, a Citroën produziu 913.375 berlinas CX (incluindo 29.380 versões de distância entre eixos longa)  e 129.085 breaks – a versão carrinha constituiu, aliás, um dos grandes sucessos deste modelo.

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